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Turquia inicia julgamento de supostos líderes de golpe de Estado

Nas proximidades do tribunal muitos policiais foram mobilizados, assim como veículos blindados, um drone e franco-atiradores

Agência France-Presse
postado em 22/05/2017 09:18
Sincan, Turquia - O julgamento de mais de 200 supostos líderes do golpe de Estado frustrado de 15 de julho do ano passado começou nesta segunda-feira em Ancara, tendo como principal suspeito o pregador islamita exilado nos Estados Unidos Fethullah Gülen. Entre as 221 pessoas julgadas estão 26 generais e 12 civis. No total, 200 estão em detenção provisória, nove em liberdade sob controle judicial e 12 são consideradas foragidas, informou a agência governamental Anadolu.


As acusações incluem "violação da Constituição, assassinato de 250 pessoas e pertencer e dirigir uma organização terrorista", entre outras. O julgamento acontece na prisão de Sincan, região de Ancara, onde foi construída uma grande sala de audiências para o processo gigantesco. Nas proximidades do tribunal muitos policiais foram mobilizados, assim como veículos blindados, um drone e franco-atiradores.

Na sala de audiências, os acusados permaneceram cercados por policiais e militares. Apenas cinco dos nove acusados que são julgados em liberdade estavam na audiência, que foi suspensa até a chegada dos quatro que faltavam, prevista para o início da tarde. Um juiz lerá então as acusações contra os réus.

O ex-comandante das Força Aérea Akin Ozturk, um dos acusados mais conhecidos, deve falar à tarde. Outros acusados conhecidos são o ex-general Mehmet Disli, irmão de um deputado do partido governista AKP, e o coronel Ali Yazici, ex-assessor do presidente Recep Tayyip Erdogan.

A leitura dos nomes dos acusados foi interrompida diversas vezes por gritos do público. Algumas pessoas exibiam fotos dos parentes mortos na noite de 15 de julho. Uma mulher, que não parava da gritar "traidores", desmaiou e recebeu atendimento médico. Na chegada ao tribunal, escoltados pelas forças de segurança, os réus foram vaiados por dezenas de manifestantes que pediam a pena de morte.

A pena capital foi abolida em 2004, uma das exigências da União Europeia para aceitar a adesão da Turquia, país candidato, ao bloco. Mas desde a tentativa de golpe, Erdogan afirmou em várias oportunidades que estava disposto a restabelecer a pena de morte e mencionou a possibilidade de um referendo sobre o tema.

A tentativa de golpe de Estado de julho do ano passado deixou quase 250 mortos, sem contar os supostos golpistas, e milhares de feridos. Ancara acusa o pregador Fethullah Gülen de ser o idealizador do golpe e pede a Washington sua extradição.

Fethullah Gülen, um ex-aliado do presidente turco que se tornou seu inimigo, nega envolvimento com o golpe. De acordo com a acusação, mais de 8.000 militares participaram na tentativa golpista. Utilizaram 35 aviões de guerra, 37 helicópteros, 74 tanques, 246 veículos blindados e quase 4.000 armas leves, informou a Anadolu.

Os processos judiciais, amparados pelo estado de emergência instaurado após o golpe, não têm precedentes na Turquia. Mais de 47.000 pessoas foram detidas nos expurgos desde 15 de julho. A grande sala de audiência de Sincan recebeu em fevereiro o julgamento de 330 supostos golpistas.

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