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Cabul em choque após pior atentado em mais de uma década

O ataque ainda não foi reivindicado, e a maior parte das vítimas e dos cidadãos se questionam sobre como o governo não conseguiu impedir um atentado de tamanha magnitude em pleno centro de Cabul

Agência France-Presse
postado em 01/06/2017 08:38
O ataque aconteceu durante o Ramadã e demonstra a capacidade dos rebeldes de atentar em um dos distritos considerados mais seguros de Cabul
Cabul, Afeganistão - Cabul permanecia nesta quinta-feira em estado de choque depois de sofrer o seu pior atentado desde 2001, que deixou 90 mortos e centenas de feridos, e desatou a ira dos afegãos diante da incapacidade do governo de protegê-los. Os habitantes começaram a enterrar os seus mortos, enquanto as autoridades limpavam os escombros no local do atentado de quarta-feira, provocado pela detonação de um caminhão-pipa cheio de explosivos e que deixou uma enorme cratera.


A maior parte das vítimas do ataque, que ainda não foi reivindicado, é de civis, e muitos cidadãos questionam o motivo pelo qual o governo foi incapaz de evitar uma explosão de tamanha magnitude em pleno centro de Cabul. "Por quanto tempo teremos que tolerar este banho de sangue em nosso país?", disse um morador, soluçando, à emissora local Tolo News. "Perdi meu irmão na explosão e o governo fracassa constantemente em nos proteger", acrescentou.

O ataque aconteceu durante o Ramadã e demonstra a capacidade dos rebeldes de atentar em um dos distritos considerados mais seguros de Cabul, onde fica o palácio presidencial e várias embaixadas estrangeiras, protegidos com muros de concreto. Nesta quinta-feira, as autoridades seguiam recolhendo os escombros, os cacos de vidro e as carcaças dos carros que foram queimados pela detonação, enquanto muitos habitantes preparavam os enterros de seus familiares.

Com mais de 400 feridos, o ataque lotou os hospitais da cidade, onde a multidão se aglomera nas portas à espera de notícias de seus parentes ou perguntando o porquê eles ainda não foram localizados. Os serviços de saúde advertiram que alguns dos mortos não poderão ser identificados porque os seus corpos ficaram totalmente destruídos ou queimados pela explosão.

Trata-se do atentado mais grave em Cabul desde que os talibãs foram expulsos do poder em 2001 depois da invasão do país liderada pelos Estados Unidos. O presidente americano, Donald Trump, falou por telefone com seu contraparte afegão, Ashraf Ghani, para denunciar "a natureza bárbara dos terroristas, inimigos das populações civilizadas". O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, expressou sua "repugnância" pelo ataque.

Uma cidade mortal para os civis

Pelo menos 11 guardas afegãos que trabalhavam para a embaixada dos Estados Unidos morreram, assim como 11 americanos, indicaram os responsáveis do país

Os serviços de Inteligência afegãos acusam a chamada Red Haqqani, um grupo aliado dos talibãs, de ser o responsável pelo ataque. Os talibãs asseguram que não estão envolvidos, embora o grupo rebelde não costume reivindicar seus atentados que deixam muitos civis mortos.

O grupo Estado Islâmico (EI), que também está presente no Afeganistão e não tem impeditivos de reivindicar os seus ataques, ainda não se pronunciou. A explosão, que segundo os que estavam no local foi como um terremoto, danificou várias embaixadas neste distrito, onde também há edifícios do governo e que, em teoria, está protegido por inúmeros postos de controle vigiados por homens armados.

Pelo menos 11 guardas afegãos que trabalhavam para a embaixada dos Estados Unidos morreram, assim como 11 americanos, indicaram os responsáveis do país. A Alemanha anunciou a morte de um segurança afegão de sua embaixada e vários países indicaram que seus edifícios sofreram danos.

Cabul, onde os atentados são frequentes, foi um dos lugares mais mortais do Afeganistão para os civis no primeiro trimestre de 2017, segundo dados da ONU. O exército afegão, apoiado pelos Estados Unidos e pela Otan, não conseguiu derrotar os rebeldes e a Casa Branca está estudando enviar ao país milhares de soldados para tentar vencer definitivamente a insurgência dos talibãs.

Atualmente há 8.400 militares americanos no Afeganistão - contra 100.000 em 2011 - e outros 5.000 dos países da Otan, principalmente com a tarefa de treinamento e assessoria.

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