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Chanceler da Alemanha ataca Donald Trump antes da cúpula do G20

Além das diferenças com Donald Trump, outras questões de conflito podem parasitar o G20

Agência France-Presse
postado em 29/06/2017 09:58
Além das diferenças com Donald Trump, outras questões de conflito podem parasitar o G20

Angela Merkel atacou nesta quinta-feira (29/6) Donald Trump antes de uma cúpula do G20 na Alemanha que se anuncia tempestuosa, criticando sua postura protecionista e a saída dos Estados Unidos do acordo climático. Em uma declaração à Câmara dos deputados sobre esta reunião dos principais líderes mundiais na próxima semana em Hamburgo, a chanceler alemã se absteve de mencionar o nome do presidente americano. Mas não deixou qualquer dúvida sobre seu alvo.

Nenhum dos desafios internacionais "conhece fronteira, e é por isso que hoje, mais do que nunca, aqueles que acreditam que podem resolver os problemas do mundo pelo protecionismo e isolacionismo estão cometendo um grande erro", disse ela. A chanceler definiu como um dos objetivos da reunião, da qual vão participar os chefes de Estado americano e russo, que "os líderes (do G20) mostrem que compreendem sua responsabilidade" com todo o planeta.

As relações entre Berlim e Washington, ótimas durante o governo de Barack Obama, esfriaram desde que seu sucessor na Casa Branca anunciou a retirada de seu país do acordo de Paris sobre a luta contra o aquecimento global e mantém uma retórica protecionista sobre o comércio.

Divergências evidentes
Donald Trump visa em especial a Alemanha e suas exportações de automóveis para os Estados Unidos e chegou a ameaçar com a implementação de tarifas. Sobre o clima, "o desacordo (com os Estados Unidos) é bem conhecido e não seria honesto escondê-lo. Em qualquer caso, eu não vou fazê-lo", ressaltou Angela Merkel.

A Europa está "mais determinada do que nunca" a combater as mudanças climáticas após a retirada dos Estados Unidos do acordo de Paris, e este acordo "não é negociável", ela reiterou. A cúpula do G20 das principais economias mundiais, que respondem por três quartos do comércio mundial, anuncia-se como um dos encontros internacionais mais polêmicos nos últimos anos.

Diante de questões espinhosas, a chanceler alemã reúne nesta quinta-feira na parte da tarde em Berlim vários líderes europeus, incluindo o presidente francês Emmanuel Macron e a primeira-ministra britânica Theresa May, para formar uma frente unida. De acordo com diplomatas, os trabalhos preparatórios do G20 para alcançar uma declaração conjunta têm sido até agora "muito difíceis". O chefe da diplomacia alemã, Sigmar Gabriel, acusou Washington de querer sabotar o processo.

;Península asiática;
"Não existe uma estratégia anti-americana, e certamente não da parte do governo alemão, mas há estrategistas americanos que planejam uma política anti-Europa e anti-Alemanha", proclamou na terça-feira.

Dadas as dificuldades com Washington, Merkel também se esforça, em vista do G20, para forjar alianças sobre as questões do clima e comerciais com potências emergentes asiáticas, como Índia e China. O que não impede de desconfiar das ambições de Pequim.

Ela advertiu, em uma entrevista na quinta-feira, contra o expansionismo econômico chinês, que considera a Europa "como uma península asiática". "A Europa deve trabalhar duro para defender sua influência", acrescentou ela, apoiando o projeto de Macron para melhor defender no nível europeu os setores industriais estratégicos dos apetites estrangeiros.

Este apoio ilustra a dinâmica encontrada na relação com a França, mesmo que uma forma de competição pela liderança na Europa esteja surgindo entre os dois líderes. O chefe de Estado francês acaba de conseguir duas "vitórias" diplomáticas, trazendo o presidente russo Vladimir Putin a Paris e conseguindo a vinda de Donald Trump para o feriado de 14 de julho.

Além das diferenças com Donald Trump, outras questões de conflito podem parasitar o G20. Berlim rejeitou na quinta-feira um pedido do chefe do Estado turco Recep Tayyip Erdogan de discursar a seus compatriotas à margem da cúpula, em um contexto muito tenso entre os dois países.

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