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Boom de carros elétricos não significa o fim do petróleo, diz chefe da AIE

Mesmo com recordes de vendas, o número de carros elétricos hoje chega a dois milhões, o que representa apenas 0,2% da frota de carros mundial

Agência France-Presse
postado em 11/07/2017 16:24
O uso de carros elétricos deverá crescer nos próximos anos, mas isso não significará o fim da demanda de petróleo, afirmou nesta terça-feira (11/7) o chefe da Agência Internacional de Energia (AIE).
O diretor-executivo da AIE, Fatih Birol, disse em uma entrevista à AFP que o crescimento dos carros elétricos está começando a partir de uma base muito pequena e que o petróleo ainda será necessário para navios, aviões e caminhões.

O foco no potencial de mudança dos carros elétricos aumentou drasticamente nas últimas semanas.

A França disse que vai acabar com as vendas de veículos a gasolina e diesel até 2040, e a Volvo Cars planeja começar a eliminar a produção de carros convencionais somente a gasolina a partir de 2019, passando a produzir apenas modelos elétricos ou híbridos.

"Hoje, muitas pessoas falam sobre carros elétricos - com razão, porque as vendas de carros elétricos estão aumentando. No ano passado, tivemos um recorde na venda de carros elétricos", disse Birol, cuja organização intergovernamental busca garantir um fornecimento confiável de energia para os seus Estados-membros.

Mas mesmo com esse recorde de vendas, o número de carros elétricos hoje chega a dois milhões, o que representa apenas 0,2% da frota de carros mundial.

O setor "crescerá, mas não nos trará o fim da era do petróleo", disse Birol à margem do Congresso Mundial do Petróleo, em Istambul.

"A demanda de petróleo será conduzida por caminhões, pela aviação, por jatos, por navios e, muito importante, pela indústria petroquímica", acrescentou.

"É muito difícil substituir o petróleo nesses setores, pelo menos no curto e no médio prazo", afirmou.

Reequilíbrio dos mercados

A indústria do petróleo tem sido afetada nos últimos anos pelo baixo preço do petróleo e também pela pressão para reduzir as emissões, como prevê o Acordo de Paris sobre as mudanças climáticas.

Enquanto isso, o interesse pelas energias renováveis aumentou, suscitando questões sobre se a demanda por petróleo desaparecerá antes mesmo de os recursos estarem esgotados.

A AIE prevê uma pequena recuperação neste ano, de cerca de 6%, no investimento de petróleo e gás. Mas Birol lembra que os gastos são desiguais pelo mundo. A crescente fonte não convencional de petróleo e gás de xisto nos Estados Unidos representa a maioria dos investimentos, em contraposição aos mercados tradicionais.

"A grande parte dos investimentos está indo para o xisto dos Estados Unidos, e o xisto está mudando o quadro completo", disse Birol, observando que os investimentos não estavam sendo feitos no Oriente Médio, na África e na Rússia.

De acordo com Birol, a demanda de petróleo vai continuar aumentando, embora em ritmo desacelerado.

"Mesmo em um mundo que é limitado pelo clima (...) vemos que o petróleo e o gás ainda serão necessários", disse Birol.

O preço do petróleo bruto ainda está flutuando em torno de US$ 45 por barril, muito longe do máximo de US$ 145 observado em 2008.

A crise de preços provocou uma rara cooperação entre a Opep e não membros do cartel, com o objetivo de aumentar os preços.

"Se a demanda for saudável, esperamos que na segunda metade do ano possamos ver o reequilíbrio dos mercados", disse Birol.

Ele alertou, porém, contra o excesso de otimismo por parte dos produtores de petróleo, ressaltando que é improvável que o preço do barril ultrapasse cem dólares.

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