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Venezuela: ameaça de sanções de Trump pode ter efeito contrário

Para especialistas, as sanções americanas desencadeiam um ressentimento entre os venezuelanos, que podem ajudar o governo de Maduro

Agência France-Presse
postado em 20/07/2017 17:26
O presidente americano Donald Trump ameaçou a Venezuela com sanções econômicas, mas analistas alertam que sua estratégia pode gerar um efeito contrário ao objetivo inicial: dar mais força ao governo de Nicolás Maduro.
O americano parece certo da reação de Caracas, onde as críticas ao imperialismo americano têm sido uma resposta recorrente do governo às pressões do norte.

Trump, como seu predecessor Barack Obama, enfrenta a difícil tarefa de administrar a longa e conturbada relação entre os dois países. Nenhum deles têm embaixadores nas respectivas capitais desde 2010. O governo de Obama conseguiu, pelo menos, reduzir as tensões, mas a relação se agravou drasticamente desde que Trump assumiu em janeiro.

[SAIBAMAIS]"Todas as cartas estão na mesa", disseram altos funcionários da Casa Branca na terça-feira, destacando a advertência do presidente no dia anterior.

"Os Estados Unidos não vão permanecer de braços cruzados enquanto a Venezuela entra em colapso", afirmou Trump no comunicado desta segunda. "Se o regime de Maduro impuser sua Assembleia Constituinte em 30 de julho, os Estados Unidos vão tomar ações econômicas fortes e rápidas".

;Ditador;

O presidente americano chamou seu equivalente venezuelano de um "líder ruim que sonha em virar um ditador".

Altos funcionários do governo que falaram com a imprensa na terça-feira denunciaram o que chamam de regime "ditatorial" em Caracas, exigindo o restabelecimento da democracia.

Moises Rendon, analista do Centro de Estudios Estratégicos e Internacionales (CSIS) de Washington, escreveu em artigo recente que "a ação mais importante para os Estados Unidos e para os países da região e do mundo é não reconhecer o governo que sair dessa Assembleia Constituinte ilegítima", que qualificou como um "estilo soviético".

Alguns analistas advertem, contudo, que uma linha muito dura dos Estados Unidos pode ser contraproducente.

Geoff Thale, do grupo de análisis WOLA (Washington Office on Latin America), disse à AFP que está "muito cético de que as sanções unilaterais dos Estados Unidos sejam eficazes. É mais provável que façam o governo sentir que não tem o que fazer senão resistir, e ainda dão ao governo um grito nacionalista contra os Estados Unidos".

;Pessoas vão morrer de fome;

David Smilde, especialista em Venezuela na Universidade de Tulane em Nova Orleans, Louisiana, destacou que "é possível que o governo venezuelano se veja fortalecido pelas sanções americanas. Não há como criar sanções à Venezuela agora sem piorar muito a situação humanitária. As pessoas vão morrer de fome".

As sanções americanas, completou, "desencadeariam um enorme ressentimento entre os venezuelanos" e "nunca serão bem recebidas por outros países da região".

A participação dos Estados Unidos na América Latina tem uma longa história. Os americanos são acusados de intervencionismo e imperialismo na região que Washington enxerga como "seu quintal".

Maduro já ameaçou com uma resposta "muito firme" as "ameaças do imperialismo". Seu ministro de Relações Exteriores, Samuel Moncada, denunciou o que qualificou como "a insolente ameaça de um império xenófobo e racista".

Mesmo com as relações diplomáticas quase congeladas, os dois países estão próximos economicamente: os Estados Unidos são o principal importador do petróleo da Venezuela e várias multinacionais americanas, inclusive a General Motos, investiram pesado durante décadas no que viam como um Eldorado ao sul.

Funcionários da Casa Branca que falaram com a imprensa pareciam conscientes do impacto potencial que as sanções econômicas podem provocar nos negócios do país.

Para Smilde, as novas medidas punitivas dos Estados Unidos - após as sanções lançadas em fevereiro pelo governo de Trump contra o vice-presidente venezuelano Tareck El Aissami, acusado de tráfico de drogas - poderiam inclusive empurrar Caracas aos braços da Rússia e da China.

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