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O 'caso russo' volta a colocar Trump no centro da polêmica nos EUA

A polêmica sem fim sobre a cumplicidade entre funcionários russos e o comitê de campanha se tornou uma tempestade sobre a Casa Branca que o atual governo não consegue espantar

Agência France-Presse
postado em 01/08/2017 17:23
A polêmica sem fim sobre a cumplicidade entre funcionários russos e o comitê de campanha se tornou uma tempestade sobre a Casa Branca que o atual governo não consegue espantar
A interminável saga sobre as relações de Donald Trump com a Rússia abriu, nesta terça-feira (1/8), um novo capítulo, diante de denúncias de que o presidente teria ditado o depoimento dado por seu filho Donald Jr. a uma comissão do Senado por uma reunião com uma advogada russa durante a campanha eleitoral.
De acordo com o jornal Washington Post, o presidente interveio pessoalmente para planejar e ditar uma justificativa para a polêmica reunião, realizada na Torre Trump de Nova York e cujo conteúdo continua rodeado de mistério.

A denúncia sobre a participação direta do presidente em definir a narrativa para explicar essa reunião está em clara contradição com as declarações do chefe de Estado sobre o caso, do qual disse que não conhecia detalhes da agenda de seu filho durante a campanha.

Como existe uma investigação realizada por um procurador especial sobre a eventual cumplicidade entre o comitê de campanha de Trump e funcionários russos, a intervenção do presidente poderia ser vista como uma tentativa de encobrir uma informação potencialmente transcendente.

A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee, disse nesta terça-feira que o presidente "deu a sua opinião" sobre o caso "como qualquer pai faria". Entretanto, insistiu que o depoimento apresentado por Donald Jr. "foi verdadeiro e não continha imprecisões".


Adoções ou roupa suja?

No início de julho, enquanto Trump participava da cúpula do G20 na Alemanha, a imprensa americana revelou que em plena campanha de 2016, Donald Jr. teria mantido uma incomum reunião com uma advogada e dois empresários russos.

O então presidente do comitê de campanha de Trump, Paul Manafort, e o genro do candidato à Presidência, Jared Kushner, também participaram do encontro.

[SAIBAMAIS]Segundo o Washington Post, Trump e seus assessores decidiram que era essencial que Donald Jr. tornasse pública qualquer informação para evitar especulações.

Entrentanto, no voo de volta, Trump mudou de ideia, ignorou o conselho de seus assessores e ditou a declaração que Donald Jr. posteriormente publicou e que repetiu a uma comissão do Senado.

De acordo com essa versão, na reunião, os interlocutores russos estavam interessados em falar apenas sobre as barreiras à adoção de crianças nascidas na Rússia por famílias americanas.

Entretanto, e-mails divulgados pelo próprio Donald Jr. sugerem que a equipe de campanha tinha a expectativa de receber dos russos informações comprometedoras sobre a candidata democrata à Presidência, Hillary Clinton.

A polêmica sem fim sobre a cumplicidade entre funcionários russos e o comitê de campanha se tornou uma tempestade sobre a Casa Branca que o atual governo não consegue espantar.

Crise interminável

O caso já gerou momentos traumáticos na Casa Branca, começando pelo próprio Manafort, que foi forçado a abandonar o comitê de campanha antes das eleições.

Também durante a campanha, agências de Inteligência afirmaram que hackers russos estavam por trás da pirataria de milhares de e-mails do comitê de campanha de Hillary e seu envio ao site WikiLeaks, que os tornou públicos.

O primeiro funcionário a cair foi o general Michael Flynn, que teve contatos com diplomatas russos antes de assumir o cargo de conselheiro de Segurança Nacional, mas que escondeu essa informação de Trump e do vice-presidente, Mike Pence.

Simultaneamente, o secretário de Justiça e procurador-geral, Jeff Sessions, teve que recusar participar de qualquer investigação sobre a "questão russa" já que também manteve reuniões com funcionários russos durante a campanha.

O próximo a cair foi o diretor do FBI, James Comey, que gerou a ira do presidente ao se negar deixar Flynn de fora das investigações.

Este ambiente caótico levou o procurador-geral adjunto, Rod Rosenstein, a nomear o ex-diretor do FBI Robert Mueller como procurador especial para levar à frente a investigação sobre as relações entre Trump e a Rússia.

Nas últimas semanas o caso parece ter passado de um discreto segundo plano para a explosão de uma guerra aberta e generalizada por espaço político dentro da Casa Branca.

Não obstante, a denúncia sobre a participação direta de Trump na operação para justificar a reunião de seu filho com cidadãos russos em plena campanha volta a colocar o presidente no centro da tempestade.

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