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Oposição venezuelana decide inscrever candidatos em eleições regionais

A aliança opositora assegurou que a decisão de inscrever candidatos não significa o abandono dos protestos realizados há quatro meses contra Maduro, e que deixam 125 mortos

Agência France-Presse
postado em 09/08/2017 17:54
A oposição venezuelana decidiu participar das eleições de governadores, em meio a acusações de fraude na Constituinte do presidente Nicolás Maduro, que motivaram novas sanções dos Estados Unidos.
A oposição venezuelana decidiu participar das eleições de governadores, em meio a acusações de fraude na Constituinte do presidente Nicolás Maduro, que motivaram novas sanções dos Estados Unidos.

"Acordamos por consenso pré-inscrever candidatos para as eleições regionais", assinalou nesta quarta-feira em um comunicado a coalizão Mesa da Unidade Democrática (MUD), que viu vários de seus dirigentes inabilitados a se candidatar.

A aliança explicou que a sua decisão tem a intenção de pressionar Maduro e o poder eleitoral para que cumpram com a a palavra de realizar as eleições em 10 de dezembro. Se não o fizerem, "que paguem o preço", assinalou o dirigente Andrés Velásquez, em coletiva.

O prazo para a inscrição na disputa por 23 executivos estaduais e assembleias regionais vence nesta quarta-feira.

[SAIBAMAIS]O anúncio coincidiu com as sanções do Departamento do Tesouro americano, nesta quarta-feira, a Adán Chávez, irmão mais velho do falecido presidente Hugo Chávez e a outros sete políticos por sua relação com a polêmica Assembleia Constituinte, em vigor desde a sexta-feira com poderes absolutos e que enfrenta um amplo repúdio internacional.

A medida implica no congelamento dos bens que tenham nos Estados Unidos, e na proibição a cidadãos americanos de fazer negócios com eles.

Washington já sancionou Maduro, 13 funcionários e ex-colaboradores do presidente, acusados de quebrar a democracia, corrupção e violação dos direitos humanos.

A lista aumentou depois que 12 governos da América condenaram Maduro, na terça-feira em Lima, por uma "ruptura" da democracia e desconheceram a Constituinte, também rechaçada pela União Europeia (UE).

No sábado passado, o Mercosul suspendeu politicamente a Venezuela com o mesmo argumento.

Diante da crescente pressão internacional, Maduro propôs uma cúpula da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) para "restituir o diálogo" regional e o "respeito à Venezuela".

"Forma de luta"

Não foi uma decisão fácil para a MUD, que reúne cerca de 30 partidos com diferentes tendências políticas, e que se juntaram em 2008 para enfrentar eleitoralmente o chavismo, no poder desde 1999.

Vários de seus dirigentes foram inabilitados a concorrer a cargos públicos, incluindo Henrique Capriles, atual governador do estado de Miranda, ao qual parte de Caracas pertence.

Além disso, dois prefeitos foram condenados pela Suprema Corte a 15 meses de prisão por não impedir o bloqueio de ruas nos quatro meses de manifestações opositoras, que deixam 125 mortos.

"A eleição é uma forma de luta e não assumi-la é a melhor maneira de convalidar e fortalecer a ditadura", justificou-se a MUD, advertindo que os protestos para exigir eleições gerais continuarão.

As regionais deveriam ter acontecido no fim de 2016, mas o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) as adiou sem motivos.

Acusado de servir ao governo, o CNE também suspendeu em 2016 o trâmite para um referendo revogatório do mandato de Maduro, por ordem dos tribunais regionais.

Igualmente, anunciou há dois dias que a MUD não poderá inscrever candidatos com a sua identificação em sete estados, incluindo Zulia - maior centro eleitoral do país -, Aragua e Carabobo.

Velásquez assegurou que nesses estados os partidos da MUD apoiarão um único candidato.

Dilemas

Analistas como Benigno Alarcón consideram que o governo não está em condições de vencer uma eleição por sua responsabilidade na grave crise econômica, refletida na escassez de alimentos e remédios e uma inflação que, segundo o FMI, ultrapassaria os 720% este ano.

Maduro enfrenta o repúdio de 80% dos venezuelanos, de acordo com as pesquisas, que indicam que a MUD pode ganhar até 18 governações. Seria um nove golpe ao chavismo, que encarou em 2015 a sua maior derrota, ocorrida nas legislativas.

Devido a isso, segundo Alarcón, Maduro apostou pela Constituinte como uma "salva-vidas", não para reescrever a Carta Magna, mas evitar eleições e governar sem contrapesos como o Parlamento, que já estava com as mãos atadas pela Suprema Corte.

Dirigentes opositores não descartam que ao final a Constituinte, como um "suprapoder", cancele as regionais, embora Maduro negue.

A oposição também encara o risco de perder o apoio popular ao "se conformar" com as regionais, quando os protestes exigiam a antecipação das presidenciais, previstas para o fim de 2018.

Já assumiu um custo em 2016: quando as manifestações contra Maduro alcançaram um novo pico, entrando em um frustrado diálogo que enfraqueceu a sua popularidade.

No entanto, hoje assegura que Maduro está encurralado pelos protestos e pela pressão internacional, e que cada vez está mais perto de seu objetivo de "acabar com esta ditadura".

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