Rodrigo Craveiro
postado em 14/08/2017 10:50
Poucas horas após James Alex Fields Jr., 20 anos, atropelar um grupo de pessoas que participavam de um protesto antirracismo em Charlottesville (Virgínia), no sábado, o presidente Donald Trump fez uma declaração considerada polêmica. ;Nós condenamos, nos termos mais fortes possíveis, essa escandalosa amostra de ódio, de intolerância e de violência de muitos lados. Isso tem ocorrido há muito tempo em nosso país;, afirmou, sem citar a extrema-direita, a organização Ku Klux Klan (KKK) e outras facções supremacistas brancas.
Enquanto os Estados Unidos se escandalizavam com a tolerância do republicano ante a explosão da violência racial, a Casa Branca tentava pôr panos quentes e ;corrigir; a fala de Trump. ;O presidente disse, da forma mais engérgica (;), que condena todas as formas de violência, fanatismo e ódio. Isso inclui, evidentemente, supremacistas brancos, neonazistas, a Ku Klux Klan e todo o tipo de grupos extremistas. Ele pediu união nacional e que todos os americanos estejam unidos;, afirmou a Casa Branca, por meio de um comunicado.
[SAIBAMAIS]Congressistas republicanos usaram um tom mais incisivo e condenaram o suposto acobertamento do mandatário. ;Nós deveríamos chamar o mal pelo seu nome. Meu irmão não deu a vida combatendo Hitler para que as ideias nazistas não fossem desafiadas aqui em casa;, desabafou Orrin Hatch, senador pelo estado de Utah. O colega Cory Gardner seguiu a linha de Hatch. ;Senhor presidente, nós devemos chamar o mal pelo seu nome. Esses foram supremacistas brancos e isso foi terrorismo doméstico.; O senador Marco Rubio denunciou um ;ataque terrorista por supremacistas brancos;.
Especialistas admitiram ao Correio a responsabilidade de Trump em fomentar as tensões raciais no país. ;O que ocorreu em Charlottesville foi o resultado lógico da crescente polarização racial nos Estados Unidos, devido à retórica e às ações de Trump. A marcha de sábado reuniu supremacistas brancos da KKK mais velhos e novas gerações de ativistas brancos ; a alt-right (;direita alternativa;) ;, que se veem como globalistas e que se aliaram à Russia para salvar a ;civilização branca;;, explicou Ruth Ben-Ghiat, professora de história e de estudos italianos da Universidade de Nova York.
Segundo ela, os dois grupos entenderam a eleição de Trump como uma chance de reverter as conquistas em igualdade racial feitas pelo governo do democrata Barack Obama. ;Eles estão preocupados com as mudanças demográficas no país, as quais tornarão os brancos uma minoria, por volta de 2035. A cidade de Charlottesville é um ponto focal por possuir estátuas que simbolizam o racismo, como o monumento do general confederado Robert E. Lee, o qual será derrubado;, acrescentou. Ruth admite que os eventos de Charlottesville e a brutalidade policial contra os negros mostram que o racismo persiste nos EUA. ;De fato, o progresso que começou a ser feito contra o racismo, durante a gestão Obama, amedrontou os conservadores, os levando a apoiar Trump. Apesar de tudo, a herança dos direitos civis está viva e sedimentada, e tem inspirado movimentos de resistência;, disse.
Fundador do Instituto Martin Luther King Jr., da Universidade de Stanford, Clayborne Carson também criticou a retórica ;abusiva; e ;divisória; de Trump e afirmou que a direita norte-americana se radicalizou nas últimas décadas. ;Em todas as eleições presidenciais desde 1964, a maioria dos americanos brancos e a maior parte dos negros jamais votaram em um mesmo candidato. Depois da aprovação da Lei de Direitos ao Voto de 1965, milhões de brancos abandonaram o Partido Democrata e passaram a apoiar um Partido Republicano cada vez mais reacionário;, explicou.
Em Charlottesville, grupos de defesa dos direitos civis fizeram protestos pacíficos, ontem. Novo tumulto ocorreu quando Jason Kessler, organizador da marcha Unite the right (;Unam a direita;), realizada no sábado, participava de entrevista coletiva na frente da prefeitura. ;Centenas de manifestantes o expulsaram do local. Agora, poucas pessoas estão reunidas para vigília em homenagem às vítimas, mas tudo está calmo;, disse ao Correio o consultor político Robert Grier, 25 anos. A cidade segue sob estado de emergência.
Investigação
O FBI ; a polícia federal norte-americana ; abriu investigação de direitos civis sobre as circunstâncias do atropelamento em massa em Charlottesville, que custou a vida de Heather Heyer, 32 anos, e feriu 19 pessoas. Tudo indica que o motorista, James Alex Fields Jr., agiu de forma premeditada. O professor Derek Weimer, que lecionou história para Alex em Kentucky, revelou que o ex-aluno ;tinha fascinação pelo nazismo e grande idolatria por Adolf Hitler;. ;Ele tinha visões supremacistas brancas e realmente acreditava naquilo.; A enfermeira Felicia Venita Correa, 34, amiga de Heather, crê que o ataque de anteontem foi planejado ;não apenas para promover o ódio, mas para engendrar a raiva;. ;Não acho que Trump esteja comovido. Ele sabia que o slogan ;Tornar a América grande novamente; seria usado assim;, admitiu ao Correio.