Mundo

Legisladores sugerem tímido avanço em discussão sobre armas nos EUA

"Obviamente é algo que devemos analisar", disse nesta quinta-feira (5/10) o presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan

Agência France-Presse
postado em 05/10/2017 16:53

Legisladores republicanos admitiram nesta quinta-feira estar dispostos a discutir uma proibição ao mecanismo que transforma fuzis em armas automáticas, uma peça de venda livre que permitiu ao atirador de Las Vegas matar no domingo passado 58 pessoas e ferir mais de 500.

"Obviamente é algo que devemos analisar", disse nesta quinta-feira (5/10) o presidente da Câmara dos Representantes, Paul Ryan, em alusão à venda livre de um dispositivo que multiplica a capacidade de disparo de armas longas e permite efetuar centenas de tiros por minuto.

[SAIBAMAIS]O mecanismo, denominado "bump stock" em inglês, substitui a culatra e a extensão de apoio de um fuzil, e utiliza o tranco provocado por cada disparo para gerar uma sequência, fazendo com que a arma se torne automática, como uma metralhadora.

Estas peças são compradas livremente nos Estados Unidos, inclusive em lojas on-line, por menos de cem dólares.

O próprio Ryan admitiu nesta quinta-feira que não fazia ideia do que eram os "bump stock" e para que serviam até saber os detalhes do massacre de domingo à noite em Las Vegas.

O atirador, Stephen Paddock, utilizou estes dispositivos para transformar fuzis em metralhadoras no massacre e com isso abriu-se um debate sobre o livre acesso a estes mecanismos.

Nesta quinta-feira, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee, disse que a Presidência estava "aberta" a discutir o aspecto, mas ressaltou que a prioridade do presidente Donald Trump era "unir o país" e não liderar esse debate.

"Temos a expectativa de audiências e outros esforços para reunir informação sobre isto e queremos ser parte dessa discussão. Estamos abertos a isso", manifestou.

Conversas "concretas"

Em meio à comoção provocada pelo massacre em Las Vegas, legisladores do partido Republicano - tradicionalmente avessos a qualquer tipo de controle de armas - timidamente começaram a admitir que a disseminação dos "bump stock" mudou o caráter da discussão.

"Estou em meio a conversações concretas com cinco ou seis dos meus colegas republicanos" sobre o veto ao "bump stock", disse o legislador democrata David Cicilline.

"Ninguém deveria possuir estes mecanismos que transformam um fuzil semiautomático em uma arma equivalente a uma metralhadora", acrescentou.

O republicano Robert Goodlatte, presidente da Comissão de Assuntos Jurídicos da Câmara de Representantes, também admitiu que "vamos analisar isto".

No Senado, pelo menos dois legisladores republicanos - John Cornyn e John Tune - também emitiram sinais de que estavam abertos a esta discussão.

Dois legisladores do partido Democrata - a senadora Dianne Feinstein e a representante Nancy Pelosi - já apresentaram respectivos projetos de lei que proíbem a comercialização dos "bump stock".

No entanto, os líderes republicanos se mantêm firmes em seu repúdio a qualquer tipo de controle à venda de armamento, e insistem em que não é o momento adequado para discutir o assunto.

Para o líder da bancada republicana no Senado, Mitch McConnell, é "completamente inapropriado politizar agora esta questão".

Até mesmo o representante Steve Scalise, gravemente ferido a tiros em julho, disse que "é uma vergonha que cada vez que há um tiroteio tenha gente que pensa em como promover o controle de armas, ao invés de pensar como rezar e ajudar as vítimas".

Medo por restrições ao comércio

Em Las Vegas, os vendedores de armas temem agora que a adoção de restrições afete os negócios.

A venda de fuzis, inclusive aqueles de alto poder de fogo, é permitida nos Estados Unidos, embora as armas automáticas tenham sido proibidas em 1980. O uso dos "bump stock" permitiu burlar esta proibição.

Art Netherton, proprietário da loja de armas Briarhawk e um dos poucos empresários do ramo que aceitou falar com a imprensa, disse à AFP que se sentia "horrorizado" pelo massacre, mas condenou a ideia de adotar leis que limitem o comércio de armas.

"Há centenas de leis nos livros. Se não me engano, o assassinato é ilegal, as drogas são ilegais, o homicídio com um automóvel é ilegal. Estamos cheios de leis, não precisamos de mais", afirmou.

Segundo ele, os "bump stock" são difíceis de usar. "É preciso muita prática para conseguir atirar porque é questão de ritmo. Não o temos na nossa loja, nunca o vendemos", destacou.

Enquanto isso, os americanos continuam recebendo notícias surpreendentes sobre o autor da chacina de Las Vegas.

Segundo o site TMZ, dedicado ao mundo dos espetáculos, e a emissora de TV NBC News, Paddock tinha duas reservas durante o festival de rock Lollapalooza, em agosto, no hotel Blackstone, em Chicago, que dá vista para o vasto Grand Park no centro da cidade onde se realizou o evento, que atraiu centenas de milhares de pessoas, inclusive Malia Obama, uma das filhas do ex-presidente americano.

Paddock nunca apareceu no hotel, mas se tivesse estado na cidade entre 2 e 5 de agosto, teria tido uma oportunidade similar à que teve no show de música country na noite de domingo em Las Vegas.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação