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Justiça australiana deve convocar mais de 50 testemunhas no caso Pell

Já na primeira audiência em julho, o advogado da defesa declarou que seu cliente é inocente, ainda que a alegação não fosse necessária naquele estágio do processo judicial

Agência France-Presse
postado em 06/10/2017 16:22

Já na primeira audiência em julho, o advogado da defesa declarou que seu cliente é inocente, ainda que a alegação não fosse necessária naquele estágio do processo judicial

A Justiça australiana poderá convocar em março do ano que vem cerca de 50 testemunhas para determinar se o cardeal George Pell, número três do Vaticano, deve ser julgado por agressões sexuais.

[SAIBAMAIS]O religioso, de 76, um dos conselheiros mais próximos do papa Francisco, foi indiciado no final de junho "por crimes de agressões sexuais passadas", segundo a Polícia australiana, que, na época, falou em "vários demandantes", sem dar informações sobre supostos fatos e vítimas.

Já na primeira audiência em julho, o advogado da defesa declarou que seu cliente é inocente, ainda que a alegação não fosse necessária naquele estágio do processo judicial.

Pell não fez qualquer comentário ao chegar ao tribunal, nesta sexta (6/10), para sua segunda audiência.

O tribunal de Melbourne estabeleceu 5 de março para o início de uma fase de quatro semanas de audiências, depois da qual a acusação deverá decidir se há provas suficientes que justifiquem um julgamento contra o cardeal.

Por motivos legais, os detalhes da audiência não podem ser divulgados pela imprensa, mas a juíza Belinda Wallington anunciou que todas as testemunhas - à exceção de cinco - foram consideradas como admissíveis. Isso significa que pelo menos 50 pessoas poderão comparecer à corte.

"É necessário que se possa expressar as lembranças das pessoas", disse Wallington.

;Impossível;

O advogado do cardeal, Robert Richter, disse que a catedral de Melbourne não pode ter sido palco de atos ilícitos.

"Demonstraremos (...) que o que se diz é impossível", antecipou.

Em sua primeira intervenção no tribunal de Melbourne em julho, Pell foi submetido aos controles de segurança e, escoltado por policiais, teve de abrir passagem entre uma multidão de jornalistas que o esperava na entrada.

Nesta sexta, não era obrigado a comparecer à audiência, mas o prelado tem buscado demonstrar sua intenção de lutar para defender sua honra. Pell nega, categoricamente, as acusações que pesam contra ele.

Ao chegar hoje ao tribunal, estava mais magro e abatido, em meio a um dispositivo policial ainda maior do que na sessão passada. O número de repórteres era menor do que da última vez.

"Nenhum lugar para se esconder", gritaram alguns manifestantes, quando ele deixou a sala de audiência.

O cardeal também tinha alguns defensores. "Sabemos que é um homem íntegro", disse Carmen Zahra, convencida de sua inocência.

O papa Francisco concedeu a Pell um período de descanso para que pudesse se concentrar em sua defesa, evitando que o australiano tivesse de renunciar ao cargo.

O escândalo Pell causou grande comoção, já que se trata do representante de mais alta hierarquia da Igreja católica indiciado até hoje em um caso de violência sexual.

O anúncio de seu indiciamento coincidiu com o fim de uma longa investigação nacional sobre a resposta institucional, na Austrália, aos abusos sexuais cometidos com menores. A investigação foi solicitada pelo governo em 2012, após uma década de protestos por parte das vítimas.

À frente desse processo por quatro anos, a comissão de investigação Real ouviu o testemunho de milhares de vítimas.

O cardeal Pell, que depôs três vezes no âmbito dessa investigação, admitiu que "falhou" em sua gestão dos padres pedófilos no estado de Victoria, nos anos 1970.

Pell se ordenou padre em 1966, em Roma, voltando para a Austrália em 1971, onde foi galgando degraus na Igreja católica.

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