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Recomeça julgamento dos 221 acusados de planejar golpe na Turquia

Entre os acusados - todos militares, salvo 12 -, está o pregador Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos e considerado pelas autoridades turcas como o cérebro da tentativa de golpe

Agência France-Presse
postado em 30/10/2017 09:24
Ancara, Turquia - O julgamento de 221 réus acusados de promoverem o golpe de Estado frustrado de 15 de julho de 2016 na Turquia foi retomado nesta segunda-feira de manhã (30/10), perto de Ancara, em uma sala de audiências especialmente construída para todos os processos ligado a esse episódio.

Entre os acusados - todos militares, salvo 12 -, está o pregador Fethullah Gülen, exilado nos Estados Unidos e considerado pelas autoridades turcas como o cérebro da tentativa de golpe. Julgado à revelia, Gülen nega qualquer envolvimento.

O golpe de Estado fracassado deixou quase 250 mortos, sem contar os golpistas, e milhares de feridos, em confrontos que se espalharam por todo país na noite de 15 de julho de 2016. Processados, sobretudo, por tentativa de derrubada da ordem constitucional e pertencimento a uma organização "terrorista", os acusados podem ser condenados à prisão perpétua.

O processo começou em 22 de maio e, durante semanas, 56 dos acusados apresentaram sua defesa - de acordo com contagem da agência de notícias estatal Anadolu. Akin ;ztürk, ex-chefe da Força Aérea e um dos acusados de mais alta patente no julgamento, negou todas as acusações.

A sessão de hoje começou com a defesa de Ali Gültekin, ex-comandante do Estado-Maior. No início dos trabalhos, o presidente do tribunal declarou que acrescentava um arquivo de 70 terabytes de imagens das câmaras de vigilância da noite do golpe de Estado frustrado. Segundo a Anadolu, o material será entregue aos advogados da defesa.

Confrontos
Desde a intentona golpista, mais de 50.000 pessoas foram detidas, e mais de 140.000, demitidas, ou afastadas de suas funções, em todo país. Nos últimos dias, quase 60 militares foram detidos em serviço, suspeitos de pertencerem ao movimento de Gülen, informou hoje a Anadolu.

Além dos supostos simpatizantes do pregador, os confrontos também afetaram a oposição política ao presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, a imprensa crítica de seu governo e ativistas de Direitos Humanos.

Nesta terça, outros dois processos serão retomados em Istambul. Em um deles, estão sendo julgados os colaboradores do jornal crítico ao governo "Cumhuriyet", acusados de atividades "terroristas". No outro, o alvo é a escritora Asli Erdogan, acusada de fazer "propaganda terrorista".

A autora, que não tem parentesco com o presidente turco, foi posta em liberdade condicional em dezembro, após passar mais de quatro meses em detenção provisória por colaborar com o jornal pró-curdo "Ozgür Gündem". O veículo foi fechado por decreto em outubro de 2016, acusado de "propaganda terrorista".

Além disso, na semana passada, abriu-se o processo contra 11 ativistas de Direitos Humanos, incluindo funcionários da Anistia Internacional na Turquia. Acusados de atividades "terroristas", todos foram postos em liberdade condicional, salvo Taner Kiliç, presidente da ONG no país. Ele é suspeito de estar ligado do golpe de Estado fracassado.

A comunidade internacional acompanha muito de perto esses processos e denuncia as restrições impostas à liberdade de expressão na Turquia desde a intentona.

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