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Sanções financeiras dos EUA aceleram eventual moratória da Venezuela

"As sanções financeiras implementadas em agosto são mais significativas porque interrompem todo novo investimento direto no país", disse Shannon O'Neill, do Conselho de Relações Exteriores

postado em 07/11/2017 15:49

As sanções adotadas pelos Estados Unidos contra a Venezuela pioraram a já crítica situação econômica do gigante petroleiro sul-americano e aceleram o processo de moratória do pagamento da sua dívida, que poderia acontecer nesta semana, segundo vários especialistas.

Os dois pacotes de medidas, um de julho e outro de agosto, tinham por objetivo cortar os financiamentos à Venezuela, ao bloquear o acesso a divisas estrangeiras.

[SAIBAMAIS]"As sanções financeiras implementadas em agosto são mais significativas porque interrompem todo novo investimento direto no país", disse Shannon O;Neill, do Conselho de Relações Exteriores, um influente centro de análise americano.

A Venezuela tem gigantes reservas petroleiras, mas é um país pobre em liquidez. "Suas reservas internacionais chegam a 9,7 bilhões de dólares, enquanto sua dívida externa é de quase 110 bilhões", apontou Edward Glossop, economista da Capital Economics, em nota publicada nesta segunda-feira.

Assim, as sanções "aumentaram a pressão sobre Nicolás Maduro, já que tornam quase impossível garantir o acesso ao financiamento", disse à AFP o economista Andrés Abadia, do grupo Pantheon Macroeconomics.

Com elas, a Venezuela também tem dificuldade de vender divisas no sistema financeiro americano. Assim, o governo fica isolado e "a propensão dos investidores internacionais em adquirir a dívida do país diminuiu", indicou Abadia.

A Citgo, uma petroleira venezuelana baseada nos Estados Unidos, onde atua no segmento de refinados e tem postos de gasolina, tampouco pode enviar dividendos ou benefícios a Caracas.

;A qualquer momento;

De acordo com Abadia, a Venezuela enfrenta não apenas uma queda da produção petroleira (-10% em um ano) com a possibilidade de "um colapso total da economia, e sua inflação agora é a mais alta do mundo", estimada em 1.000% este ano e até 2.000% em 2018.

Neste cenário, "os riscos de um evento caótico de crédito são significativos a qualquer momento", acrescentou.

Já Glossop apontou que esse resultado poderia acontecer "até o fim deste semana", a menos que a estatal petroleira PDVSA e o governo "cubram pagamentos não efetuados recentemente que somam 500 milhões de dólares".

Até agora, o governo venezuelano operou para evitar a interrupção de pagamentos ao priorizar o pagamento de vencimentos imediatos, deixando de lado as importações de alimentos e remédios.

Neste cenário, a restruturação da dívida anunciada nesta sexta-feira pelo governo poderia ser comprometida, apontam os economistas.

O presidente Maduro deixou à frente desta delicada tarefa de renegociação seu vice-presidente, Tarek el Aissami, que também está em uma lista de sancionados pelo governo dos Estados Unidos acusado de corrupção e relação com o narcotráfico.

Para o professor Robert Kahn, da Universidade Americana, em Washington, a única saída para essa crise é uma mudança de governo.

"É preciso uma mudança de liderança", disse. "É preciso nomear pessoas que não sejam alvo de sanções, que estejam dispostas a reduzir a pressão sobre a população e reformar a economia", acrescentou o acadêmico.

Sem as mudanças, alertou, Maduro terá dificuldade de convencer os credores, já que as sanções de Washington proíbem cidadãos ou bancos americanos de adquirir novos títulos venezuelanos ou da estatal PDVSA.

Nesta segunda-feira, a agência de classificação financeira Moody;s rebaixou a nota de crédito da PDVSA de ;Caa3; - risco de crédito - para ;Ca; - operações de dívida altamente especulativas com sinais de possível default.

A decisão reflete o não pagamento de títulos de 2 de novembro e a "expectativa" da agência de que a companhia de petróleo fique inadimplente em outras dívidas "no curto prazo".

E mesmo que Rússia e China, seus dois principais credores, lancem um colete salva-vidas para a Venezuela, os mercados devem rejeitar os títulos não emitidos em dólares, autorizados pela Assembleia Constituinte, dizem os analistas.

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