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Berlusconi busca novo protagonismo na Itália apesar de escândalos

"Entrarei em campo, como capitão ou treinador, mas entrarei", anunciou o bilionário sobre as eleições parlamentares de 2018

Agência France-Presse
postado em 21/11/2017 16:12

O magnata Silvio Berlusconi, três vezes chefe de governo, aspira a um novo papel relevante na política italiana apesar de seus 81 anos, dos escândalos sexuais e de uma pena de inelegibilidade sobre a qual o Tribunal Europeu de Direitos Humanos deve se pronunciar na quarta-feira.

[SAIBAMAIS]"Entrarei em campo, como capitão ou treinador, mas entrarei", anunciou o bilionário sobre as eleições parlamentares de 2018.

Inabilitado para exercer cargos públicos até 2019 após a condenação por fraude fiscal emitida em 2013, pela qual foi expulso do Senado, Berlusconi coloca suas esperanças na decisão do Tribunal Europeu.

Na quarta-feira, a corte tem prevista uma audiência, que segundo os especialistas não chegará a um veredito definitivo.

O "imortal", como é chamado por seus amigos, lidera hoje suas tropas com muito entusiasmo depois da vitória obtida na Sicília no início deste mês e das pesquisas a favor da direita em toda a Itália.

O retorno do magnata das comunicações gerou muitas interrogações, e boa parte do país se esforça para entender sua ressurreição após tantas decepções, escândalos, mentiras e gafes.

"Uma parte do eleitorado italiano gosta de Berlusconi, o que representa 7% a 8% dos votos", explicou recentemente o cientista político Giovanni Orsinna à imprensa estrangeira.

"Trata-se do eleitorado moderado, que não quer votar pela Liga Norte (xenófoba), nem pela esquerda radical, nem pelo movimento antissistema Cinco Estrelas e para quem só resta Berlusconi ou Renzi", acrescentou.

O ex-chefe de governo de esquerda Matteo Renzi, que renunciou ao cargo há um ano depois de perder o referendo por uma reforma constitucional, é criticado por vários dirigentes de seu próprio partido e tende a dividir mais do que unir a esquerda.

Mas nem tudo é tão fácil para Berlusconi. Seu aliado-chave, a Liga Norte, transformado em partido antieuro e anti-imigração sob a liderança de Matteo Salvini, quer roubar seu protagonismo e liderar a coalizão.

;O sistema e o antissistema;

O desafio é significativo. O Partido Democrata (PD, centro-esquerda no poder) alcançaria quase 25% dos votos nas eleições, enquanto a formação antissistema Movimento Cinco Estrelas (M5E), 27,5%, segundo as pesquisas recentes.

A direita, unida com a extrema direita e os xenofóbicos, que teve um bom resultado na Sicília, somaria 35%, uma porcentagem que não lhe garante o poder, já que precisa superar os 40%, mas o que Silvio Berlusconi considera um objetivo ao seu alcance.

Tudo sorri ao famoso magnata, que por várias vezes teve decretada por comentaristas a sua morte política nos 25 anos de história.

Não somente a direita cresce em toda Europa, como os juízes na semana passada decidiram a favor de que sua ex-esposa Veronica Lario lhe devolva 60 milhões de euros. Mas sem excluir a possibilidade de que ele perdoe 50 milhões em um gesto de magnanimidade típico do bilionário.

O retorno de Berlusconi é surpreendente, principalmente se levar em conta que há um ano estava em queda, após uma cirurgia no coração, a perda de seu clube de futebol, AC Milan, na venda aos chineses, e os ataques do francês Vincent Bolloré contra o seu império midiático, Mediaset.

A fênix da política italiana renasceu das cinzas: se submeteu a uma cirurgia plástica que o rejuvenesceu, emagreceu alguns bons quilos, enxertou cabelo e não teme se maquiar para aparecer em público.

"Encarna o sistema e o antissistema, a moderação e o extremismo", sustenta o cientista político Marco Damilano, diretor da revista Espresso.

Nada parece derrubá-lo, nem os casos judiciais e nem os escândalos por suas famosas festas "bunga-bunga" com belas jovens, que lhe custaram o divórcio e vários julgamentos, incluindo um por abuso de uma menor de idade.

Os italianos terão o direito de decidir em 2018 se ainda acreditam na capacidade de governar do homem que em 2011 se viu obrigado a soltar as rédeas de uma Itália estava afundada em uma grave crise financeira.

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