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Lider islamita pede fim dos protestos na capital do Paquistão

A declaração de Khadim Hussain Rizvi surge pouco depois da renúncia do ministro da Justiça, Zahid Hamid

Agência France-Presse
postado em 27/11/2017 09:16
Islamabad, Paquistão - O líder do grupo islamista que bloqueia há três semanas a principal via de acesso a Islamabad, a capital do Paquistão, pediu o fim dos protestos e afirmou que todas as reivindicações serão aceitas.

"Com base na garantia do comandante das Forças Armadas, convocamos o fim do bloqueio", disse Khadim Hussain Rizvi a quase 2.000 militantes que, desde 6 de novembro, impedem a passagem por uma ponte na principal estrada de acesso a Islamabad.

"Nos reunimos com representantes das Forças Armadas, que garantiram que cumprirão todas as nossas reivindicações", completou o líder do protesto, acrescentando que a dispersão da multidão deve levar pelo menos 12 horas.

[SAIBAMAIS]A declaração de Khadim Hussain Rizvi surge pouco depois da renúncia do ministro da Justiça, Zahid Hamid, uma das principais reivindicações do protesto do grupo religioso Tehreek-i-Labaik Yah Rasool Allah Pakistan (TLYRAP), que é relativamente desconhecido.

Segundo a agência de notícias APP, que anunciou sua renúncia, o ministro tomou a decisão "de forma voluntária para pôr fim à situação de crise no país". Ele estaria preparando uma entrevista coletiva para dar detalhes, mas ainda não houve reação oficial nesse sentido.

Lei contra blasfêmia
Por três semanas, os manifestantes ocuparam uma ponte estratégica na principal autoestrada que une Islamabad à localidade vizinha de Rawalpindi, afetando milhares de pessoas que se viram, todos os dias, bloqueadas durante horas no trânsito no trajeto para o trabalho.


Após várias semanas de negociações sem sucesso, as forças de segurança fracassaram na tentativa de desalojar o local com o uso de gás lacrimogêneo no sábado passado, em uma operação que deixou sete mortos e mais de 200 feridos.

A ação policial causou uma onda de protestos em outras cidades do país. No domingo, cerca de 8.000 pessoas foram às ruas de Karachi e de Lahore, as duas maiores cidades do país. São números pequenos, mas que seguiam em um crescente.

A origem dos protestos dos islamitas foi uma emenda que modificava a formulação do juramento pronunciado pelos candidatos às eleições, no qual reconhecem que Maomé é o último profeta.

Os fundamentalistas do TLYRAP viram nisso uma tentativa de modificar a bastante polêmica lei sobre a blasfêmia para permitir que os Ahmadis, uma seita muçulmana não reconhecida oficialmente, também prestassem juramento. Perseguidos durante muito tempo, os Ahmadis acreditam que Maomé não é o último dos profetas.

Convocado pelo governo no sábado à tarde como reforço para ajudar a "manter a ordem" em Islamabad, o poderoso Exército paquistanês parece ter preferido se envolver nas negociações com os manifestantes.

Essa crise acontece em um momento difícil para o poder civil, poucos meses depois da queda por corrupção do primeiro-ministro Nawaz Sharif e antes das eleições legislativas de 2018. Estas últimas se anunciam como incertas. Liderado por um fiel a Sharif, Shahid Khaqan Abbasi, o atual governo é criticado há vários dias por sua lentidão e má gestão da crise, considerada como um sinal de fraqueza frente a movimentos islamitas em pleno auge.

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