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Jerusalém continua a mobilizar as ruas e a diplomacia

Nesta segunda, a criticada decisão do presidente Donald Trump continuava no foco das notícias diplomáticas, de Bruxelas ao Cairo, passando por Ancara

Agência France-Presse
postado em 11/12/2017 18:35

Várias manifestações ocorreram nesta segunda-feira (11/12) no Oriente Médio - pelo quinto dia seguido - contra o reconhecimento americano de Jerusalém como a capital de Israel, tema que ocupa a agenda diplomática internacional.

Nesta segunda, a criticada decisão do presidente Donald Trump continuava no foco das notícias diplomáticas, de Bruxelas ao Cairo, passando por Ancara.

O presidente russo, Vladimir Putin, pediu nesta segunda-feira durante uma visita ao Cairo que retomem as negociações entre israelenses e palestinos, especialmente sobre o tema de Jerusalém.

Putin pediu "uma retomada imediata das negociações diretas entre israelenses e palestinos sobre todas as questões em disputa, incluindo o status de Jerusalém", segundo uma tradução oficial simultânea em árabe de suas declarações em russo.

Em Beirute, milhares de partidários do Hezbollah marcharam no sul da capital libanesa, reduto do poderoso movimento xiita, aliado do Irã e inimigo de Israel, e que quer ser um dos arautos da causa palestina. "Jerusalém é nossa", mostravam muitos cartazes.

No Irã, algumas centenas de manifestantes queimaram fotografias de Trump e bandeiras americanas e israelenses.

Nos Territórios Palestinos, dezenas de jovens, com o rosto coberto pelo tradicional cachecol xadrez, incendiaram pneus e atiraram pedras nos soldados israelenses na saída de Ramallah, na Cisjordânia ocupada.

Soldados israelenses responderam com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha, e, esporadicamente, munições letais. Vários jovens ficaram feridos, segundo fotógrafos da AFP.

"Estamos aqui para protestar contra a decisão de Trump e para dizer que Jerusalém Oriental é e continuará sendo nossa capital, e seguiremos defendendo-a", declarou um homem encapuzado.

Os confrontos com soldados israelenses deixaram 27 feridos, atingidos por balas de borracha, ou por munição letal, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, informou a Cruz Vermelha.

Ao reconhecer em 6 de dezembro Jerusalém como capital de Israel - uma ruptura com décadas de diplomacia americana e internacional -, Trump gerou manifestações diárias no mundo muçulmano e distúrbios nos Territórios Palestinos, embora a mobilização não seja em massa.

;O fundamento da paz;

"A pior coisa que pode acontecer agora é uma escalada das tensões, da violência", declarou a chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, antes de uma reunião em Bruxelas com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, e os ministros das Relações Exteriores da União Europeia.

Diante de Netanyahu, Mogherini reiterou a posição da UE, a visão internacional mais ampla, de que a solução para o conflito passa pela criação de dois Estados baseados nas fronteiras de 1967, cujas capitais em ambos os casos estariam em Jerusalém.

Desde a criação do Estado de Israel em 1948, a comunidade internacional se absteve de reconhecer Jerusalém como sua capital, e considera que seu status deve ser negociado.

Mas em 1980, uma lei israelense aprovou o status de Jerusalém como capital "eterna e indivisível" de Israel, depois que este país ocupou Jerusalém Oriental em 1967 durante a Guerra dos Seis Dias, e a posterior anexação. A ONU considera que o status final dessa cidade deve ser negociado entre as partes.

Os palestinos representam um terço de uma população de 882 mil habitantes de Jerusalém, embora não sejam maioria na parte leste da cidade anexada.

Em Bruxelas, Netanyahu defendeu a decisão do presidente americano de reconhecer Jerusalém como capital de Israel, pois "torna a paz possível".

"Jerusalém é a capital de Israel, ninguém pode negar. (O reconhecimento) não evita a paz, torna a paz possível, porque reconhecer a realidade é o fundamento da paz", disse Netanyahu em uma rápida declaração.

Reunião Erdogan-Putin

Os palestinos reivindicam Jerusalém Oriental como a capital do Estado ao qual aspiram. E querem ser apoiados pela comunidade internacional e pelo mundo árabe.

O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse no domingo que "a decisão tomada na quarta-feira (pelos Estados Unidos) pode colocar em perigo" os esforços para acabar com o conflito.

O presidente palestino, Mahmud Abbas, se encontrava nesta segunda-feira no Cairo para uma reunião com o presidente egípcio, Abdel Fatah Al-Sisi.

O Egito foi o primeiro país a assinar a paz com Israel. Até agora foram somente dois. O segundo é a Jordânia, que continua sendo, por razões históricas e diplomáticas, guardiã dos lugares sagrados de Jerusalém, incluindo a Esplanada das Mesquitas, o terceiro lugar sagrado do Islã.

A decisão de Trump também congelou as relações entre Israel e Turquia, recentemente restabelecidas.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, tenta agora se impor como o arauto da causa palestina e atacou Israel fortemente.

Nesta segunda-feira à noite, Erdogan recebia o presidente russo, dois dias antes da Turquia abrigar uma cúpula da Organização para a Cooperação Islâmica, que se centrará na questão de Jerusalém.

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