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Congo se dirige para grande crise humanitária

Embora em alguns casos as ONGs lancem advertências para chamar a atenção sobre uma crise, na RDC há indícios de que nos próximos meses as coisas realmente podem piorar muito

Agência France-Presse
postado em 12/12/2017 15:59

A República Democrática do Congo (RDC) pode viver em 2018 uma grave crise humanitária, como apontam os gigantescos deslocamentos populacionais, as centenas de milhares de crianças correndo risco de morte e os problemas de financiamento das ONGs registrados nos últimos meses.

"Há o risco de que a situação na RDC passe despercebida, quando em 2018 pode se tornar uma grande urgência", disse nesta terça-feira (12/12) Mohamed Abdiker, responsável pela Organização Internacional para as Migrações (OIM), em seu retorno de uma viagem a este país da África central, cuja instabilidade coloca todo o continente em perigo.

Embora em alguns casos as ONGs lancem advertências para chamar a atenção sobre uma crise, na RDC há indícios de que nos próximos meses as coisas realmente podem piorar muito.

O país, com uma população muito pobre apesar de suas riquezas minerais, viveu nos últimos 15 meses ao menos três conflitos diferentes: a intensificação da atividade de grupos armados na região de Kivu (leste), uma crise em Kasai (centro) desde setembro de 2016 e um conflito entre bantus e pigmeus em Tanganica (sudeste).

Esses confrontos provocaram em 2016 e 2017 os maiores deslocamentos internos de população do mundo, superiores aos de Síria, Iraque e Iêmen, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) e o Conselho norueguês dos Refugiados.

A RDC tem agora cerca de quatro milhões de deslocados (1,7 milhões novos este ano), segundo as mesmas fontes, uma cifra aproximada em um país com nove fronteiras diferentes e do qual não se sabe a população exata - entre 70 e 90 milhões de habitantes, de acordo com cálculos.

"As condições não devem melhorar antes de junho de 2018 porque as temporadas de plantação em 2017 se perderam", assegura o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef).

Coincidindo com a campanha de Natal, o Unicef lançou nesta terça um grito de alarme na região, onde "ao menos 400 mil crianças de menos de cinco anos sofrem de desnutrição aguda severa e podem morrer em 2018 se não receberem assistência de saúde e nutricional".

O Unicef afirma ter recebido somente "15% do financiamento necessário para responder às necessidades nutricionais das crianças em 2017".

O Programa Mundial de Alimentos menciona 250 mil crianças em perigo de morte nos próximos meses em Kasai. "A cada ano, 160 mil crianças na RDC morrem por causas relacionadas à desnutrição", afirmou a ONU em um comunicado em 30 de novembro.

Também existe uma epidemia de cólera que deixou mais de mil mortos, com mais de 50 mil casos suspeitos em 23 das 26 províncias do país em 2017, segundo o Ministério da Saúde.

Esta crise humanitária se agravou pela crise política. As autoridades adiaram as eleições até 23 de dezembro de 2018, irritando ainda mais a oposição radical que pede a renúncia do presidente Joseph Kabila antes do fim do ano.

Diante disso, o ex-primeiro-ministro Samy Badibanga fez um chamado internacional para uma conferência de doadores, e lembrou que "enquanto na Ásia 77 pessoas saem da extrema pobreza a cada minuto, na RDC 3,6 pessoas entram nela a cada minuto".

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