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Sanções congelam economia na fronteira entre Coreia do Norte e China

Em aplicação às sanções da ONU, as empresas norte-coreanas presentes na China tiveram que fechar em janeiro

Agência France-Presse
postado em 23/01/2018 15:42

Uma fábrica vazia em Dandong na China, cidade fronteiriça com Liaoning na Coreia do Norte. A fábrica está praticamente vazia depois que seus empregados norte-coreanos tiveram que retornar ao país, por conta das sanções feitas pela ONU com a Coreia do Norte.
Do lado chinês da fronteira norte-coreana, as sanções da ONU contra o programa nuclear de Pyongyang abalaram a economia. Uma fábrica deserta, restaurantes fechados e casas vazias são provas de sua dependência dos trabalhadores da Coreia do Norte.

A repercussão é evidente em Dandong (nordeste da China), cidade fronteiriça onde transita a maior parte do comércio bilateral. Em uma fábrica têxtil, as máquinas de costura estão paradas: as costureiras norte-coreanas tiveram que voltar ao seu país, com a aplicação das sanções da ONU.

O comércio com a Coreia do Norte desencadeou um boom econômico em Dandong, e uma zona econômica de cooperação foi construída nas margens do rio Yalu, que marca a fronteira.

Mas a imensa ponte de quatro pistas que liga a China à Coreia do Norte ainda não foi inaugurada, três anos depois do fim das obras. A construção custou quase 290 milhões de euros.

Pequim, o principal apoio econômico e diplomático da Coreia do Norte, votou em 2017 várias rodadas de sanções na ONU em resposta a testes nucleares e de mísseis norte-coreanos.

"Na economia de Dandong e na vida cotidiana do habitante médio, o impacto é claro", diz Lu Chao, pesquisador da Academia de Ciências Sociais da província de Liaoning (nordeste). "O comércio com a Coreia do Norte foi um pilar da economia local".

Um deus

O empresário Lin sabe disso muito bem. Ele se instalou em Dandong, estimulado pelas oportunidades econômicas e pelo baixo custo da mão de obra norte-coreana.

"Os norte-coreanos são disciplinados e trabalhadores", disse o empresário, que prefere não dar seu sobrenome. No ano passado, contratou 100 costureiras da Coreia do Norte, de entre 18 e 32 anos. Elas chegaram no dia 1 de setembro.

O contrato assinado por Lin detalhou as condições de trabalho: um dormitório limpo, três banhos quentes semanais e dois momentos por semana para "estudar as políticas e venerar" o líder norte-coreano Kim Jong-un. "Elas consideram seu líder como um deus", conta o empresário.

Antes, Lin enviava tecidos para a Coreia do Norte, onde as costureiras locais faziam jaquetas e casacos, depois levados à China. Como as primeiras sanções da ONU proibiram essa prática, ele escolheu trazer as trabalhadoras norte-coreanas para Dandong.

As últimas medidas da ONU ordenam o retorno dos trabalhadores da Coreia do Norte, um desastre para sua fábrica, que hoje está quase vazia, devido à falta de mão-de-obra chinesa competente e barata.

Segundo ele, dos 30 mil norte-coreanos que ainda trabalhavam em Dandong em agosto, 6 mil voltaram ao seu país.

Restaurantes e tratores

Na zona econômica de cooperação, a maioria dos apartamentos e restaurantes estão vazios.

"Não há nada", lamenta Yue Yue, um funcionário de uma agência imobiliária localizada na "Cidade de Cingapura", um complexo residencial de luxo. Apenas um terço das casas foram vendidas, e o preço das restantes teve que ser reduzido em 30%, explica.

Em aplicação às sanções da ONU, as empresas norte-coreanas presentes na China tiveram que fechar em janeiro. Entre elas, estavam muitos restaurantes. Isso afetou aproximadamente 90% das mercadorias importadas da Coreia do Norte. E as últimas medidas afetam as cargas que vão na direção oposta.

Wang Xueliang, à frente da empresa comercial Dandong Balance, diz que não pode mais enviar tratores, caminhões e carros para o país vizinho.

Antes, ele costumava vender uma ou duas unidades por mês para clientes norte-coreanos, que pagavam em yuanes ou dólares. Mas, segundo ele, a China proibiu todas as vendas de veículos para a Coreia do Norte no início de janeiro.

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