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Papa admite que recebe com frequência vítimas de padres pedófilos

A revelação do papa foi feita a um grupo de jesuítas latino-americanos durante uma reunião ocorrida em janeiro no Chile

Agência France-Presse
postado em 15/02/2018 15:48
A revelação do papa foi feita a um grupo de jesuítas latino-americanos durante uma reunião ocorrida em janeiro no Chile

Cidade do Vaticano, Santa Sé -
O papa Francisco se reúne com frequência e em particular com vítimas de padres pedófilos, segundo revelou o próprio pontífice, que enfrenta um dos maiores escândalos de seu pontificado por ter protegido um bispo acusado de encobrir muitos casos no Chile.

A revelação do papa foi feita a um grupo de jesuítas latino-americanos durante uma reunião ocorrida em janeiro no Chile. A notícia foi confirmada nesta quinta-feira pela assessoria de imprensa do Vaticano e mostra a preocupação do pontífice argentino de deter o escândalo da pedofilia na Igreja, que manchou sua recente visita ao Chile.

Os abusos sexuais cometidos por padres contra menores constituem a "maior humilhação que a Igreja sofreu", assegurou o papa ao ser indagado pelos jesuítas sobre um dos maiores escândalos que atingiu a credibilidade da instituição. "É horrível. É preciso ouvir quem sofreu abusos, homens e mulheres (...) Seu processo é muito duro. Ficam arrasados", reconheceu o pontífice durante a citada reunião a portas fechadas em 16 de janeiro.

A conversa completa será publicada no próximo número da revista da Companhia de Jesus, "Civiltà Cattolica", cujo diretor, Antonio Spadaro, autorizou a publicação de alguns trechos no jornal italiano Corriere della Sera. "Às sextas-feiras (...) geralmente me encontro com alguns deles", revelou o papa.

"Para a Igreja é uma grande humilhação, que não apenas mostra sua fragilidade como também seu nível de hipocrisia, digamos claramente", acrescentou. A defesa do papa à figura do bispo chileno Juan Barros, acusado de encobrir muitos casos de abuso sexuais cometidos pelo padre Fernando Karadima, gerou a ira das vítimas e de numerosos chilenos.

Após seu retorno a Roma, o papa pediu desculpas às vítimas dos abusos e decidiu enviar um investigador especial do Vaticano para analisar o caso de Barros. O próprio papa reconheceu durante a conversa que se pode cair na tentação de minimizar o fenômeno, um "consolo" que pediu para rejeitarem.

"Há os que digam: ;olhem as estatísticas, 70% dos pedófilos estão no âmbito familiar, dos conhecidos. Depois nos colégios, nas piscinas. A porcentagem de pedófilos que são padres católicos não chega a 2%, é de 1,6%. Não é para tanto;. Mas isso é terrível, ainda que fosse só um de nossos irmãos. Porque Deus o ungiu para santificar as crianças e adultos, e ele, ao invés de santificá-los, os destruiu", advertiu.

O caso Barros está se tornando uma das provas mais importantes para o papado de Francisco.

Como primeira medida, o papa decidiu enviar o bispo Charles Scicluna, arcebispo de Malta, considerado um dos maiores especialistas em crimes sexuais. Ele chegará ao Chile em 20 de fevereiro para investigar as acusações de encobrimento de abusos sexuais por Barros. O arcebispo ouvirá vítimas de Karadima e depois apresentará um relatório ao Vaticano.

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