Politica

Esquema em família com dinheiro do PAC

Filho de José Alcino Scarassati, ex-coordenador político do Ministério das Cidades, ganha licitação milionária de obras em Tocantins. O pai é suspeito de participar do esquema de fraudes no programa

postado em 26/06/2008 08:49
André Scarassati tem 26 anos, é estudante de direito e um fenômeno empresarial. Ele é dono da Construssati Serviços e Construções Ltda. A empresa tem menos de cinco anos de vida, não chega a 10 funcionários registrados e, mesmo assim, venceu neste ano a licitação de R$ 5.504.218,23 para construir 255 casas em Palmas, em Tocantins, num convênio celebrado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) da Habitação. A construtora aumentou em 52 vezes seu poder financeiro desde sua criação, em 2003. O estudante e empresário André Scarassati é filho de José Alcino Scarassati, exonerado na terça-feira do cargo de coordenador político do Ministério das Cidades. Alcino é suspeito de participar do esquema de desvio de dinheiro de obras do PAC. O convênio da licitação vencida por seu filho foi feito entre o Ministério das Cidades e o governo de Tocantins. Em evento no último 6 de junho no Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou as ordens de serviços para liberar o dinheiro das obras. Na sexta-feira passada, Alcino foi alvo da Operação João de Barro feita pela Polícia Federal. Policiais vasculharam seu gabinete no ministério em busca de provas. Alcino era o braço-direito do ministro da pasta, Márcio Fortes, do PP. Após a ação da polícia, ele tentou manter o assessor no cargo. Pressionado e preocupado em tirar o foco do ministério, Fortes não teve outra alternativa que não fosse demiti-lo. O Diário Oficial da União de 17 de março deste ano informa que no dia 11 daquele mês foi assinado o contrato que celebra a vitória da Construssati na licitação para construir as unidades habitacionais no Setor Taquari, em Palmas. Na época, Alcino Scarassati era um homem poderoso no ministério. Como coordenador político, recebia as demandas dos prefeitos. Alcino também é influente no Congresso. Já foi servidor do Senado. Deixou a Casa em 2004 para, logo depois, assumir o cargo de coordenador político no Ministério das Cidades. Ele saiu do Senado, mas seu filho conseguiu entrar. A Construssati venceu licitação para reformar no ano passado o Comitê de Imprensa, sala que abriga os jornalistas credenciados. A obra, concluída no começo deste ano, custou R$ 428.076,28. O gerente da empresa, Vítor Gonçalves da Costa, confirma que a construtora tem menos de 10 funcionários. ;É menos que isso, mas não sei precisar;, diz. A Construssati subcontrata outras construtoras para fazer o serviços. ;São parcerias;, explica Gonçalves. Uma das parcerias, aliás, rendeu processo na Justiça contra a empresa. A construtora LRC cobra desde o ano passado R$ 500 mil por obras de pavimentação asfáltica feitas em Lajeados, município de Tocantins. A empresa de André Scarassati não recebeu recursos só do Ministério das Cidades. Nos últimos anos, a construtora celebrou convênios, por exemplo, com ministérios da Agricultura, Educação e Defesa. A Construssati foi criada em 13 de outubro de 2003 com um capital social de R$ 20 mil. Em 2004, o contrato dela foi alterado para informar o aumento do capital para R$ 405 mil. Hoje, a Construssati declara ter R$ 1.050.000,00. André sempre foi dono de 99% da empresa e sua mãe, Maria Regina, do 1% restante. Viajando O Correio visitou ontem a sede da Construssati em Brasília. A empresa ocupa uma discreta sala num prédio do Setor Comercial Norte. Não há qualquer referência a ela na porta de entrada. Ontem, seu dono não estava no local. Segundo o gerente Vítor Gonçalves, André Scarassati está em viagem particular. Gonçalves é quem toca a empresa. Ele, por exemplo, assinou como testemunha as três alterações contratuais que informam o aumento financeiro da construtora. O gerente negou qualquer irregularidade nas licitações e a influência de José Alcino na obtenção das obras. Segundo ele, a empresa cresceu ao usar o capital de giro do dinheiro ganho nas licitações. ;Foram incorporados recursos das obras;, afirma. ;Não vejo disparidade;, ressalta. O Correio procurou o ministro das Cidades, telefonou para ele, mas não o localizou. José Alcino também não foi encontrado.

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