Politica

Projeto de irrigação é usado como moeda eleitoral

Programa de irrigação de Três Barras, em Cristalina (GO), foi usado na campanha de políticos em 1998. Reportagem do Correio mostrou que empreendimento, de R$ 35,8 milhões, jamais funcionou

postado em 27/07/2008 07:50 / atualizado em 22/09/2020 14:51

Fita de vídeo obtida pelo Correio mostra que o projeto de irrigação de Três Barras, em Cristalina, foi usado com moeda eleitoral no seu nascedouro, em 1998. Após dez anos e investimentos de 35 milhões de reais, o projeto de irrigação é apenas mais uma obra inacabada. Num comício em Três Barras, nas eleições de 98, o então deputado estadual Antonino Andrade, atual prefeito de Cristalina, pediu votos para a deputada Nair Lobo para garantir a continuidade do projeto. Antes dele, falou o verador Eliézer Bispo. Veja imagens do comício de 1998. O projeto de irrigação de Três Barras, em Cristalina (GO), hoje uma obra inacabada, foi usado como moeda eleitoral na campanha de 1998. Em palanque montado no núcleo rural, o então deputado estadual Antonino Andrade (PR-GO) afirmou: ;A única coisa que o político precisa do povo é o voto. Chega lá e diz: vou votar nele porque ele nos ajudou;. Em seguida, fez um pedido: ;Se a Nair Lôbo não estiver lá no Congresso, vamos ter dificuldades para aprovar os recursos restantes para terminar o projeto de vocês. Precisamos eleger Nair;. Reportagem publicada no Correio no último dia 21 mostrou que o projeto de Três Barras já consumiu R$ 35,8 milhões dos cofres públicos e jamais funcionou. Os equipamentos instalados apodrecem a céu aberto. Iniciado há 10 anos, o projeto de irrigação atenderia 182 famílias de pequenos produtores. Mal planejado, mostrou-se superdimensionado e economicamente inviável. Agora, o governo federal e o governo de Goiás querem investir mais R$ 20 milhões para concluir a obra. Os próprios agricultores afirmam que também esse dinheiro seria jogado fora. Auditoria da Controladoria-Geral da União (CGU) concluiu que a tendência é que a obra nunca venha a funcionar, por causa dos altos custos de operação. No comício de 1998, Antonino, atual prefeito de Cristalina, falou primeiro da candidata a deputada federal Nair Lôbo, eleita naquele ano. Mas ele pediu mais: ;Quero pedir apoio de vocês também para Iris Rezende. Maguito Vilela, o homem do pão, homem do leite. Peçam a todos os seus parentes que nos ajudem porque eles vão ajudar vocês também;. Antes do deputado, o vereador Eliézer Bispo (PR) relatou como começou o projeto de irrigação: ;Começou quando Antonino, secretário do Entorno, se preocupou com vocês. E, lá na secretaria, procurou mecanismos para começar a implantar esse projeto. Ele precisava de alguém influente na área federal, e foi buscar uma pessoa que sabe trabalhar, que gosta do povo. Foi buscar a deputada federal Nair Lôbo. Sem conhecer Cristalina, ela já se propôs a lutar lá na Câmara, para colocar no Orçamento a verba que está sendo liberada. Vocês estão vendo essas carretas carregadas de tubos? Isso é trabalho exclusivo de Antonino e Nair;. ;Vazaram; Na última quinta-feira, nove produtores de Três Barras se reuniram na sede do núcleo rural para receber um representante da prefeitura. Também estaria presente um representante do governo goiano. O objetivo da reunião era discutir a retomada do projeto. Não apareceu ninguém. Os agricultores ainda lembram daquele comício de 1998, quando a obra estava ainda no seu início. ;O que alimentava o projeto é que eles diziam que não teria custo nenhum;, lembra Emival Mamede, de 51 anos. O produtor acrescenta que, depois que o projeto fracassou, ;eles vazaram;. Ele se referia a Nair e Antonino. João Nunes Cavalheiro, de 64 anos, também lembra dos contatos com os políticos: ;Participei de muitas reuniões com os governadores Maguito Vilela e Marconi Perillo. Eu falei para eles que a captação de água estava no lugar errado. Na eleição para prefeito, quatro anos atrás, o Antonino disse que ia botar o projeto para funcionar. Mas até agora%u2026;. O presidente da Cooperativa de Três Barras, Belchor Ferreira dos Santos, falou da expectativa dos produtores locais: ;O pessoal pensa assim: ;Quero ver a coisa andar. Se o barco não afundar, eu entro nele;. No comício de 1998, Antonino lembrou como começou o projeto: ;O assentamento Três Barras tem sua história, e digo isso com prazer porque sempre participei do projeto. O presidente Fernando Henrique determinou que liberassem os recursos, porque ele faz questão de implantar aqui um modelo de irrigação para o Brasil. Algumas pessoas não acreditavam, e tenho certeza que hoje, com a chegada desses tubos, essas pessoas vão ter que acreditar. Isso está mostrando que o progresso já está presente, e vocês precisam acreditar que estamos lá para lutar por vocês;. Nova proposta Os integrantes da Cooperativa Agrícola de Três Barras defendem a implantação de um sistema de minipivô central. O custo de implantação para cada lote seria de R$ 55 mil. Pelo projeto original, incluindo os novos investimentos propostos (R$ 20 milhões), o custo médio por lote ficaria em R$ 306 mil. ;A solução é alterar o projeto. Como está, tem um custo muito alto para funcionar. É melhor cada produtor ter o seu kit de irrigação;, defendeu Emival Mamede, de 51 anos. João Nunes Cavalheiro, 64 anos, concorda: ;A solução é um pivô para cada assentado;. O Correio esteve em Cristalina esta semana e tentou falar com o prefeito. Ele não estava na prefeitura na quinta nem na sexta-feira, dia do seu aniversário. O vereador Eliézer Bispo foi indicado para falar pelo prefeito. ;Não nego nada do que disse. Só acho que vocês deveriam ver o que os produtores diziam na época. Não pense que esse projeto foi empurrado goela abaixo. Todos eles, inclusive o Belchor, elogiavam o projeto. Acho uma injustiça confrontar um discurso do Antonino em 1998 com o que dizem os produtores rurais hoje;. Eliézer confirma que ;o projeto surgiu quando ele (Antonino) era secretário do Entorno;.

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