Politica

Sangria na Saúde: R$ 70 milhões para balões e abadás

Prefeituras usaram ilegalmente verbas federais destinadas para a saúde com gastos supérfluos

postado em 28/08/2008 08:38
Marmitas, adega, televisão, pousada, tai chi chuan, cartão de Natal, fôlder, cachê de banda, pensão alimentícia, persianas, abadá, colchões, portas, salário do secretário de saúde, aluguel, bar, yôga, consultoria, gasolina, celular, acupuntura, óculos, curso de relaxamento, cortina, taxa de licenciamento, CD player e balões coloridos. Salão de beleza, tarifa de cheque especial, ar-condicionado, videocassete, enfeite natalino, colchões, suco de fruta, ração, notebook, funerária, conta de luz, camisetas, verduras, fechadura, xerox, gratificação para secretária, pão de queijo, internet, ventilador, tratamento de piscina, presentes, chocolates e multas de carro. Pelo menos R$ 70,3 milhões destinados a ações relacionadas a atividades específicas da área de saúde, definidas na lei e nos contratos com os municípios, perderam-se em gastos como os citados acima. Na quinta reportagem da série ;Sangria na Saúde;, o Correio e o Estado de Minas mostram os desvios na aplicação da verba para a saúde dos brasileiros. Nos 1.341 relatórios produzidos nos últimos cinco anos pela Controladoria-Geral da União (CGU), são citados 1.105 episódios em que prefeitos lançaram mão do recurso público para pagar despesas inimagináveis. Em alguns casos, para cobrir buracos no orçamento e pagar ações diferentes das conveniadas. Em outros, financiar momentos de lazer. Ao identificar as irregularidades, a CGU orienta os municípios a devolver os valores, mas não recebe a garantia de que haverá pagamento ou mesmo a reaplicação devida do recurso. Desvios Em Itapeva (SP), a lavradora Neide de Almeida, 22 anos, carrega um bebê de um mês. Caminha por duas horas e meia de casa até uma estrada, onde espera por um ônibus mais de 40 minutos. O calvário termina três horas depois, num posto de saúde. Neide saiu em busca de socorro para a filha, que tem febre alta. Neide e a filha representam dois desafios de Itapeva. O primeiro é reduzir o índice de mortalidade infantil (26,6 por 1 mil). O segundo é levar atendimento básico de saúde aos locais mais distantes. O posto de saúde mais próximo da casa de Neide, por exemplo, fica a 30 quilômetros. Os problemas ficaram mais evidentes depois que a Controladoria-Geral da União (CGU) fiscalizou, em 2005, como a prefeitura administra os recursos federais. Há desvio de recursos para transporte de pacientes, compras de equipamentos inexistentes e até falsificação de dados epidemiológicos. ;Reconhecemos as falhas e estamos lutando até hoje para consertá-las. Mas queria deixar claro que todas decorrem de outra administração;, defende-se o prefeito em exercício, Armando Gemignani (PMDB).

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