Politica

Derrotado na eleição, Maia desafia Cabral

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postado em 21/10/2008 08:48
Rio de Janeiro - Ninguém quer o seu apoio e, mesmo o candidato que ele apóia no segundo turno carioca, Fernando Gabeira (PV), faz pouco caso do seu peso político. Ele já foi o domador de eleições no Rio, vencendo as quatro últimas, três delas elegendo a si próprio, e hoje está no canto do picadeiro, no estranho papel de comentarista político de sua própria sucessão. Já foi comparado por seus detratores a Nero, o incendiário imperador romano, mas, a pouco mais de dois meses de deixar o cargo, prefere enxergar-se como Margareth Thatcher ou Tony Blair, primeiros-ministros britânicos apeados do poder depois de um ciclo de glória. César Maia (DEM) diz que o Rio está melhor do que quando assumiu a primeira vez, promete deixar em caixa para seu sucessor R$ 3 bilhões - a despeito das informações contrárias - e compara sua obra terminal, a Cidade da Música, na Barra da Tijuca, cujo custo já ultrapassou R$ 500 milhões, à capital federal. "Brasília também era uma loucura", diz ele. E arremata, com pouquíssima modéstia, que a péssima performance de sua candidata, a deputada Solange Amaral (DEM), pode ter sido um problema de comunicação. "Acho que se fosse possível o terceiro mandato eu venceria essas eleições", acredita. Pela primeira vez, o alcaide democrata descarta os planos para o Senado e diz o que provavelmente estará fazendo em 2010: enfrentando nas urnas o atual governador Sérgio Cabral (PMDB). Confira a íntegra da entrevista com César Maia Que balanço o sr. faz de seus 16 anos de poder - 12 deles exercidos diretamente - na Prefeitura do Rio? Os 16 anos respondem melhor: a população aprovou este ciclo, sendo que em minha última eleição por maioria absoluta no primeiro turno. Mas o sr. concorda que, nesse período, o Rio perdeu parte de sua importância política e econômica, tornando-se mais pobre, violento e desigual? Ao contrário: recuperou. Falta memória para 1992, com a cidade tomada por camelôs e pela desordem. Os dois candidatos à sua sucessão, Eduardo Paes e Fernando Gabeira, esse último apoiado pelo sr., dizem que vão pegar uma prefeitura quebrada. É fato? Qual a situação em que o sr. deixará o caixa da Prefeitura? Depende do que vão fazer com os R$ 3 bilhões que temos em caixa. Do que o sr. mais se orgulha nesse período? E do que se arrepende? De ter acordado todo dia às 4h30 e de ter dormido depois da meia-noite. É meu maior orgulho e também arrependimento pelas consequênciais em minha coluna. A Cidade da Música será concluída em sua gestão? Não é uma obra cara demais ou, no mínimo, pouco prioritária diante dos muitos problemas da cidade? Governa-se para as próximas gerações, além das próximas gerações. Brasilia também era uma loucura. O crescimento das favelas deveu-se, em parte ao menos, a equívocos na política habitacional de sua administração? Recebi (as favelas) crescendo 4% ao ano e entrego crescendo 1,5% ao ano. Uma enorme diferença. E com urbanização feita para 600 mil moradores. Por que o sr., apesar de todo o otimismo passado durante a campanha, não conseguiu levar sua candidata Solange Amaral a uma votação expressiva? Considera que houve um julgamento de sua gestão? Não sei. Era muito dificil para ela explicar um quadro de críticas. Sendo eu mesmo o candidato poderia explicar e criticar. Acho que se fosse possível o terceiro mandato eu venceria essas eleições. A corrida presidencial de 2010 já começou? O que o sr. estará fazendo nessa época? Provavelmente candidato a governador. O sr. se considera popular? Acha que, a partir de janeiro, poderá andar normalmente nas ruas sem ser incomodado? Tenho ido as ruas nessa eleição e com uma enorme receptividade. Isso nada tem a ver com a natural vontade de mudança. Vide Thatcher e Blair, dois ícones da politica.

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