Politica

Reeleição antipetista em Porto Alegre

Bloco de resistência ao PT garante permanência de Fogaça. Recondução de prefeito é fato inédito na capital gaúcha

postado em 27/10/2008 09:20
Os comitês dos dois candidatos à prefeitura de Porto Alegre ficam na mesma rua, separados por dois quarteirões. Depois das 17h, quando as urnas foram fechadas, cada um começou sua festa, com carros de som tocando os jingles de campanha. Não demorou muito para ver qual festa iria continuar depois do fim da apuração. Em menos de uma hora, a animação dos partidários do prefeito José Fogaça (PMDB) contrastava com o desânimo dos apoiadores de Maria do Rosário (PT). O prefeito, apontado como favorito por todas as pesquisas de opinião, liderou com folga a apuração desde a primeira urna. No fim, venceu com 58,9% dos votos. É a primeira vez que um prefeito é reeleito na capital gaúcha. Pouco antes das 19h, Maria do Rosário chegou a seu comitê. Ainda faltavam quase 150 mil votos para apurar, mas já não era possível disfarçar o resultado. Já sem a companhia dos ministros que estiveram com ela no início do dia, a candidata reconheceu a derrota. ;Quero cumprimentar o candidato eleito, José Fogaça, e desejar que ele tenha um bom mandato e cumpra os compromissos assumidos com a população de Porto Alegre.; A candidata reconheceu a existência de um voto antipetista na capital e reclamou de quem faz política ;com preconceito;. Segundo ela, o percentual de votação que ela atingiu ;é uma prova de que a Frente Popular está viva;. A Frente Popular é o bloco de esquerda que o PT sempre liderou em Porto Alegre. Apesar do discurso, ela não aconteceu nessas eleições. PCdoB e PSB, tradicionais aliados do PT seguiram um caminho próprio no primeiro turno, apoiando a candidatura de Manuela D`Ávila (PCdoB). No segundo turno, pressionados pelo Palácio do Planalto, manifestaram-se a favor da candidata do PT, mas nunca chegaram a oferecer apoio real. Foi a segunda derrota consecutiva do PT na cidade que administrou durante 16 anos e que se tornou uma vitrine do que era chamado de ;modo petista de governar;. E desta vez o desempenho foi pior que o de 2004. Na eleição passada, Fogaça teve uma vantagem de menos de sete pontos sobre o petista Raul Pont. Desta vez, a vantagem ultrapassou 18 pontos. O PT encolheu em Porto Alegre e viu consolidar-se um contingente expressivo de voto antipetista, em especial na classe média. A cidade é um dos locais onde a crise ética petista, provocada pelo escândalo do mensalão, causou mais estragos. Além disso, Fogaça comandou a formação de um bloco antipetista. Se depender dele, acontecerá novamente daqui a dois anos. ;Vou recomendar a Germano Rigotto (ex-governador e provável candidato do PMDB em 2010) que costure uma ampla aliança antes de lançar a candidatura;. O PT sentiu os efeitos do isolamento. O partido não tem mais o mesmo controle sobre os antigos aliados. O ministro da Justiça, Tarso Genro, reconhece que o partido precisa construir alianças mais amplas. Um modelo pode estar na vizinha Canoas, onde os petistas colheram sua única vitória no segundo turno gaúcho (leia texto nesta página). Lá, o cargo de vice foi entregue ao PP, um velho adversário na política gaúcha. Maria do Rosário não era a candidata preferida pela cúpula do PT, que apoiava o ex-ministro Miguel Rossetto. Mesmo assim, ela venceu a prévia do partido. Depois disso, teve o apoio formal de ministros, como Tarso, Dilma Rouseff, da Casa Civil, e Guilherme Cassel, do Desenvolvimento Agrário. Apesar de ser a candidata do governo, Rosário teve dificuldades para conseguir o apoio mais importante, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele resistiu até a última hora a gravar uma mensagem pedindo votos. Não queria irritar o PMDB, de Fogaça, que integra a base de apoio do governo federal e temia associar-se a uma candidatura com poucas chances de vitória. Só cedeu na última semana, quando já era tarde demais para mudar a eleição.

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