Politica

Em gravação, Protógenes admite espionagem no STF

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postado em 17/11/2008 09:21
Em Brasília, uma cidade guiada pelo interesse, o segredo é um projeto irrealizável. Há quatro meses, interessava ao governo esconder os desacertos da Satiagraha. Decidiu-se, então, guardar a sete chaves uma gravação produzida em reunião da PF. Reunião realizada em 14 de julho, que resultou no afastamento do delegado Protógenes Queiroz do leme da investigação contra Daniel Dantas e sua gente. De um lado da mesa, o delegado Protógenes a equipe dele. Na outra ponta, três mandachuvas da PF: Roberto Troncon, diretor da Divisão de Combate ao Crime Organizado, Leandro Coimbra, superintendente da PF em São Paulo e Paulo de Tarso Teixeira, chefe da divisão de Combate aos Crimes Financeiros. Agora, numa fase em que Protógenes foi convertido de investigador em investigado, interessa ao governo trazer o áudio da reunião à luz. De repente, a gravação ganhou as páginas. Entre as pessoas que a ouviram estão os repórteres Expedito Filho e Diego Escosteguy. O resultado da audição está exposto em texto veiculado pela revista Veja (só assinantes). Vão abaixo os principais detalhes das quase três horas de fita:. 1. Espionagem no STF: A certa altura, Protógenes pronunciou diante de seus superiores uma frase que, ouvida hoje, soa como uma confissão. Sem mencionar o nome do ministro Gilmar Mendes, o delegado contou que dispunha de informações sobre o que se passava na sala do presidente do STF:. "Nós sabíamos que tinha um HC [habeas corpus] já preparado, já um outro HC, que estava sendo gestado no gabinete no Supremo Tribunal Federal... né? E em escritórios de advocacia. Isso em trabalho de inteligência que nós...". Protógenes não concluiu a frase. Tampouco os delegados que o ouviam se preocuparam em pedir-lhe que esmiuçasse o tal "trabalho de inteligência". O ex-chefão da Satiagraha chegou mesmo a profetizar, em timbre de ironia: "Vão surgir notícias de que nós grampeamos o Supremo, que a Abin grampeou...". De fato, as notícias sobre o monitoramento ilegal do STF surgiram. Hoje, compõem o inquérito aberto contra Protógenes, sob a responsabilidade de Amaro Ferreira, o corregedor da PF. 2. Participação da Abin: A cúpula da PF cobrou explicações acerca da participação de agentes da Abin na Satiagraha. Protógenes soa peremptório na gravação: "Não houve. Os agentes da Abin apenas trocaram informações conosco". Hoje, sabe-se que a negativa é mentirosa. No curso da investigação contra Protógenes, a PF confirmou que o delegado cercou-se de uma legião de espiões. Contaram-se, até o momento, nada menos que 82 agentes da Abin enfiados ilegalmente no inquérito da Satiagraha. A participação foi muito além da mera "troca de informações". 3. Quebra de confiança: Em vários momentos, a reunião ex-sigilosa descamba para o bate-boca. A certa altura, o diretor Roberto Troncon queixa-se do fato de Protógenes ter sonegado aos seus superiores dados sobre o andamento da apuração. "Você tem uma teoria da conspiração e uma paranóia que contamina todo mundo", bateu Troncon. Protógenes apanhou calado. Troncon insistiu. Queria saber por que Protógenes agira em segredo. Coube a um outro delegado da Satiagraha dar as explicações: "Tem um compromisso com o juiz [Fausto de Sanctis, responsável pelo processo contra Daniel Dantas]". O delegado do time de Protógenes acrescentou: "Esta não é uma operação como as outras. Ela envolve corrupção no alto escalão dos três poderes". Como se vê, há muito por investigar em relação à ação deletéria de Protógenes. Mas a platéia também aguarda ansiosa pelo desfecho da apuração de toda essa "corrupção no alto escalão dos três poderes".

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