Politica

O jogo duplo de Michel Temer no Congresso

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postado em 03/05/2009 08:57
Quando assumiu o cargo em fevereiro deste ano, o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), disse que sua meta era fazer com que os deputados não encontrassem problemas para caminhar no meio da população. Não sabia, naquela hora, o quão difícil seria realizar esse projeto. Três meses depois da posse, o presidente já coleciona anúncios de medidas radicais para acabar com as benesses à custa do erário, mas também junta ao currículo recuos e mudanças de postura. Um vaivém de posições, resultado da linha tênue por onde precisa caminhar para ficar bem com a opinião pública, sem confrontar-se com os deputados acostumados à regalias bancadas pelo dinheiro do contribuinte. As tentativas de Temer de agradar a dois lados com interesses tão distintos tem rendido a ele críticas dos próprios pares, que o acusam de ser guiado pela imprensa, e até comentários de saudosismo à postura agressiva que seu antecessor, Arlindo Chinaglia (PT-SP), costumava adotar em relação aos críticos do Parlamento. Consenso entre os deputados insatisfeitos é o fato de que não são raras as vezes em que o novo presidente recua de posições depois de anunciá-las. Para os satisfeitos e aliados do peemedebista, no entanto, as mudanças fazem parte de uma estratégia bem pensada para que ele consiga driblar as resistências e concretizar os projetos a que se propôs. Um exemplo citado pelos entusiastas do estilo Temer é o fato de que mesmo depois da choradeira e das ameaças dos parlamentares, em especial os que compõem o baixo clero, as regras de restrições para o uso das passagens aéreas sairam da forma como o presidente queria desde o início. Entre as posições que alguns encaram como recuo e outros como estratégia, estão decisões de Michel Temer referentes ao uso da verba indenizatória. Em 11 de março, numa tentativa de agradar à opinião pública, o presidente descartou a hipótese que propunha a extinção da verba e a incorporação do valor de R$ 15 mil aos vencimentos dos deputados. Na ocasião, disse que a atitude poderia ser interpretada como um reajuste em momento inoportuno. O tempo passou e um mês depois o discurso era outro. No início de abril, Temer, no plenário, defendeu a mudança alegando que a incorporação iria representar economia aos cofres públicos e reduziria os gastos da Casa. A proposta voltou a ser discutida com os líderes, mas ainda não houve acordo. Recursos A verba também foi motivo de mudança de postura quando o assunto foi o uso dos recursos para pagamento de despesas com alimentação. Depois de decidir em 30 de março que a Câmara não iria mais ressarcir gastos com restaurantes, pesquisas, serviços de assessoria e trabalhos técnicos, a Mesa Diretora cedeu às pressões dos deputados e sete dias depois retirou as restrições referentes à alimentação. Temer também mudou de ideia sobre acabar com o auxílio-moradia de R$ 3 mil concedido aos parlamentares que não ocupam imóveis funcionais. Depois de demonstrar-se simpático à proposta apresentada pelo quarto-secretário Nelson Marquezelli (PTB-SP) de reformar alguns apartamentos e aumentar o número de imóveis disponíveis para os deputados, Temer recuou e decidiu deixar tudo com está. A possibilidade de gastar R$ 150 milhões com a obra não foi bem recebida pela sociedade e o fim do auxílio ; que consome cerca de R$ 13 milhões por ano ; não agradou em nada aos parlamentares. Não são raros os casos em que deputados recebem o benefício, apesar de terem imóveis próprios em Brasília. Entre pressões e interessados, Temer caminha à procura de estratégias que lhe possibilitem aproveitar bem a visibilidade nacional do seu cargo, sem no entanto partir para o enfrentamento com os deputados, cujo apoio é determinante para sua atuação à frente da Câmara. Leia entrevista de Michel Temer na edição impressa do Correio Braziliense

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