Politica

PSDB ainda não definiu qual discurso usar para combater a candidatura de Dilma

Josué Nogueira
postado em 14/01/2010 09:01

Partido que pretende tomar o poder do PT, o PSDB segue à procura de um discurso de oposição. Presidente nacional da legenda, o senador Sérgio Guerra (PE) tem repetido que o partido não vai disputar a eleição com o presidente Lula e, sim, com a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Frisa reiteradamente que "Lula não é candidato", evidenciando que o confronto direto com o presidente será evitado.

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, costuma endossar a tese. Quando seu nome ainda era cotado para a corrida ao Palácio do Planalto, ele afirmou, em visita ao Recife, em agosto, que o que interessava em 2010 era a discussão do pós-Lula. Sem meias palavras, reconheceu que tecer críticas à bem avaliada gestão do petista é um tiro no pé.

Agora, a menos de dez meses da eleição e a pouco dias da confirmação da pré-candidatura do governador de São Paulo, José Serra, à presidência, o PSDB continua entre indeciso ou temeroso no que diz respeito a argumentos para combater a candidatura petista. Já há quem acredite que a preocupação dos tucanos em não atacar Lula pode confundir o eleitor e facilitar as coisas para Dilma.

Numa avaliação pragmática, a cautela que deixa os tucanos sem discurso decorre, principalmente, da impossibilidade de formular críticas contra aquilo que eles sempre defenderam. Explica-se: ao perder o poder, os tucanos viram o PT deixar de lado ideais difundidos na campanha e apoderar-se dos programas sociais e da política econômica do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, antecessor de Lula. Em outras palavras, assistiram o PT dar prosseguimento a iniciativas exitosas, tirar a paternidade de projetos seus e deixá-los sem bandeiras.

[SAIBAMAIS]Filiado ao PSDB e presidente do Instituto Teotônio Vilela em Pernambuco, o cientista político e professor André Régis atesta que a continuidade de projetos tucanos pelo atual governo inviabiliza um discurso construído a partir de possíveis erros na economia ou na área social. Lembra que o Bolsa Família surgiu da junção dos programas Bolsa Escola, Vale Gás e Vale Alimentação, de FHC, e destaca que na economia o único senão refere-se à dosagem das taxas de juros.

Ética

Já a questão ética, que poderia ser levada ao palanque tucano, é condenada por Régis. Ele entende que o tema não tem aderência nas ruas. "O eleitor não gosta de quem assume essa postura de que ;comigo será diferente;. Eleitoralmente isso não garantiu sucesso a ninguém".

Diante disso, adianta ele, o partido deve centrar fogo na biografia de bom gestor de José Serra. E só. Nem mesmo um contraponto com a inexperiência administrativa de Dilma e o fato de ela jamais ter sido testada nas urnas deve ser feito. "Vamos mostrar o candidato como o mais preparado para dirigir o país", ressalta, acrescentando, todavia, que a pré-candidata petista tem uma biografia estreita. "Ela não é unanimidade nem mesmo no PT. Por si só, não vai avançar. O eleitor não acredita nos números inflados apresentados por ela para defender ações do governo".

Por outro lado, complementa Régis,é importante salientar que o governador paulista foi quem mais ganhou musculatura política no país no período em que Lula esteve à frente do governo federal. "Serra já provou que é bom gestor. Em áreas onde o governo Lula decepciona, como saúde e segurança, temos o que mostrar em São Paulo".

Dilma e seus pontos vulneráveis
- Aposta pessoal de Lula pela impossibilidade de lançar nomes de peso que foram chamuscados pelo mensalão
- Nunca foi testada nas urnas
- Pesou negativamete o episódio em que seu currículo constava mestrado e doutourado não cursados
- O apagão de novembro de 2009 foi apontado pela oposição como resultado da pane administrativa do tempo em que ela foi ministra de Minas e Energia
- Como o decreto para criação do Programa Nacional de Direitos Humanos passou pela Casa Civil, ficou no ar a participação da ministra na formulação de medidas polêmicas

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