Politica

Manobra altera o rumo do marketing do PT

Comando de campanha da ministra Dilma orquestra veto ao deputado que radicalizou a campanha derrotada de Marta Suplicy

postado em 20/02/2010 10:22
A montagem da cúpula petista responsável por tocar o partido na eleição presidencial sofreu intervenção do comando da campanha da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. Para afinar o marketing eleitoral com a Secretaria Nacional de Comunicação, os coordenadores e os deputados federais vetaram o nome do deputado estadual de São Paulo Rui Falcão, homem de confiança da ex-prefeita Marta Suplicy, e optaram pelo parlamentar André Vargas (PR).

A manobra foi orquestrada pelo marqueteiro João Santana, que bateu de frente com Falcão durante a campanha de reeleição de Marta, em 2008. Na ocasião, a petista foi derrotada justamente por José Serra (PSDB), o atual governador de São Paulo e provável candidato à Presidência. Os deputados federais apoiaram a decisão por se sentirem sub-representados na Executiva Nacional que será anunciada hoje após o 4; Congresso do PT oficializar a ministra Dilma como pré-candidata ao Planalto.

Falcão foi o responsável pela elevação do tom da campanha de Marta contra o prefeito da capital paulista, Gilberto Kassab, o que colocou Marta em rota de colisão (1) com Santana, que não deu aval à peça publicitária considerada apelativa. Para o grupo da ex-prefeita não se sentir menosprezado na nova Executiva, o deputado estadual ;caiu para cima;. Ele deverá ser confirmado como primeiro vice-presidente da legenda. Um cargo de maior hierarquia partidária, mas de caráter consultivo, sem poder de decisão nem orçamento.

Todo esse arranjo ocorreu numa reunião tensa da tendência majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) na noite de quinta-feira, após o primeiro dia do congresso petista. Vários nomes foram testados antes de Vargas como opção a Rui Falcão. O presidente da legenda, José Eduardo Dutra, primeiro apoiou uma proposta de integrantes da antiga Executiva Nacional de colocar o gaúcho João Motta no cargo. Motta tinha como padrinhos os secretários de Finanças, Paulo Ferreira, e de Comunicação, Gléber Naime.

Os deputados sentiram-se negligenciados e reagiram dizendo que não aceitariam um nome de pouca expressão nacional no cargo. Dutra recuou e passou a negociar outros nomes. ;Esse posto que vai fazer propaganda, vai fazer a comunicação na campanha, não poderia ficar com uma pessoa que ninguém conhece;, relatou um petista sobre João Motta. ;A bancada bateu o pé para participar mais porque a comunicação é estratégica;, emendou.

Silêncio

Depois de trocas de farpas, a reunião discutiu qual o nome melhor representante dos deputados federais. A primeira sugestão apresentada foi o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha (SP). Os integrantes da corrente majoritária, que reúne 60% da militância, entenderam que a opção seria negativa para a campanha de Dilma Rousseff por se tratar de um parlamentar envolvido com o escândalo do mensalão. ;Ninguém falou em mensalão, mas ficou claro que esse era o motivo para algumas pessoas serem vetadas;, disse um participante da reunião.

O nome de Vargas agradou por ser um deputado representante dos estados do Sul, uma maneira de compensar o viés paulista da nova composição e ter um posicionamento fechado com os interesses do governo. Os outros cargos da Executiva Nacional deverão ser ocupados pelo ex-ministro da Saúde Humberto Costa (2; vice-presidente), os deputados Geraldo Magela (3; vice) e José Eduardo Cardozo (Secretário Geral), João Vaccari Neto (Finanças) e Jorge Coelho (Mobilização). Um petista de uma corrente minoritária classificou assim a discussão do campo majoritário. ;Eles estão em guerra;.

1 - Tiro no pé
A peça de campanha de Marta Suplicy em 2008 considerada apelativa questionava se o eleitor tinha conhecimento sobre a vida do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), que buscava a reeleição. A peça questionava: ;Você sabe mesmo quem é Kassab? Sabe de onde ele veio? Qual a história do seu partido?;. Em outra parte: ;Ele é casado? Tem filhos?;. A campanha foi considerada um tiro no pé e tornou mais áspera a imagem de Marta.

"Ninguém falou em mensalão, mas ficou claro que esse era o motivo para algumas pessoas serem vetadas"
De um participante da reunião que definiu o nome de André Vargas


Análise da notícia

Rédeas curtas

A disputa pela Secretaria Nacional de Comunicação mostra como a cúpula do PT tratou de forjar a ferro e fogo a tese do tudo pela campanha da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Ao colocar um deputado de pouca expressão nacional e afinado com os interesses governistas, o partido abre mão de decisões e deixa para a cúpula eleitoral as rédeas não só sobre o tom da campanha de sua pré-candidata, como também das peças institucionais da legenda.

A eleição de outubro é tratada como sensível e difícil. Ninguém quer um descompasso entre as instâncias que possa prejudicá-la no embate, provavelmente contra o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). O pleito não se limita à disputa entre as realizações do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (1995-2002). Trata-se de uma eleição com um fator de imprevisibilidade que é a candidata petista, nunca testada pelas urnas. E quanto menor o fator de incógnita, mais fácil ou menos complexa a tarefa de manejar a eleição. Dentro do PT, isso só se consegue com centralismo. Divisão de poderes e tarefas causa conflito de versões e teses diferentes. (TP)

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