Politica

Políticos cassados tentam a redenção nas urnas

Três ex-governadores e um ex-senador, que tiveram a perda de mandato decidida pelo Tribunal Superior Eleitoral, querem voltar ao poder. A maioria vai disputar na condição de favorito, mesmo com um histórico de condenações que vai de compra de votos a abuso de poder econômico

Ivan Iunes
postado em 26/04/2010 07:54
Defenestrados de seus mandatos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por uma sorte de crimes que vão de abuso de poder econômico até a compra de votos, quatro políticos tentarão retornar ao palco político durante as eleições de outubro, a maioria na condição de favorito. Cassados no ano passado, os ex-governadores da Paraíba Cássio Cunha Lima (PSDB) e do Tocantins Marcelo Miranda (PMDB) sonham em voltar aos holofotes no Senado Federal. Já o ex-governador do Maranhão Jackson Lago (PDT) e o ex-senador Expedito Júnior (PSDB-RO) tentarão um mandato como governador em seus respectivos estados. À exceção de Lago, os políticos com histórico recente de cassação lideram as pesquisas.

Os quatro políticos perderam os mandatos por decisões do TSE devido a irregularidades durante as eleições de 2006 (veja quadro). Por determinação da Justiça, três deles tiveram de entregar os cargos para os adversários diretos nas eleições de 2006. Jackson Lago passou o bastão da chefia do Executivo maranhense para a então senadora Roseana Sarney (PMDB). Cunha Lima abriu as portas do Palácio da Redenção para José Maranhão (PMDB) e Expedito Júnior deixou a cadeira no Senado para Acir Gurgacz (PDT). Apenas Marcelo Miranda não teve o desgosto de ver o cargo cair nos braços do principal adversário. A Justiça decidiu que, como Miranda havia vencido o pleito no primeiro turno, o novo governador de Tocantins deveria ser eleito pela Assembleia Legislativa em eleição indireta.

O escolhido acabou sendo um aliado do ex-governador, o então deputado estadual Carlos Gaguim (PMDB). Agora candidato à reeleição, Gaguim deve formar uma chapa puro-sangue em Tocantins, com Miranda para o Senado e o atual senador peemedebista Leomar Quintanilha, candidato à reeleição. Os maiores adversários do ex-governador vêm da oposição ao governo federal, aglutinados em torno do PSDB. A aliança tucana terá o deputado federal Eduardo Gomes (PSDB) e o senador João Ribeiro (PR) candidatos ao Senado. Wilson Siqueira Campos (PSDB), algoz de Miranda no processo julgado pelo TSE, disputará a chefia do Executivo de Tocantins.

Outro ex-governador que escolheu o Senado como palco da ;ressurreição política; é o tucano Cássio Cunha Lima. Como havia sido reeleito em 2006, a Justiça proíbe uma nova candidatura ao governo. E um ano depois de perder o mandato, Cunha Lima é o franco favorito para ocupar uma das cadeiras em disputa nas eleições de outubro. A última pesquisa encomendada pela Consul/Correio da Paraíba na semana passada mostra o ex-governador com 48,7% das intenções de voto. O segundo colocado é o atual senador Efraim Moraes (DEM), com 32,77%, seguido por Vital Filho (PMDB), com 19,22%. Na Paraíba, os tucanos tentarão ganhar cargos no governo apoiando o ex-prefeito de João Pessoa Ricardo Coutinho (PSB). O atual governador, José Maranhão (PMDB), concorrerá à reeleição.

Contragolpe
Cassado em abril do ano passado pelo TSE, o ex-governador do Maranhão Jackson Lago preparou um contragolpe para retornar ao cargo ; ele se diz vítima de um complô. A estratégia é conquistar novamente nas urnas o direito de governar o estado, impondo uma humilhação à família Sarney. O pedetista é nome forte no interior, mas tem pela frente pelo menos uma grande batalha para ter chances de vencer a atual governadora, Roseana Sarney, candidata à reeleição. A cotação de Lago está ligada à capacidade de o ex-governador atrair o apoio do PSDB. ;É um dever que me foi imposto pelo ;golpe judiciário;. Fui cassado e tenho que ouvir o povo. Saber o que eles acham;, disse Lago. Levantamentos informais colocam o ex-governador com mais de 20% das intenções de voto para o governo do Maranhão, atrás de Roseana.

Em Rondônia, o ex-senador Expedito Júnior (PSDB) pretende alçar voos mais altos. Vai disputar em outubro o governo do estado, na condição de favorito. Ainda não há pesquisas oficiais, mas levantamentos internos do partido apontam o tucano com 36% das intenções de voto, à frente dos principais concorrentes: João Cahulla (PPS), Confúcio Moura (PMDB) e Eduardo Valverde (PT). O presidente do diretório estadual do PSDB em Rondônia, Hamilton Casara, avalia que a cassação não afetou negativamente a imagem de Expedito perante a população. ;Grande parte dos eleitores sabe que ele teve um desempenho parlamentar significativo. Ele é um líder e tem visitado de três a quatro municípios por dia;, afirma Casara.


Tentativa de homicídio
O ex-governador da Paraíba Cássio Cunha Lima pode não ser o único do clã a voltar aos mandatos políticos nas eleições de outubro. O patriarca da família, Ronaldo Cunha Lima (PSDB), estuda ser suplente na chapa à reeleição do atual senador
Efraim Moraes (DEM-PB). Ex-governador do estado, Ronaldo renunciou ao mandato de deputado federal em 2007 para escapar de um processo por tentativa de homicídio contra o adversário político Tarcísio Buriti, em dezembro de 1993. Uma semana antes de o caso ser julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o patriarca dos Cunha Lima abriu mão do mandato e, consequentemente, do foro privilegiado. A manobra livrou o ex-deputado de uma condenação. De volta à primeira
instância, o caso prescreverá sem julgamento.


Para saber mais
Instâncias julgadoras

Os quatro políticos cassados por irregularidades nas eleições de 2006 só perderam os mandatos depois da condenação definitiva pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Nos casos dos tucanos Cássio Cunha Lima e Expedito Júnior, os processos foram abertos pelos ministérios públicos estaduais e, por isso, tiveram um primeiro julgamento em primeira instância pelos respectivos tribunais regionais eleitorais (TREs).

Já os governadores Marcelo Miranda (PMDB) e Jackson Lago (PDT) foram denunciados pelos partidos rivais e, por isso, acabaram julgados diretamente pelo TSE. Os dois tentaram, inclusive, reverter a decisão, solicitando julgamentos prévios pelos TREs. Como foram julgados apenas por crimes eleitorais, a pena aplicada foi a perda imediata do mandato e a inelegibilidade por três anos, contados a partir da data da eleição, em outubro de 2006. Estão todos elegíveis para o pleito deste ano. (II)

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação