Politica

Um favor para os fantasmas

Médico fez o exame admissional das servidoras contratadas irregularmente sem a guia de encaminhamento do RH do Senado, mas a pedido do pai da acusada de participar da fraude

postado em 29/05/2010 08:03
Mais uma funcionária do Congresso é envolvida no esquema de contratação de servidores fantasmas que atinge o gabinete do senador Efraim Morais (DEM-PB). Desta vez, as denúncias atingem a Câmara, no gabinete do filho do senador, o deputado Efraim Filho (DEM-PB). A secretária parlamentar Valéria Crysthina Lacerda de Vasconcelos, lotada no gabinete de Efraim Filho desde março de 2009, atendeu a pedido do pai de Mônica da Conceição Bicalho, o ex-motorista do senador Efraim conhecido como ;Bicalho;, e pediu que seu marido, o pediatra Felipe Lacerda de Vasconcelos, fizesse o exame admissional de Kelriany Nascimento da Silva, 32 anos, funcionária fantasma do Senado.

Os exames admissionais de Kelriany e de sua irmã Kelly Janaína Nascimento da Silva foram feitos de maneira informal, sem guia de encaminhamento do setor de Recursos Humanos do Senado e por profissionais que não atuam na medicina do trabalho. O laudo de aptidão de Kelly também foi realizado por médica que prestou ;favor; à família Bicalho para viabilizar o processo de contratação das fantasmas. A cirurgiã Caroline Neiva Mendes afirmou, em depoimento à Polícia Legislativa do Senado, que é da mesma igreja que as irmãs Mônica e Kátia da Conceição Bicalho, supostas recrutadoras das estudantes que estavam na folha de pagamento do Senado sem nunca terem trabalhado na Casa. ;Elas são da mesma igreja. A médica contou que tanto a Mônica quanto a Kátia fizeram um pedido a ela, para fazer o exame;, informou o diretor da polícia do Senado, Pedro Ricardo Araújo de Carvalho.

A polícia do Senado vai quebrar o sigilo bancário de Kelriany e Kelly para apurar o destino dos salários pagos durante 13 mesesA funcionária do gabinete de Efraim Filho mostrou-se indignada por envolver o marido no escândalo dos servidores fantasmas, ao atender pedido do motorista do senador. Valéria afirmou que se sentiu enganada pelo pai de Mônica. ;Você nunca acha que uma pessoa que trabalha com você vai te envolver em um esquema desses. As pessoas ficam sabendo que meu marido é médico e pedem favor. Foi o pai da Mônica que pediu para atender. Até pensei que fosse para a filha dele.; Valéria também trabalhou no Senado, lotada na Primeira-Secretaria, com o senador.

Depoimento
O deputado Efraim Filho afirmou que não tem ligação com a história, apesar de Valéria ser lotada em seu gabinete. ;Da minha parte, não tenho nada a ver com isso. Uma funcionária que tem uma aproximação lá, tem um marido que é médico e teve indicação lá, de um servidor do Senado, que era servidor da Câmara.; Depois dos depoimentos de Mônica e Kátia, previsto para segunda-feira, o pai das supostas recrutadoras será chamado para prestar esclarecimentos à Polícia Legislativa. Ontem, os investigadores ouviram os médicos que fizeram o exame admissional das estudantes. A funcionária do gabinete de Efraim Filho também será chamada a depor. Cinco funcionários do Congresso já tiveram o nome envolvido no escândalo das fantasmas. Com o depoimento dos médicos ontem, mais dois trabalhadores são acrescentados à lista de investigação.

O diretor da Polícia do Senado informou que pedirá a quebra do sigilo bancário de Kelly e Kelriany para apurar o destino do salário pago pela Casa durante 13 meses para as supostas funcionárias fantasmas. O advogado das estudantes, Geraldo Faustino, afirmou que a quebra de sigilo é de extrema importância para comprovar que as irmãs não ficaram com o dinheiro. De acordo com Faustino, Kelly e Kelriany não tinham conta-corrente antes de serem contratadas irregularmente pelo Senado. As estudantes mantinham apenas uma poupança.

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