Politica

Contrabando na LDO

Relatório diz que a União cobrará da indústria do tabaco a conta pelo tratamento de fumantes

postado em 24/06/2010 07:00
Em vez de novo projeto, Tião Viana prevê medida em diretriz orçamentáriaA Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2011 traz um reforço de recursos até então inédito na área de saúde. Como complemento para o orçamento do setor, um dos mais dispendiosos para qualquer governo, a União deve começar a cobrar das indústrias brasileiras de cigarro a conta pela alta incidência de câncer e de doenças cardiovasculares entre fumantes. Segundo o texto do relatório final da LDO, de autoria do senador Tião Viana (PT-AC), o governo federal passaria a acionar na Justiça as indústrias do tabaco, com o objetivo de ressarcir o Sistema Único de Saúde (SUS) pelos gastos com fumantes doentes em razão do cigarro.

A proposta de compartilhar o custeio dos tratamentos com as indústrias que fabricam os cigarros partiu exclusivamente do Legislativo e surpreendeu o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Até o fim da tarde de ontem, ele não sabia que o relatório da LDO apresentado no Senado incluía a medida como fonte de recursos para a saúde pública. Temporão elogiou a iniciativa e disse que vai analisar o texto em discussão no Congresso. ;Sempre defendi que as indústrias que fabricam produtos potencialmente nocivos à saúde participassem, de uma forma ou de outra, do financiamento do tratamento das doenças pelo sistema público;, afirmou ao Correio.

Além de focar o cigarro, uma droga lícita, o relatório da LDO em apreciação no Senado prevê mais recursos para o combate ao crack, a droga que mais avança entre os jovens e que passou a ser alvo de sucessivas campanhas dos governos federal e estaduais. Não deve haver limitação de empenhos, conforme o texto da LDO, de despesas do Ministério da Saúde referentes à prevenção do consumo e ao tratamento de usuários do crack. O valor destinado ao combate à droga pode ficar em torno de R$ 100 milhões.

Saúde
No caso do cigarro, o senador Tião Viana sustenta que a cobrança das indústrias de tabaco deve fazer parte da lei orçamentária porque os gastos com os problemas de saúde de fumantes têm impacto relevante nas despesas do Ministério da Saúde e ;tiram recursos de outras áreas;. O relator da LDO sugere que a obrigação de ressarcimento de pessoas com câncer ou com problemas cardiorrespiratórios pode ser estabelecida por meio de uma portaria editada pelo governo, após o Congresso aprovar a sugestão incluída na LDO.

;O SUS atende a todos, cobre o tratamento das pessoas com câncer e doenças cardiovasculares;, disse o ministro da Saúde. Temporão defende que a indústria do tabaco participe com ;recursos extras; no tratamento, principalmente a partir do aumento do preço final do maço de cigarro. ;No Brasil, esse preço é muito barato, nem se compara com outros países. ;As indústrias de cigarro sustentam que ainda não foram informadas sobre a inclusão da medida no relatório da LDO.

A votação do relatório da LDO está prevista para ocorrer no Senado até 1; de julho. Outras medidas são o aumento do salário mínimo conforme a expansão do Produto Interno Bruto (PIB) ; podendo chegar a 550 reais em 2011 ; e a previsão de recursos prioritários ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Reajuste aprovado
Depois da aprovação de reajuste para servidores da Câmara e do Executivo, o Senado também abriu o pacote de bondade para os funcionários da Casa. O plenário aprovou ontem plano de carreira que custará R$ 464 milhões até 2011. O reajuste médio no salário dos funcionários do Senado será de 25%. O maior salário da Casa chegará a R$ 26 mil. O primeiro-secretário, Heráclito Fortes (DEM-PI), afirmou que a proposta deve ser votada na Câmara na próxima semana para ir à sanção presidencial, que não pode ultrapassar 2 de julho.

Apesar do aumento, a proposta limita, no entanto, em 90% as horas extras pagas aos servidores. Na primeira versão da proposta, a Casa calculou o impacto nas contas em R$ 379 milhões. Nova versão do relatório aumentou as despesas para R$ 464 milhões para corrigir, de acordo com a diretoria-geral, a retirada do adicional de especialização, que compunha os vencimentos dos servidores.

A apresentação do plano de carreira dos funcionários do Senado foi marcada por grande polêmica. A Mesa Diretora aprovou o parecer sem a assinatura do PT, representado pela senadora Serys Slhessarenko (MT). A parlamentar defendeu discussão mais aprofundada do plano antes da votação. De acordo com a petista, o Senado deveria fazer um levantamento sobre o valor global recebido pelos servidores para conceder aumento escalonado, para acabar com a discrepância salarial existente na Casa.

O vice-presidente do Senado, Marconi Perillo (PSDB-GO), comemorou a aprovação. Segundo o parlamentar, os servidores estavam sem reajuste há cinco anos. Heráclito rebateu críticas do senador Pedro Simon (PMDB-RS) afirmando que a atual Mesa Diretora não estava na Casa quando o Senado aprovou o ;trem da alegria; de 1984 que onerou as despesas do Legislativo.

Só este ano, o reajuste dos servidores do Senado custará R$ 217 milhões aos cofres públicos. O primeiro-secretário alega que o aumento estava previsto no Orçamento aprovado para 2010 e que a Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2011 já reserva aproximadamente R$ 400 milhões para o impacto do reajuste no próximo ano. A folha de pagamento do Senado custa atualmente R$ 2,1 bilhões por ano. (JJ)

Ouça trechos da entrevista com o Ministro da Saúde José Gomes Temporão

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