Politica

Presidente Lula despede-se do Conselhão

Na última reunião com lideranças econômicas, presidente defende a importância do grupo e critica medidas tomadas na área por governos anteriores

Igor Silveira
postado em 03/12/2010 09:43
Presidente agradeceu o apoio recebido durante o mensalão, classificado por ele como Na contagem regressiva para deixar o cargo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem passado por despedidas bastante simbólicas. Ontem, a 36; plenária do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) marcou mais um desses atos. Criado em 2003 e formado por cerca de 150 lideranças, o grupo conhecido como Conselhão nasceu com a desconfiança de uma parcela dos participantes, que chegou a realizar uma reunião paralela antes do primeiro encontro, com o receio de que alguns assuntos pudessem ser manipulados à revelia dos principais interessados. No último discurso feito como presidente da República no CDES, Lula agradeceu o apoio dos integrantes ao longo dos dois mandatos e ressaltou a união do conselho nos momentos mais difíceis dos últimos oito anos, especialmente, na crise mais grave da gestão petista, em 2005, durante o auge do mensalão.

O presidente classificou o episódio como ;uma tentativa de golpe;. Lula se referia às acusações de pagamentos de mesadas a parlamentares para que matérias de interesse do governo federal transitassem sem grandes entraves. Ainda no âmbito das relações políticas do mandato petista, Lula alfinetou os parlamentares que se posicionaram contra a criação do Conselhão.

;Quando estávamos para nos reunir pela primeira vez, houve uma ciumeira danada no Congresso. Algumas pessoas lá achavam que a criação do conselho, de alguma forma, iria diminuir o poder da Câmara e do Senado;, disse o presidente.

Lula também criticou, mais uma vez, medidas tomadas em governos anteriores. De acordo com ele, o Brasil paga, até hoje, as contas de planos econômicos que não deram certo. O presidente citou nominalmente Maílson da Nóbrega, economista que foi ministro da Fazenda na gestão de José Sarney. ;Eu achei aquilo (o plano) uma catástrofe. Hoje, estamos pagando esqueletos de vários planos porque havia um hábito de tratar a Economia como se fosse uma questão de mágica. Ou seja, um cidadão tinha uma tese que, depois, não dava resultado e ninguém assumia a culpa pelos erros. O ministro caía, o país ficava com o prejuízo e entrava outro ministro. Era uma coisa maluca;, disparou Lula.

Herança bendita
Ainda durante a reunião do Conselhão, Lula lembrou que a presidente eleita, Dilma Rousseff, receberá uma herança bendita do atual governo. Ele citou, como exemplo, que o Brasil tem as três maiores hidrelétricas em construção do mundo ; Belo Monte, Jirau e Santo Antonio ;, falou da revitalização de ferrovias e destacou a importância da descoberta do pré-sal.

;Dilma não vai receber herança maldita, diferentemente do Barack Obama, que pegou uma impagável do Bush. Até porque ela fez parte da construção dessa herança e sei que é uma herança bendita;, brincou.

Papo com radialistas
A iniciativa de conceder entrevistas coletivas a grupos de minorias também está se transformando em praxe na rotina de despedidas do presidente Lula. Há pouco mais de uma semana, o petista abriu espaço na agenda para receber blogueiros. Ontem, foi a vez de representantes de rádios comunitárias. No Palácio do Planalto, Lula e oito radialistas conversaram por cerca de uma hora. Entre os assuntos, o presidente defendeu a necessidade de uma nova lei de regulação da mídia porque, de acordo com ele, a legislação de 1962 está ;atrasada;.

O presidente adiantou que está preparando uma proposta para ser apresentada, ainda neste ano, para que sirva como ponto de partida de um debate no governo Dilma Rousseff. Lula disse que a presidente eleita vai escolher alguém para o Ministério das Comunicações que tenha afinidade com a democratização dos meios de comunicação.

;Esse debate (regulação das mídias) tem de acontecer agora porque nós temos um conjunto de regras de 1962. É muito antiga: não tinha fax, telefone celular, internet ou TV digital. Eu acho que nós chegamos a um ponto de equilíbrio no debate com a sociedade porque existe uma pluralidade maior atualmente;, concluiu. (IS)

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