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Comissão convocará general que comandou DOI-Codi quando Rubens Paiva sumiu

Grupo fluminense quer ouvir o ex-chefe da repressão. Coordenadora de colegiado na Câmara cobra a demissão de diretor da Abin, filho do militar

postado em 11/06/2013 06:05
Ato de posse da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro, em maio passado: grupo quer esclarecer o desaparecimento do ex-deputado federal Rubens Paiva, na década de 1970
A Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro vai convocar, ainda este mês, o general da reserva José Antônio Nogueira Belham para depor. A informação foi confirmada, na tarde de ontem, pelo presidente do colegiado, Wadih Damous. Belham, que pode se recusar a comparecer, comandou o DOI-Codi do Rio na época em que o ex-deputado federal Rubens Paiva foi assassinado, em 1971, depois de ter sido preso e levado para o departamento. O corpo nunca apareceu. Documentos em poder da Comissão Nacional da Verdade atestam que o militar da reserva recebeu dois cadernos de anotação que pertenciam a Paiva.

[SAIBAMAIS]O Correio revelou, na edição de domingo, que o do atual número 2 da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Ronaldo Martins Belham, que tem acesso privilegiado a informações sobre o período militar brasileiro. Paulo Vannuchi, ex-ministro da Secretaria de Direitos Humanos no governo Lula, eleito recentemente membro da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), defendeu que a questão precisa ser analisada com extrema cautela. ;O importante é a luz que a imprensa jogou nesse caso. O debate gerado após a divulgação do fato é bastante relevante. Eu concordo com a preocupação das entidades;, afirmou.

Vannuchi fez questão de salientar que os filhos não podem ser responsabilizados pelos atos dos pais. ;Precisamos também deixar claro que o fato de ser filho de um agente da repressão não o torna um torturador. A cobrança precisa ser feita com muita cautela. Há uma suspeição presumida;, afirmou.

No entanto, a coordenadora da Comissão da Memória, Verdade e Justiça da Câmara, deputada Luiza Erundina (PSB-SP), classificou de ;inadmissível; e ;incompreensível; a permanência de Ronaldo Martins Belham em uma posição de destaque na Abin. ;Pela natureza do cargo que ocupa, não consigo compreender como ele pode exercer essa função, mesmo que não tenha nenhuma relação com os atos cometidos. Não se trata disso. A pessoa precisa ser isenta. É inaceitável e inadmissível, pelo caráter do órgão que ele representa. O simbolismo disso é muito forte;, avaliou. A parlamentar justificou a posição alegando que, mesmo que os documentos da época tenham sido encaminhados ao Arquivo Nacional pela Abin, várias informações ainda não foram descobertas.



;Eu, no lugar dele, me sentiria desautorizada. Existe muita verdade a ser revelada ainda. Há muitas fontes que não chegaram nem ao conhecimento da Abin. Que liberdade esse homem tem se ele receber, pelo cargo que ocupa, informações que ajudem a compreender o caso Rubens Paiva? Ele terá autonomia para avaliar os dados? Não pode. Temos que ser intransigentes em relação a isso;, afirmou Erundina.

O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) afirmou que há uma ;perseguição; de militares no Brasil por parte da esquerda petista. ;É uma perseguição canalha. Vocês deveriam ir atrás das informações sobre o grupo terrorista que a presidente Dilma Rousseff integrava. Esse grupo matou, roubou e sequestrou. Isso é crime. O problema é que o cara leva um cascudo e dizem que é tortura;, alegou.

Belham: chefe do DOI-Codi na época do desaparecimento de Rubens PaivaAfastamento
No domingo, por meio de nota, Wadih Damous, que além da Comissão Estadual da Verdade do Rio preside a Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), também havia pedido o afastamento do diretor adjunto da Abin. Ontem, ele ratificou a posição. ;O general da reserva vai ser convocado, sim, porque ele chefiou o DOI-Codi aqui no Rio de Janeiro. Estamos preparando os depoimentos para este mês e o início de julho. Eu defendo que não podemos estigmatizar o filho dele, mas é evidente que existe uma suspeição nesse caso. Existe, no mínimo, uma inconveniência;, ressaltou.

O Correio tentou falar com o general da reserva Belham, mas uma mulher que atendeu o telefone dele disse que o militar está viajando. O filho, Ronaldo Belham, também foi procurado por meio da assessoria da Abin, mas não atendeu a reportagem.

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