Politica

Ex-diretor da Siemens afirma ter provas que envolvem tucanos em cartel

O ex-diretor da multinacional garantiu ter documentos que comprovam o esquema de corrupção

Paulo de Tarso Lyra
postado em 22/11/2013 06:40
Uma denúncia feita pelo ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), em abril deste ano, sacudiu ontem o ninho tucano em São Paulo a menos de um ano das eleições estaduais. Everton, de acordo com matéria publicada ontem pelo Estado de S.Paulo, afirma que secretários próximos ao governador Geraldo Alckmin (PSDB) receberam propina no escândalo do cartel dos trens em São Paulo, entre os anos de 1998 a 2008.

O ex-diretor da multinacional garantiu ter documentos que comprovam o esquema de corrupção. Ele cita como beneficiários o chefe da Casa Civil do governo Alckmin, Edson Aparecido, o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP), o secretário de Minas e Energia de São Paulo, José Aníbal, o secretário de transportes metropolitano, Jurandir Fernandes e o secretário de Desenvolvimento Econômico, Rodrigo Garcia.

A denúncia feita por Everton afirma ainda que o ex-governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda e o atual vice-governador Tadeu Fillipelli teriam envolvimento com a MGE Transportes (Caterpillar), apontada pelo Ministério Público como uma outra rota das propinas. Por intermédio de sua assessoria, Arruda afirmou que ;não conhece a suposta empresa, os envolvidos no caso e jamais teve qualquer relação com nenhum dos envolvidos nas investigações;.

O vice-governador Tadeu Fillipelli entrou ontem com uma interpelação judicial contra Everton Rheinheimer. Em nota, negou ;conhecer ou ter qualquer tipo de contato com o autor dessa suposta denúncia ou com a empresa citada pelo denunciante.;

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, solicitou ao Cade cópia do relatório para apurar as denúncias. Ele negou, contudo, que pretende afastar os secretários citados na denúncia feita pelo ex-diretor da Siemens. ;Não tem sentido fazer afastamento se [o governo] não teve nem acesso aos documentos;, afirmou.

Processos
Os demais tucanos foram bem mais incisivos que Alckmin. ;Eu vou interpelar esse senhor judicialmente. Eu não o conheço, não sei quem ele é nem nunca ouvi falar nesse suposto lobista Arthur Teixeira (dono da Procint Projetos e Consultoria Internacional);, protestou Edson Aparecido.

Aparecido afirma ainda que existe um caso claro de tráfico de influência, já que Everton reuniu-se duas vezes com o deputado estadual Simão Pedro (PT) e com o presidente do Cade, Vinícius Carvalho, para acertar detalhes do ;acordo de leniência firmado entre a Siemens e o órgão. Em troca, tentaria uma vaga de diretor-executivo da Vale. ;Vou processar o Simão Pedro e o presidente do Cade;, prosseguiu o chefe da casa civil de Alckmin.

O secretário de Minas e Energia, José Aníbal, também disse que processará o ex-diretor da Siemens. ;De mim ele vai receber o tratamento que merece. Construí minha vida pública com posições em defesa do interesse público e da população, sempre. Quero vê-lo onde ele estará cedo ou tarde: na cadeia.;

Já o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) informou por meio de nota, que o jornal O Estado de São Paulo cometeu um erro na primeira página da edição dessa quinta-feira ao tratar das apurações sobre o cartel do metrô de São Paulo. O texto explica que o senador foi questionado se teve estreito relacionamento com Arthur Teixeira, da Procint Projetos e Consultoria Internacional. Aloysio afirmou ter conhecido Teixeira à época em que foi secretário dos Transportes Metropolitanos, entre 1991 e 1994, e teve com sua empresa, entre muitas outras do setor ferroviário, relações estritamente profissionais. Mas negou qualquer relação com o empresário.

Ex-senador é encontrado
Condenado a onze anos e oito meses de prisão pela Justiça de Rondônia por formação de quadrilha e a sete anos e 10 meses por contrabando pela Justiça Federal, o ex-senador Mário Calixto Filho foi preso na noite de quarta-feira em Guayaramerín, cidade boliviana que faz fronteira com o Brasil. Calixto Filho estava foragido desde junho do ano passado, após escapar de um hospital particular em Porto Velho, onde estava preso em tratamento de saúde. O ex-senador foi detido pela Guarda Nacional da Bolívia.

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;Construí minha vida pública com posições em defesa do interesse público e da população, sempre. Quero vê-lo onde ele estará cedo ou tarde: na cadeia;, José Aníbal, secretário de Minas e Energia de São Paulo

Memória
Propinas por contratos

O cartel dos trens de São Paulo foi descoberto a partir de um acordo de leniência feito pela Siemens, em maio deste ano, com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A multinacional admitiu participar de um esquema de cartel para obter contratos metroferroviários em São Paulo e no Distrito Federal.

Em troca da delação do cartel, a empresa espera reduzir eventuais penas. Além da combinação de preços envolvendo as empresas Siemens, Alstom, Bombardier e Caterpillar, há suspeitas de pagamentos de propinas a agentes do governo paulista, administrados pelos tucanos desde 1995. O esquema teria sido colocado em prática em cinco contratos assinados entre agosto de 2000 e maio de 2007, e teria aumentado em 30% o preço das obras, ou R$ 577,5 milhões. Com o superfaturamento, esses contratos teriam atingido R$ 1,9 bilhão, em valores atualizados.

Após o acordo feito com o Cade, a Polícia Federal encaminhou a denúncia à superintendência em São Paulo para apurar a atuação da organização criminosa. Até o surgimento da recente denúncia feita pelo ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer, apenas nomes administrativos tinham aparecidos como beneficiários das supostas propinas, como o consultor Arthur Teixeira e o ex-diretor de operações da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) João Roberto Zaniboni.

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