Politica

Novos índices de desemprego e de desigualdade viram combustível eleitoral

Presidenciáveis tentam capitalizar pesquisa do IBGE que mostra queda em índices sociais. Aécio e Marina associam a diminuição na oferta de emprego e o aumento do abismo social à má gestão de Dilma, mas petista relativiza números. Especialistas culpam baixo crescimento econômico

Paulo de Tarso Lyra
postado em 19/09/2014 06:04
A pouco mais de duas semanas do primeiro turno, o mais recente recorte da realidade do país ; a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ; abasteceu os discursos eleitorais dos presidenciáveis, especialmente os que tentam tirar o PT do Palácio do Planalto. A informação de que a taxa de desemprego subiu de 6,1% para 6,5% e de que o Coeficiente de Gini da renda dos trabalhos (que mede a desigualdade de renda no país) permaneceu praticamente estável nos últimos três anos, com ligeiro aumento em 2013, animou a oposição a desconstruir o discurso de inclusão social do governo federal. ;A administração da pobreza faz bem ao projeto do PT;, afirmou o tucano Aécio Neves. ;A interrupção na queda de desigualdade e o aumento do desemprego são resultado de políticas erráticas do governo;, completou Marina Silva (PSB).

Há 10 meses desempregada, Nayara Góes traduz a pesquisa do IBGE em realidade:
Já a presidente Dilma Rousseff minimizou os resultados da pesquisa e preferiu destacar que os mais humildes tiveram benefícios durante os 12 anos do PT: ;2013 foi o ano da qualidade do trabalho e crescimento da renda média, principalmente do seu João e da dona Maria, que estão ali no meio da pirâmide;, afirmou. A petista, entretanto, não levou em conta que, segundo a Pnad, a renda dos 10% mais ricos cresceu 6,4%, enquanto a dos mais pobres subiu 3,5%, já descontada a inflação no período.

Especialistas ouvidos pelo Correio afirmam que os dois resultados desfavoráveis ao governo são explicados pelo desempenho pífio da economia no último triênio. Flávio Basílio, doutor em economia e mestre em crescimento e desenvolvimento econômico, diz que não se pode considerar, contudo, como um aumento na desigualdade a alta de 0,02 no Coeficiente de Gini. ;Teve estabilidade, após anos de queda. A razão da estabilidade é que a economia não está crescendo, e esse reflexo da desigualdade econômica produziu um reflexo na desigualdade de renda;, diz.

[SAIBAMAIS]Para Basílio, os resultados expressivos na briga contra a desigualdade obtidos na última década devem-se, sobretudo, aos programas sociais. ;A gente não está nem num cenário positivo nem negativo. Estão presentes algumas incertezas. Se conseguirmos diminuí-las e acabar com a desconfiança, é possível que o país volte a crescer.;

Oposição
A Pnad fez com que os adversários elevassem o tom do discurso eleitoral. Durante agenda de campanha em Vitória, a candidata do PSB ao Planalto, Marina Silva, pediu explicações à presidente Dilma. Segundo a socialista, a pesquisa aponta a concentração de renda como mais um problemas para os brasileiros, ao lado ;da inflação que está voltando, do crescimento baixo da economia e dos juros que estão altíssimos;. ;Os 10% mais ricos estão ficando cada vez mais ricos e os 10% mais pobres estão ficando cada vez mais pobres. A presidente Dilma tem que explicar para a população brasileira por que está entregando um país pior do que encontrou;, criticou.



Para Marina, ;inclusive os cabos eleitorais; de Dilma estão apavorados com a possibilidade de perder. Segundo ela, toda vez que se fala que a petista corre o risco de aumentar seus percentuais nas pesquisas, a Petrobras se desvaloriza. ;Isso é falta de credibilidade;, pontuou. Os resultados da pesquisa também foram destacados pelo candidato do PSDB, Aécio Neves. Em Itabuna (BA), o tucano disse que o PT comemora os dados em vez de trabalhar a melhoria dos índices. ;Estamos virando o país do pleno emprego de dois salários mínimos. Esses empregos são importantes, mas é essencial que nós encontremos formas de dar competitividade ao setor industrial, onde estão os empregos de qualidade.;

Dilma, por outro lado, fez uma leitura positiva dos números e retrucou os oposicionistas. Além de ter destacado dados como o aumento no número de casas com máquina de lavar, ;que tira a mulher do tanque;; e a redução do analfabetismo, ;que caiu, e a torneira que produzia analfabetos foi fechada;, a petista mirou diretamente a candidata do PSB.

Em coletiva de imprensa em Brasília, Dilma rebateu a adversária, que ;muda de opinião com muita facilidade;. ;Eu nunca sei de fato o que ela pensa porque ela pensa uma coisa um dia e outra coisa no outro dia. O que estou dizendo aqui é que, se você olhar o meu período de governo, incluindo os oito meses atuais, temos uma queda na desigualdade;, argumentou. Ela alegou ainda que o aumento do desemprego é pontual e lembrou que foram criados 756 mil postos formais, além de enaltecer o aumento médio da renda. ;Óbvio que as taxas de emprego não vão crescer como antes porque não tem nem para onde ir;, minimizou.

Discurso e realidade
A distância entre o discurso oficial e a realidade cotidiana é sentida pela ex-auxiliar de serviços gerais Nayara Góes, que pediu demissão do local em que trabalhava para buscar ;algo maior; enquanto mantém o sonho de cursar educação física. ;Hoje, estou procurando um curso, de preferência de informática, mas vou ver quais estão abertos. Mas, já que estou aqui, vou aproveitar para ver se tem emprego;, diz a jovem, de 24 anos, ao explicar a visita à Agência do Trabalhador do Plano Piloto na manhã de ontem.

Passados ;longos 10 meses de desemprego;, ela lamenta não ter conseguido vagas para os cursos de libras e de turismo no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). Com o ensino médio completo, Nayara vê no mercado de trabalho o maior entrave para conseguir uma nova vaga. ;É a economia que não está bem. Conheço gente que só faz bico há dois anos, não consegue nada fichada.;


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