Politica

Ao Correio, Moreira Franco diz que "impeachment não vai apagar o problema"

Wellington Moreira Franco é um dos integrantes do chamado "núcleo duro" do governo que está sendo montado pelo vice-presidente Michel Temer para assumir o poder tão logo a presidente Dilma Rousseff seja afastada

Luiz Carlos Azedo
postado em 01/05/2016 08:00
Wellington Moreira Franco é um dos integrantes do chamado

Presidente da Fundação Ulysses Guimarães, o ex-governador Wellington Moreira Franco é um dos integrantes do chamado ;núcleo duro; do governo que está sendo montado pelo vice-presidente Michel Temer para assumir o poder tão logo a presidente Dilma Rousseff seja afastada do cargo pelo Senado, por um período de até 180 dias, até que o impeachment seja julgado. Nessa entrevista ao Correio, Moreira evita falar em nomes para compor o novo ministério, mas deixa claro que a maior estrela da equipe será o futuro ministro da Fazenda, cargo para o qual o mais cotado é o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. ;Existem vários nomes, que a imprensa fala, mas o nome do Meirelles tem todas as condições técnicas, políticas e pessoais para ser um grande ministro da Fazenda.;

Para ele, a principal tarefa do governo Temer será enfrentar a crise econômica, daí a importância da escolha da equipe da área: ;O desemprego aumenta, o salário diminui, as pessoas estão vivendo muita dificuldade. Eu não tenho a menor dúvida de dizer que a principal carga, a grande responsabilidade do próximo governo é a mesma do atual, é o ministro da Fazenda, que a ele caberá definir o rumo, o caminho que será seguido.; Moreira é responsável pela elaboração do documento ;Uma Ponte para o Futuro;, um esboço de programa de governo, que é muito criticado por setores sindicais e políticos de esquerda, inclusive de oposição. Ele classifica essas críticas como ;baboseiras;.

Ministro da Aviação Civil do governo Dilma no primeiro mandato, foi descartado pela presidente da República na montagem do segundo governo. Desde então, movimentou-se intensamente para que o PMDB aderisse ao impeachment, juntamente com o também ex-ministro Eliseu Padilha, que o substituiu no mesmo cargo. Os dois passaram a contar com a adesão do senador Romero Jucá (RR), que foi líder do governo Lula e assumiu interinamente a presidência do PMDB. Os três compõem o estado-maior do vice Michel Temer, juntamente com o ex-deputado Gederal Vieira Lima. Moreira é cotado para ocupar uma secretaria especial que será encarregada de viabilizar o programa de concessões e parcerias público-privadas para atrair investimentos e reaquecer a economia.

Como está a montagem do governo Michel Temer?
O presidente Michel Temer é muito discreto. Pessoalmente, sua militância política se pauta sempre pelo recato, pela discrição e pelo cuidado institucional. Foi assim que se deu nas três vezes em que foi presidente da Câmara e é assim agora. As conversas que ele tem tido, que eu ouvi de muita gente, são de quem está preocupado com o país, mas não se antecipa além do que lhe mandam as regras institucionais. Seria sempre uma situação constrangedora para ele e para o interlocutor dele, se ele avançasse em montagem de governo.

O que é fundamental para se ter um governo de transição capaz de garantir o calendário eleitoral?
Eleições em 2018 vai se ter, em 2016 vai se ter, isso aí não tem nada a ver com governo bom ou ruim. O que tem a ver com governo bom ou governo ruim é o resultado eleitoral. Governo pode perder ou ganhar eleição, mas agora as regras, a instabilidade institucional, as regras gerais, elas serão mantidas e preservadas. Temos uma estabilidade institucional muito grande e sólida, e serão tratados de acordo com a lei.

Quais seriam as tarefas deste governo?
O eventual impedimento da presidente não vai significar apagar o grande problema que o Brasil vive. O primeiro problema do Brasil é a economia, o segundo é a economia e o terceiro também é a economia. Esse desastre econômico tem nos colocado nessa situação que vivemos e estamos numa situação muito ruim. O desemprego aumenta, o salário diminui, as pessoas estão vivendo muita dificuldade. Eu não tenho a menor dúvida de dizer que a principal carga, a grande responsabilidade do próximo governo é a mesma do atual, é o ministro da Fazenda, que a ele caberá definir o rumo, o caminho que será seguido, para que nós possamos, em primeiro lugar, estabelecer o equilíbrio fiscal, porque sem equilíbrio fiscal não terá crescimento, sem crescimento não terá emprego, sem emprego não tem renda. E a população e o país vão sofrer muito. Daí a importância da escolha do ministro da Fazenda, porque o que veio até agora não foi capaz e a grande deficiência deste governo é a falta de rumo nessa área.

A questão da economia depende muito do nome a ser escolhido, fala-se muito do Henrique Meirelles.
Existem vários nomes, que a imprensa fala, mas o nome do Meirelles tem todas as condições técnicas, políticas e pessoais para ser um grande ministro da Fazenda.

A ideia é blindar a economia?
Quando o ministro for escolhido, ele vai dizer qual é a ideia. Nós fizemos lá na Fundação uma série de estudos, ouvimos muitas pessoas para que nós pudéssemos com muita segurança voltar a praticar os fundamentos macroeconômicos que nos deram grandes resultados, que são: estabilidade fiscal, superavit primário, inflação controlada, controle dos gastos, política de câmbio correta, segurança jurídica. Ou seja, princípios contidos na Carta aos Brasileiros adotados por Lula, que nos permitiram um período de grande inserção de milhões de brasileiros no mercado de consumo, e também na época do Plano Real, que nos permitiu controlar a hiperinflação. Então, com esses princípios, não há dúvida, nós temos compromisso. Agora, o detalhamento você terá quando você tiver a oportunidade. Se o Michel Temer for presidente da República e escolher o ministro da Fazenda, você terá a oportunidade de ouvi-lo, porque são responsabilidade e atribuição dele. E no governo do presidente Temer, se vier acontecer, ministro será ministro, secretário-executivo será secretário-executivo, responsáveis por áreas serão responsáveis por áreas, e não essa desorganização hierárquica e de autoridade que nós vimos nos últimos anos no Brasil.

O PT afirma que um ajuste inspirado no plano de vocês implicaria em grandes sacrifícios para a população mais pobre.

Isso é baboseira. Baboseira porque eles aplicaram esses mesmos fundamentos quando o presidente Lula assinou a Carta aos Brasileiros, ganhou a eleição e fez um primeiro mandato baseado em parte e o segundo mandato muito comprometido com esses princípios e a consequência foi ampliar em 40 milhões o número de brasileiros que tiveram conquistas, sobretudo os jovens, as mulheres e os negros. O que mostra que, em vez de ajudar a população quando eles dizem isso, eles estão é criando pânico, querendo justificar o grande erro que cometeram, que foi abandonar exatamente esses princípios que deram os resultados que nós obtivemos na economia. Este governo foi leniente com a inflação, leniente com o gasto público, com a pedalada fiscal e quis pagar empréstimos com mais empréstimos, aumentou a dívida pública. Nós estamos com a taxa de juros mais alta do mundo e é o que vai rapidamente nos levar a ter uma divida que alcança 100% do PIB. Todo este caos econômico foi provocado exatamente porque eles abandonaram o princípio que estavam contidos na carta, e que foram praticados no governo do presidente Lula.

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