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Temer a Dilma: 'Voltar para sair não é um argumento que a favorece'

Em entrevista nesta sexta-feira, o presidente interino anunciou que trabalha com "medidas para alegrar os investidores desde já"

Denise Rothenburg
postado em 24/06/2016 14:37

Ciente de que seu mandato e seu futuro político no cargo estão ancorados na economia, o presidente em exercício, Michel Temer, anuncia que vêm por aí "medidas para alegrar os investidores desde já, para que eles tenham mais confiança no país." Econômico nos detalhes sobre o que virá, uma vez que as medidas ainda estão em estudo pela sua equipe, Temer diz que redução de juros ajuda, porém, deve ser discutida responsavelmente. "Há essa ideia, tanto é que conversei com o ministro da Fazenda rapidamente no dia em que dei posse ao presidente Ilan Goldfajn, do Banco Central. [A redução] tem um efeito concreto, mas tem o psicológico muito acentuado. Quando reduz juros responsavelmente, você sente que agora vai;, diz Temer, alertando, entretanto, que não adianta reduzir de "14,5% para 7% só para fazer um populismo." "Espero que haja espaço para fazer essa redução este ano, gravem o espero." No terreno político, ele classifica como inconstitucional a proposta de Dilma de antecipação das eleições e atira: ;Voltar para sair não é um argumento que a favorece."

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As considerações foram feitos numa conversa de uma hora, na manhã desta sexta-feira (24/6), no Palácio do Planalto. Ali, Temer não lacra totalmente a porta para aumento de impostos, se o governo considerar o único caminho. ;Até o presente momento, o governo não falou em tributo. Economia é assim. Às vezes você tem que fazer adequações, mas fa-las-á no tempo certo. Se puder evitar tributos, tanto melhor", diz ele, recorrendo mais uma vez à mesóclise.

De pronto para apresentar ao país já na próxima semana, Temer tem a inauguração da fábrica da Klabin, no Paraná, terça-feira, a Lei de Responsabilidade das Estatais, a ser sancionada. Certamente, algum veto virá, mas ;nada que possa desnaturar o projeto;, diz ele, referindo-se como razoáveis as mudanças no tempo de experiência nas áreas afins para que se possa ocupar cargos nas empresas. Para esse mês ainda, promete a nomeação do novo ministro do Turismo. ;Você sabe que eu não tive tempo de pensar nesse assunto? Aqui é incrível: Se trabalha das 8h até uma da manhã é para equilibrar o governo. Convenhamos, tive sete dias para organizar o governo. Deus me ajudou, você viu a equipe econômica que montamos. A base do país é emprego, economia;, afirmou.

No terreno político, Temer pisa com cuidado, mas a porta está aberta a todos. Quando perguntado se a falta de diálogo tirou Dilma, ele critica de forma indireta do comportamento da presidente afastada. ;Só posso dizer que diálogo é fundamental. No estado democrático, você tem que exercer a atividade executiva amparada pelo Legislativo. Precisa ter esse conjunto de forças para governar. Qualquer outra visão é autoritária, você despreza o congresso nacional, ou se quiser ir mais além, critica o Judiciário, isso é uma visão antidemocrática e inconstitucional. Tenho dito sempre que precisamos reconstitucionalizar o país."

No diálogo constante, Temer afirma ainda que não dispensa ninguém. Refere-se inclusive à presença de Romero Jucá em suas reuniões no Planalto. ;Muita vezes eu o chamo, é um parlamentar de um vigor extraordinário. Ajuda muito no Parlamento. Ele é investigado e não foi condenado. Não posso ter esse impedimento, sob pena de condenar antes de julgar e isso não cabe a mim;, diz ele, lembrando que tem conversado com todos, não deixando de fora sequer Eduardo Cunha, com quem conversou há três semanas.

A Câmara dos deputados é outro centro nevrálgico que o presidente diz que não pretende influir diretamente no sentido de escolher o sucessor de Cunha para um mandato tampão, mas dá sinais de que não deixará correr solto: ;Se pudesse ter um candidato único, seria útil para todos;, diz ele, cheio de ressalvas em relação ao que coloca apenas como uma sugestão.

Em relação a Sérgio Machado, ele não esconde seu desconforto pela forma como foi citado. Fui checar se tem salinha lá. Não tem salinha.;. Eu com tantos empresários pelo país que eu converso, não iria fazer intermediação. Preciso de intermediação para fazer isso?;, diz Temer, que revelou ainda que, dia desses, na Base Aérea, foi verificar se havia uma salinha separada para conversas: ;Não tem salinha!’, diz ele.

Quanto à Lava-Jato, ele considera que os sinais de combate à corrupção que o Brasil tem dado ao exterior são inequívocos. ;Mais do que isso, impossível, as instituições estão funcionando e o Brasil está sendo passado a limpo;. Temer, embora reforce que as investigações devam perdurar enquanto houver escândalos a apurar, acredita que ;o país não pode ficar 10 anos nesse processo;.

Embora acompanhe o impeachment, ele também não deixa de monitorar o andamento do processo das contas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE): ;Se for decisão do Judiciário, não me incomodo em deixar a Presidência. Mas tenho que pensar em meus direitos. Lancei e muita gente lançou a tese da separação de contas, que são prestadas fisicamente separadamente. Seria o único caso em que a condenação de alguém importa na condenação de outrem. Vou tentar demonstrar isso, mas se houver decisão do Judiciário, cumpre-se;.

Cenário externo
Na conversa com jornalistas, o presidente em exercício foi ainda direto ao dizer que está fora de cogitação sair do Mercosul, mas não deixa de defender a necessidade de readequação de regras mais liberalizantes para acordos bilaterais, especialmente, em termos tarifários. Temer defende ainda que haja um adiamento da reunião que daria á Venezuela, a presidência do Mercosul. É preciso, primeiramente, resolver a questão interna do país, que é algo que cabe à Venezuela.

Sobre o fato de o Reino Unido ter saído da União Europeia, Temer considera que o impacto político dessa decisão no Brasil será zero. Quanto à economia é preciso aguardar. Veja mais detalhes da entrevista na edição de amanhã do Correio Braziliense.

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