Politica

Artigo: Xô, privilégio!

"O foro privilegiado transforma o Supremo Tribunal Federal (STF) numa instância praticamente paralisada, obrigada a julgar qualquer delito de meliantes diplomados pelo voto"

Ana Dubeux
postado em 06/11/2016 11:31
O Brasil é um país continental, brutal, ignorante, insolente e irresponsável com seus recursos naturais. Temos a mais longeva e imbecil certeza de que tudo terá jeito, se acomodará e se resolverá, independentemente do quanto errados pudermos ser. Com o tempo, o jeitinho, a criatividade e um pouquinho de samba, tudo passa, afinal, estamos nesta terra exuberante, alegre, viril como macho alfa que só reproduz falácias. Já foi poética essa ingenuidade, hoje, ela é bestial, ridícula mesmo. Não há tempo mais no mundo para amadorismo. Precisamos crescer. Esse amadurecimento passa pelas instituições e poderes. Há uma porção de coisas que já não são passíveis de tolerância. O privilégio de uma classe só, seja ela qual for, é uma delas.

Comecemos aqui por onde havemos de começar sempre. Pelo exemplo. Os políticos querem mexer nas aposentadorias, nas contas, nos investimentos do país, mas a primeira sacudida que deveriam dar é na própria consciência. É preciso de uma vez por todas acabar com os privilégios. Não farão isso sem pressão da sociedade civil. A iniciativa de lançar a bandeira virtual #XôPrivilégio, com forte reforço no jornal impresso, faz do Correio, mais uma vez, um veículo pioneiro na tentativa de mudar histórias que parecem imutáveis. Trata-se aqui de acabar com o foro privilegiado dos políticos brasileiros, uma excrescência que não existe em nenhum lugar do mundo.

Esse benefício sem justificativa transforma o Supremo Tribunal Federal (STF) numa instância praticamente paralisada, obrigada a julgar qualquer delito de meliantes diplomados pelo voto. Assim, o sujeito transforma o mandato numa redoma que o protege de pagar pelos crimes cometidos. Quem mais tem esse benefício? A política não pode ser escudo, é uma arte linda, uma profissão necessária, um território para se trabalhar pelo futuro do país, pavimentar mudanças profundas na sociedade, fazer leis e promover revoluções necessárias. Nada a ver com legitimar impunidade.

Na última sexta, nossa manchete foi uma feliz notícia depois de dias martelando em cima do tema. O relatório sobre proposta que acaba com a prerrogativa de os políticos serem julgados em instâncias superiores entrou na pauta da Comissão de Constituição e Justiça do Senado. Apresentado em 2013, no auge das manifestações populares, o texto teve apoio inicial de 30 senadores. Esperamos que ele ganhe agora a adesão de maioria. Essa PEC precisa ser aprovada com urgência. Como disse o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), o foro privilegiado tornou-se anacrônico. Diria mais: tornou-se também um atraso para o Brasil.

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