Inspiradora da Lava-Jato, a Operação Mãos Limpas, na Itália, foi uma das mais importantes investigações sobre propinas envolvendo autoridades públicas e empresários naquele país. Como ocorreu aqui, A Mani Pulite desmascarou uma rede de corrupção na política e economia italianas e desvendou esquemas envolvendo o pagamento de propinas por empresas privadas para garantir contratos com estatais e órgãos públicos e também o desvio de recursos para o financiamento de campanhas políticas.
A investigação começou em 1992, em Milão, com uma denúncia espontânea do dono de uma empresa de limpeza. À medida que as prisões começaram a ocorrer, o caso cresceu: cada político, empresário ou funcionário público detido entregava dezenas de outros em seus depoimentos. Assim como na Lava-Jato, os envolvidos recebiam incentivos para colaborar com a Justiça, em um esquema parecido com o das delações premiadas.
A ;faxina; na política italiana resultou no suicídio de 12 empresários e políticos. Na outra ponta, a máfia siciliana, que também estava na mira dos processos, cometeu dezenas de assassinatos, na tentativa de evitar mais delações bombásticas. Foram mortos os juízes Paolo Borsellino e Giovanni Falcone, que ouviu o depoimento de Tommaso Buscetta, primeiro mafioso a quebrar o código de silêncio da organização criminosa. Os assassinatos enfraqueceram a investigação.
A Lava-Jato e a Mãos Limpas têm muitos pontos em comum, segundo especialistas. As duas operações começaram com a investigação de crimes pequenos e descobriram uma vasta rede de corrupção. Juízes e promotores de ambos os casos tornaram-se heróis nacionais. Outra semelhança é a colaboração dos réus presos em troca de benefícios no cumprimento da pena. O juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos na primeira instância, já disse que, em momentos difíceis, se inspira em Falcone.
No total, foram investigas na Mãos Limpas cerca de 6 mil pessoas, entre elas, centenas de empresários, funcionários públicos e parlamentares. Quase 3 mil pedidos de prisão foram expedidos. A operação levou ao fim a chamada Primeira República Italiana (1948-1994), em que a Democracia Cristã (DC) e o Partido Socialista (PSI) eram as principais forças políticas do país.
*Estagiária sob supervisão de Odail Figueiredo