Politica

Temer contraria expectativas e faz indicação política para a Justiça

Com a recusa de Carlos Velloso e de olho nas votações das reformas trabalhista e da Previdência, Temer opta por um deputado do PMDB como substituto de Alexandre de Moraes para fazer um afago na base aliada

Matheus Teixeira - Especial para o Correio, Natália Lambert
postado em 24/02/2017 06:00

Longe de ser unanimidade dentro do PMDB, Serraglio levou a melhor: nomeação provocou irritação em alguns deputados

Contrariando as expectativas pela escolha de um nome técnico, o presidente Michel Temer resolveu fazer uma indicação política para o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Escolhido para agradar o PMDB da Câmara dos Deputados, o deputado Osmar Serraglio, aliado do ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha, foi anunciado ontem para o cargo. Com a ida do PMDB para o posto, o PSDB ficou com o caminho livre para emplacar o sucessor de José Serra (PSDB-SP) no Ministério das Relações Exteriores ; o senador Aloysio Nunes é o nome mais forte. A opção por nomes políticos para as funções tem como pano de fundo a intenção do Palácio do Planalto de reforçar o apoio no Congresso a fim de aprovar medidas amargas, como as reformas da Previdência e Trabalhista. Nem todos os peemedebistas, no entanto, ficaram satisfeitos com a indicação de Serraglio.

Ele não era a primeira opção de Temer. Além do ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Velloso ter rejeitado convite para assumir a função, o peemedebista cogitou nomear o criminalista Antônio Cláudio Mariz ou o deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG), mas recuou diante da repercussão negativa do histórico dos dois de críticas à Operação Lava-Jato. Nos últimos dias, tinha ganhado força o nome do vice-procurador-geral da República José Bonifácio de Andrada, mas a escolha política prevaleceu e a vaga acabou com Serraglio. ;Jurista e congressista com larga trajetória parlamentar na Câmara de Deputados, Serraglio traz sua ampla experiência profissional e política para o trabalho de levar adiante a agenda de atribuições sob sua responsabilidade;, afirmou o presidente da República em pronunciamento do porta-voz, Alexandre Parola.

Apesar de ter atendido ao pedido do PMDB e ter nomeado um parlamentar do partido para o ministério, Temer segue com um problema na própria cozinha. Isso porque Serraglio não é uma unanimidade na bancada da Câmara e a preferência era por Pacheco. Outro motivo que despertou a insatisfação na legenda foi informação de que Aguinaldo Ribeiro (PP-PB) deve ser escolhido para a liderança do governo. O PMDB sonhava com o posto e a irritação de alguns deputados chegou ao ponto de o vice-presidente da Câmara, Fábio Ramalho (PMDB-MG), ter anunciado, ontem, o rompimento com o governo. O Planalto, contudo, minimizou as reclamações: acredita que o partido foi contemplado e avaliou que a rusga estava dentro do esperado.

Como a escolha peemedebista para o ministério que até então estava na cota do PSDB, sob o comando de Alexandre de Moraes, nomeado para o Supremo Tribunal Federal, é dado como certo que a chefia do MRE seguirá nas mãos dos tucanos. A ideia do governo é manter, mesmo com as mudanças no primeiro escalão, a divisão de poder na Esplanada de modo que todos os partidos estejam satisfeitos e votem a favor das medidas impopulares do Executivo no Congresso Nacional (Veja arte entre as páginas 2 e 3). ;Neste momento, o presidente precisa garantir a aprovação das reformas no Congresso, então, não tem como investir em nomes técnicos. O foco é no parlamento;, explicou um aliado do presidente.

Repercussão

Entre especialistas da área de segurança pública, a escolha por Serraglio dividiu opiniões. Ignácio Cano, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), afirmou que não tem muita esperança em relação ao Ministério da Justiça até o fim do mandato de Temer. Para ele, o assunto não tem protagonismo no governo. ;Deveríamos ter um plano nacional de homicídios, apostar na formação policial, termos um maior papel do governo federal na segurança pública, o que hoje a gente sabe que não está em pauta;, analisa.

Cano critica as escolhas políticas para a pasta que, segundo ele, praticamente não foi comandada por técnicos nos últimos 20 anos. ;O último ministro utilizou o ministério como um trampolim para chegar ao Supremo. Eu não tenho detalhes sobre Serraglio, não espero nada positivo deste governo na pasta;, afirmou.

Antônio Flávio Testa, da Universidade de Brasília (UnB), por sua vez, não avalia de forma negativa a indicação de Serraglio. Segundo ele, trata-se de um jurista, que tem no currículo o relatório da CPMI dos Correios, em 2005, que deu início ao escândalo do mensalão. ;Ele apresentou um relatório contundente, tanto que teve um desdobramento forte logo em seguida. Ele tem condições de fazer um ministério forte, inclusive na gestão da segurança;, disse.

Com a recusa de Carlos Velloso e de olho nas votações das reformas trabalhista e da Previdência, Temer opta por um deputado do PMDB como substituto de Alexandre de Moraes para fazer um afago na base aliada

* Estagiário sob supervisão de Roberto Fonseca

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