Politica

Governo mostra desconforto com Operação Carne Fraca e vê falhas na apuração

Ministro da Agricultura demonstra incomôdo com "erros técnicos" da PF na Operação Carne Fraca e tenta reverter estragos na imagem

Rodolfo Costa
postado em 20/03/2017 06:59
O presidente Michel Temer, entretanto, espera colocar panos quentes sobre a polêmica ampliada pela PF, no entendimento de assessores palacianosCom as controvérsias e os desgastes internacionais da Operação Carne Fraca ; como a suspeita de aspectos como papelão na produção de alimentos e presença de substâncias cancerígenas em produtos ;, a Polícia Federal provocou desconforto no Planalto, principalmente no ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Blairo Maggi. Por causa da investigação interna na pasta, servidores não foram consultada antes do desbaratamento da apuração. Sem as informações técnicas que poderiam ser prestadas pelos técnicos, grande parte do discurso policial foi feito de maneira equivocada, na avaliação de pessoas ligadas a Maggi.

O próprio chefe da pasta não escondeu o incômodo com a situação. ;A questão do papelão está clara no laudo que está colocado é que se falam de embalagens, e não de misturar papelão na carne. Seria idiotice e uma insanidade para dizer a verdade;, disse. ;As empresas brasileiras destinam milhões e milhões de dólares nos seus mercados, e conquistá-los exigem mais de 10 anos. Não dá para aceitar esse tipo de situação. A partir de uma fala, a narrativa (da PF) nos leva a criar até fantasias;, declarou.
Questões como carne de cabeça de porco sendo utilizadas na produção de embutidos, como comentou a PF, são permitidos, desde que respeitados percentuais e em determinados produtos, reforçou Maggi. ;A fala de uma dessas empresas que comprava matéria prima para utilizar em A, B ou C, é permitido, e não há irregularidade no processo. Não estou dizendo que não tenha sentido a investigação. Mas em função da narrativa que criaram os problemas.;
Antes de se reunir com 33 embaixadores de países importadores da carne brasileira, Temer procurou se munir de todas as informações possíveis sobre o que o governo considera como exageros nos discursos da PF. Para isso, se reuniu com o ministro Maggi. A ele, o ministro assegurou que não há risco de contaminação por ingestão de alimentos possivelmente adulterados. Esse é um dos discursos que o governo pretende adotar para não manchar a credibilidade junto aos países importadores. O secretário de Defesa Agropecuária, Luiz Eduardo Rangel, afirma que, na leitura que a pasta realizou no inquérito, não foi possível perceber risco significativo.

[SAIBAMAIS];Não há plástico ou papelão misturado nas carnes, e tão pouco há ácido ascórbico na produção dos alimentos ou carne podre nas prateleiras. Os produtos que estão sob inspeção tem rigoroso sistema de fiscalização baseado em risco;, afirmou. Rangel ressalta que a própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não permite produtos que tenham qualquer origem cancerígena. ;Alguns produtos são utilizados na elaboração de determinados produtos alimentícios, mas todos são disciplinados pela Anvisa, monitorados e fiscalizados pelo ministério;

O presidente Michel Temer, entretanto, espera colocar panos quentes sobre a polêmica ampliada pela PF, no entendimento de assessores palacianos. Inclusive, uma das medidas para tranquilizar os países que importam a carne é reforçar o processo de fiscalização e cooperação entre a Agricultura e os agentes da autoridade de segurança pública para apurar eventuais desvios. Temer afirmou que vai acelerar o processo de auditoria nas 21 plantas frigoríficas investigadas pela PF na Operação Carne Fraca, numa espécie de força-tarefa. O Planalto definiu, ainda, que todas as unidades exportadoras permanecerão abertas para inspeções dos países importadores e ao acompanhamento das atividades do sistema nacional de controle. Embora o comunicado não tenha sido diferente das informações divulgadas desde sexta-feira, o recado foi suficiente para tranquilizar os 33 embaixadores, segundo Maggi. ;Eles reagiram bem.; Ao fim do encontro, Temer convidou embaixadores a jantar numa churrascaria no Lago Sul.

O chanceler do Canadá, Riccardo Savone, não negou a expectativa em ouvir o que Temer teria a dizer, uma vez que a reunião organizada pelo governo seria a primeira explicação oficial aos países importadores. ;Nosso país consome muito pouco o produto, mas (a suspeita de adulteração de carnes) é uma situação que sempre preocupa;, admitiu. Diferentemente do Canadá, a Suíça é um país que consome muita carne, inclusive a brasileira. É o que afirmou o embaixador da Suíça, André Regli, que também admitiu o incômodo com as notícias divulgadas pela imprensa. ;Preocupa muito porque não se brinca com a saúde;, destacou.

Dados

Temer usou números já divulgados anteriormente para amenizar provocados pela Carne Fraca na reunião com os chanceleres. Reforçou que apenas 21 unidades frigoríficas estão sob investigação, de um total de 4.837 unidades sujeitas à inspeção federal. O presidente da República também destacou que apenas 33 servidores estão sendo investigados, de um total de 11 mil servidores. Das 21 plantas frigoríficas, três já estão interditadas.

Entre as 21 plantas, seis exportaram carne brasileira nos últimos 60 dias. A partir de hoje, o ministério vai informar: quais países receberam o produto; quais foram os produtos; e a origem dos itens por empresas. ;O objeto de apuração de defesa agropecuária, cujo rigor é reconhecido, mas alguns poucos desvios de conduta;, disse Temer. O presidente também destacou que, em 2016, foram expedidas 853 mil partidas de produtos de origem animal do Brasil para o exterior. Desse total, 184 foram consideradas pelos importadores com padrão ;fora de conformidade;. ;Mas muitas vezes por problemas de temas não sanitários, como rotulagem e preenchimento de certificados;, afirmou Temer.

Colaborou Vera Batista

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