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Mesmo após greve nacional, Temer reafirma que vai continuar com reformas

Aliados do Palácio do Planalto afirmaram que as manifestações não atrapalham a tramitação dos projetos no Congresso

Paulo de Tarso Lyra, Rosana Hessel
postado em 29/04/2017 08:00
Manifestantes reunidos na capital paulista contra as reformas trabalhista e previdenciária propostas pelo governo Michel Temer: Planalto mantém o discurso a favor dos projetos

Após a greve geral organizada ontem pelas centrais sindicais, o governo reafirmou, ao término do dia, o compromisso com as reformas da Previdência e Trabalhista. Em nota oficial, o presidente Michel Temer falou da liberdade de manifestação que ocorreu em todo o país. ;O governo federal reafirma seu compromisso com a democracia e com as instituições brasileiras. O trabalho em prol da modernização da legislação nacional continuará, com debate amplo e franco, realizado na arena adequada para essa discussão, que é o Congresso Nacional;, disse o presidente.

Temer declarou que, ;de forma ordeira e obstinada, o trabalhador brasileiro luta intensamente nos últimos meses para superar a maior recessão econômica que o país já enfrentou em sua história;. E afirmou que o governo também tem essa tarefa e aproveitou para cutucar as gestões anteriores. ;A esse esforço se somam todas as ações do governo, que acredita na força da unidade de nosso país para vencer a crise que herdamos e trazer o Brasil de volta aos trilhos do desenvolvimento social e do crescimento econômico.;

O presidente também criticou o que considerou ações isoladas de pequenos grupos. ;Infelizmente, pequenos grupos bloquearam rodovias e avenidas para impedir o direito de ir e vir do cidadão, que acabou impossibilitado de chegar ao seu local de trabalho ou de transitar livremente. Fatos isolados de violência também foram registrados, como os lamentáveis e graves incidentes ocorridos no Rio de Janeiro;.

O Planalto monitorou as manifestações ao longo de todo o dia. A preocupação era de que uma adesão maciça pudesse dificultar a negociação com os parlamentares no Congresso. No início da tarde, o ministro da Justiça, Osmar Serraglio, classificou a paralisação de fracasso. O governo como um todo, no entanto, não quis fazer avaliações precipitadas, para não incorrer no mesmo erro cometido pelo ex-secretário-geral da Presidência, Miguel Rossetto, que, nas primeiras manifestações pró-impeachment, deu a desastrosa declaração de que ;só foi para as ruas os eleitores do candidato do PSDB;.

;Consciência forte;


Em vez de minimizar a quantidade de pessoas nas ruas, o discurso governista sempre foi enfatizar a necessidade de se aprovar as reformas no Congresso. ;Há uma consciência muito forte de que é preciso que nós enfrentemos a questão da reforma da Previdência. Se não tomarmos alguma medida urgente, vamos ter no governo federal o mesmo quadro do Rio de Janeiro, onde temos visto drama e desespero de pensionistas e aposentados que não estão recebendo;, disse o secretário-geral da Presidência, Moreira Franco.

O ministro não quis entrar na polêmica quanto às resistências a serem vencidas pelo governo para aprovar a reforma. Na terça-feira, o Planalto deve estampar no Diário Oficial uma lista de desonerações de aliados que se posicionaram contra a reforma trabalhista, considerada um termômetro de fidelidade da base de apoio no Congresso. ;Não tem plano B, só tem plano A. Temos que aprovar a reforma da Previdência;, resumiu um assessor do presidente.

Previsões


Nem mesmo o discurso oposicionista organizado pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), faz o Planalto mudar de planos. ;Eu não respondo às provocações do senador. O mais importante é tirar o país da maior crise econômica da história e recuperar a capacidade de gerar empregos;, afirmou Moreira.

A consultoria Eurasia foi mais explícita e disse que, sim, a baixa adesão aos movimentos de ontem pode ser considerada uma boa notícia para o governo Temer. ;O sucesso e sobrevivência do governo Temer dependem da implantação e aprovação da agenda de reformas. Esporadicamente, esses eventos são dominados pela esquerda, mas podem, em alguns momentos, conquistar a adesão das classes média. Portanto, o silêncio de ontem dará mais fôlego para que o governo avance com medidas impopulares no Congresso, como a reforma trabalhista e previdenciária;.

A Eurasia, inclusive, mantém intacto o cronograma previsto para aprovação das reformas no Congresso. ;Apesar da expectativa de turbulência nas ruas nas próximas semanas, as duas reformas vão avançar. Na próxima semana, a Câmara começará a votar a reforma da Previdência (na comissão especial), mesmo que, para isso, seja necessária uma nova rodada de negociações. E os senadores devem aprovar, em junho ou julho, a reforma trabalhista;, concluiu a consultoria.

Protesto na casa de Temer


Um ato em frente à casa do presidente Michel Temer em São Paulo acabou com em confronto entre polícia e manifestantes. Por volta das 20h30, a PM começou a atirar bombas de efeito moral contra os manifestantes mais próximos da barreira montada no local para isolar a residência do presidente. Houve correria em direção às ruas vizinhas. A polícia usou bombas de gás lacrimogêneos, balas de borracha e canhão de água. Grande parte dos manifestantes recuou em direção à praça Panamericana. A avenida Fonseca Rodrigues, mais escura, facilitou a ação de black blocs. Um helicóptero da PM sobrevoava as imediações. Havia barreiras policiais na esquina da avenida Professor Manoel José Chaves com a praça Panamericana. Com medo da polícia, manifestantes recuaram.

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