Politica

Defesa e acusação traçam estratégia para reta final do processo contra Lula

Ex-presidente foi interrogado pelo juiz federal Sérgio Moro em Curitiba na última quarta-feira (10/5)

Paulo de Tarso Lyra
postado em 12/05/2017 06:00

Lula responde a perguntas de Moro durante a audiência de quarta, em Curitiba: processo entra agora na fase das alegações do MP e dos advogados

Um dia depois do depoimento dado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao juiz Sérgio Moro, no inquérito que investiga a compra de um tríplex no Guarujá (SP) para ocultar o pagamento de R$ 3,7 milhões em propinas, defesa e acusação começam a traçar estratégias para a reta final do processo. A próxima etapa são as alegações finais do Ministério Público e dos advogados para, só então, o juiz Sérgio Moro dar o veredito. ;O interrogatório do réu é uma fase importante da investigação, mas ele não precisa dizer a verdade. A sentença baseia-se, muito mais, no depoimento das testemunhas, tanto de defesa quanto de acusação, e nas provas documentais;, afirmou o presidente da Associação Nacional dos Procuradores (ANPR), José Robalinho Cavalcanti.



[SAIBAMAIS]Advogados do ex-presidente e petistas comemoraram o desempenho de Lula no interrogatório. ;Ele foi bem, conseguiu provar que não tem qualquer relação com o apartamento do Guarujá e as pessoas começam a perceber isso. Quanto mais isso for sendo propagado, crescem as chances de provarmos que este é um julgamento político;, disse o líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP).

Para Robalinho, é mais do que natural que não haja qualquer escritura ou documentação que ateste o fato do apartamento pertencer a Lula, uma vez que o escopo da investigação é a lavagem de dinheiro com ocultação de patrimônio. ;Se tivesse alguma escritura ou documento de posse não seria lavagem de dinheiro, seria apenas corrupção passiva;, explicou o presidente da ANPR.

Na visão do procurador, o MP baseia-se em outros pontos, não apenas as provas testemunhais, mas também documentos obtidos ao longo do processo de investigação. ;Existem e-mails trocados por funcionários das empreiteiras deixando claro que as benfeitorias que estavam sendo feitas no apartamento tinham como objetivo prepará-lo para ser entregue ao ex-presidente;, completou Robalinho.


Ameaça de agentes

O interrogatório de quarta-feira também anda gerando faíscas e brechas para novas crises. A Federação Nacional dos Policiais Federais afirmou, por meio de nota, que vai processar o ex-presidente Lula por ;denunciação caluniosa;. A entidade alegou que, ao ser apresentado a um documento pelo juiz Sérgio Moro durante o depoimento, o ex-presidente Lula ;insinuou; que agentes federais teriam ;plantado provas em seu apartamento;.

O presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Luís Boudens, disse que ;atribuir a inserção de provas dentro do local de busca é uma afronta à Polícia Federal;. Lula teria feito a insinuação de prova plantada quando Moro o questionou sobre documento sem assinatura que agentes da Polícia Federal apreenderam no apartamento em São Bernardo do Campo, onde o ex-presidente mora.

Já os advogados de Lula reclamam da falta de acesso aos documentos da Petrobras que amparam a denúncia feita contra ele. ;É importante registrar que a Petrobras é assistente da acusação. Em 28/4/2017, a companhia protocolou petição na qual nega à defesa o acesso a todas as atas da Diretoria Executiva, no período de 2003 a 2014, conforme havia sido solicitado. Enquanto o Ministério Público Federal, a Polícia Federal e a assistente de acusação têm acesso a todo e qualquer material da empresa para usar na ação, isso é negado à defesa de Lula;, afirmam, em nota, os advogados Cristiano Zanin e Valeska Martins.


FHC vê problema de difusão da informação

Ao comentar eventuais excessos da Operação Lava-Jato, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem, em Buenos Aires, que ;há um problema de difusão da informação que eu acredito que vai além do razoável;. ;Eu não sei quem são os responsáveis, mas, às vezes, difundem a informação antes mesmo de checá-la. Isso produz dano. Mas há que reconhecer que, no mundo contemporâneo, com os meios de comunicação tão abertos e com a internet tão aberta, é quase impossível. Eu acredito que esse seja um excesso;, disse FHC, que participou de seminário entre ex-presidentes, empresários e acadêmicos. Já o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG), defendeu ontem ser preciso ;despolitizar; o processo de investigação da Lava-Jato.

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