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Temer diz que entrará com petição para suspender inquérito no STF

O peemedebista disse que a gravação feita em conversa entre ele e o dono do grupo JBS no Jaburu, em março deste ano, foi editada

Rodolfo Costa , Hellen Leite
postado em 20/05/2017 14:46

O peemedebista disse  que a gravação feita em conversa entre ele e o dono do grupo JBS no Jaburu, em março deste ano, foi editada

O presidente da República, Michel Temer, voltou a contra-atacar as denúncias de suspeita de corrupção passiva. Em pronunciamento na tarde deste sábado (20/5), o chefe do Executivo Federal reforçou o argumento da defesa de que os áudios foram manipulados e que, portanto, pedirá a suspensão do inquérito contra ele no Supremo Tribunal Federal (STF) e garante que permanecerá a frente do cargo.

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As informações que chegaram ao presidente é de que o áudio foi editado dezenas de vezes. ;Ouso até mencionar que mais de 50 edições deste áudio tentam macular não só a reputação moral do presidente da República. Mas tenta invalidar nosso país;, disse. Em sua fala, o presidente procurou passar confiança, declarando, mais uma vez, que o Brasil superará a atual crise institucional. ;Digo com toda segurança: o Brasil não sairá dos trilhos. Continuarei à frente do governo.;

Temer voltou a chamar a gravação na qual conversa com o delator Joesley Batista, um dos donos da JBS, de ;clandestina;. O presidente admitiu, ainda, que o país vive um momento de instabilidade e insegurança. ;O autor do grampo está livre e solto, passeando pelas ruas de Nova York. O Brasil, que já tinha saído da mais grave crise econômica de sua história, vive, agora, e sou obrigado a reconhecer, dias de incerteza;, avaliou.

Temer também não fez questão de esconder a insatisfação com Joesley. ;Ele não passou nenhum dia na cadeia. Não foi preso. Não foi julgado. Não foi punido;, afirmou. ;A gravação clandestina foi manipulada e adulterada por objetivos nitidamente subterrâneos. Muito do que foi dito nos depoimentos provam apenas falta de sintonia e abundante divergência;, disse.

[SAIBAMAIS] Este é o segundo pronunciamento do presidente em menos de uma semana. Na quinta-feira (18/5), após denúncias divulgadas pelo jornal O Globo, Temer falou por cinco minutos, onde se defendeu das acusações feitas na delação dos executivos da JBS. Apesar da pressão por grande parte dos brasileiros, e de nomes ligados à política nacional, Temer foi enfático em seu primeiro pronunciamento. "Não renunciarei. Repito: não renunciarei. Sei o que fiz. Exijo apuração de todos os fatos", afirmou o presidente. Desta vez, tornou a repetir: "Eu continuarei à frente do governo".

Diversas manifestações mostraram a perda de apoio do presidente tanto da classe política quanto de agentes do mercado. A última movimentação nesse sentido partiu do PSB, que, por meio do secretário geral do partido, disse que pedirá a renúncia de Michel. Segundo a sigla, uma nota será divulgada em breve."Não podemos dizer que saímos de um governo que nunca entramos. Mas quem pede renúncia do presidente com certeza não é independente", afirmou Renato Casagrande (PSB/ES). Ainda não há uma definição sobre o que acontecerá com o atual ministro de Minas e Energia, Fernando Filho, que é do PSB. Caso ele insista em permanecer frente à pasta, o partido há de definir alguma punição a ele.

Assista ao pronunciamento:


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Leia a íntegra do discurso de Temer:

Introdução

"Estou aqui mais uma vez para fazer uma declaração aos senhores e senhoras jornalistas e ao povo brasileiro. E registro que li hoje, notícia do jornal Folha de SP, de que perícia constatou que houve edição no áudio de minha conversa com o senhor Joesley Batista. Essa gravaçaõ clandestina, é o que diz... Foi manipulada e adulterada com objetivos nitidamente subterrâneos. Incluída no inquérito sem a devida e adequada averiguação, levou muitas pessoas ao engano induzido e trouxe grave crise ao Brasil. Por isso, no dia de hoje, estamos entrando com petição no Supremo Tribunal Federal para suspender o inquérito proposto até que seja verificada em definitivo a autecidade da gravação clandestina."

O ataque

"O autor do grampo está livre e solto. Passeando pelas ruas de Nova York. O Brasil, que já tinha saído da mais grave crise econômica de sua história, vive agora, sou obrigado a reconhecer, dias de incerteza. Ele não passou nenhum dia na cadeia, não foi preso, não foi julgado, não foi punido. E pelo jeito nem será. Cometeu, digamos assim, o crime perfeito. Graças a essa gravação fraudulenta e manipulada, especulou contra a moeda nacional.

A notícia foi vazada, seguramente, por gente ligada ao grupo empresarial e, antes de entregar a gravação, comprou um bilhão de dólares, porque sabia que isso causaria o caos no câmbio. Por outro lado, sabendo que a divulgação da gravação também reduziria o valor das ações de sua empresa, as vendeu antes da queda bolsa. Esses fatos já estão sendo apurados pela comissão de valores imobiliários. A JBS lucrou milhões e milhões de dólares em menos de 24 horas. Esse senhor, nos dois últimos governos, teve empréstimos bilionários no BNDES para fazer avançar os seus negócios. Prejudicou o Brasil, enganou os brasileiros e agora mora nos EUA."

A defesa

"Quero aqui observar a todos vocês aquilo que alguns da imprensa já notaram. As incoerências entre o áudio e o teor de seu depoimento. Isso compromete a lisura de todo o processo por ele desencadeado. O que ele fala em seu depoimento não está no áudio. E o que está no áudio demonstra que ele estava insatisfeito com o meu governo. Reclamações contra o ministro da Fazenda. Contra o Cade. Contra o BNDES. Essa é a prova cabal de que meu governo não estava aberto a ele. E no caso, convenhamos, no caso central de sua delação, fica patente o fracasso de sua ação. O Cade não decidiu a questão solicitada por ele. O governo não atendeu a seus pedidos. Não se suspenta, por tanto, a acusação pífia de corrupção passiva."

A autovalorização

"O BNDES mudou no meu governo. A presidente, Maria Silvia, moralizou o BNDES, botou ordem na casa. E tem meu respeito e meu respaldo para fazê-lo. Assim como Pedro parente fez na Petrobras. Estamos acabando com os velhos tempos das facilidades aos oportunistas. E isso, meus amigos, incomoda muito. Há quem queira me tirar do governo para voltar aos tempo em que faziam tudo o que queriam com o dinheiro público e não prestavam contas à ninguém. Quebraram o Brasil e ficaram ricos."

A justificativa

"O autor do grampo relata, no diálogo que tivemos, suas dificuldades. Simplesmente, as ouvi. Nada fiz para que ele obtivesse benesses do governo. Não há crime, meus amigos, em ouvir reclamações e me livrar do interlocutor indicando outra pessoa para ouvir as suas lamúrias. E, confesso, que eu o ouvi à noite, como ouço muitos empresários, políticos, trabahladores, intelectuais e pessoas de diversos setores da sociedade brasileira. No Palácio do Planalto, no Jaburu, no Alvorada, em São Paulo. Trabalho rotineiramente até meia noite ou mais. E falo até com pessoas da imprensa em horas avançadas. Nada demais há nisso. Mas é bom ouvir com atenção o que dizem as pessoas."

O silêncio

"E muito do que foi dito no depoimento de Joesley e Ricardo, provam apenas falta de sintonia; Abundante divergência. O primeiro fala em buscar uma forma de interlocução comigo, pois não a tinha. Já o segundo fala que era meu interlocutor frequente, em nome do grupo. Há muitas mentiras espalhadas em seu depoimento. Lembrem da acusação de que eu dera aval para comprar o silêncio de um deputado. Não existe isso na gravação, mesmo sendo ela adulterada. E não existe, porque nunca comprei o silêncio de ninguém. Não obstruí a Justiça, porque não fiz nada contra a ação do judiciário. Falo aqui só de um dos pontos de contradição e incoerência. Ou seja, houve falso testemunho à Justiça. Chegam ao desplante de me atribuir falas, frases ou senhas ou palavras chulas que jamais cometeria. Atentam contra o meu vocabulário e minha inteligência. Tenho crença nas instituições brasileiras e nos seus integrantes.

Devo até registrar que é interessante quando os senhores examinam o seu depoimento e o áudio os senhores verificam que a conexão de uma sentença a outra não é a conexão de quem diz: ;olhe, eu estou comprando o silêncio de um ex-deputado e estou dando tanto a ele;. Não. A conexão é com a frase ;eu me dou muito bem com o ex-deputado. Mantenho uma boa relação;. Eu disse: mantenha isso, viu? Enfatizo muito o ;viu;."

O Judiciário

"E por isso mesmo devo dizer que não acreditei na narrativa do empresário, de que teria segurados juízes, etc. Ele é um conhecido falastrão exagerado. Aliás, depois, em depoimento, podem conferir, disse que havia inventado essa história. Que não era verdadeira. Ou seja, era fanfarronice que ele utilizava naquele momento. Eu quero pontuar que houve grande planejamento para realizar esse grampo. Depois houve uma montagem e uma ação deliberada para criar um flagrante que incriminasse alguns enquanto os criminosos fugiam para o exterior em absoluta segurança."

A recessão

"O Brasil, meus senhores, exige que se continue no caminho da recuperação econômica que traçamos para colocar o país nos trilhos. Já recuperamos o PIB, acabamos com a recessão, reduzimos a inflação, derrubamos a taxa de juros, estamos gerando emprego, liberamos mais de R$ 40 bilhões para os trabalhadores brasileiros. Estamos completando as reformas para modernizar o Estado brasileiro. Meu governo, senhores, tem rumo. Acho que os senhores e as senhoras são testemunhas deste fato. E sabem que o que foi dito, volto a dizer, no áudio, que de resto está sendo impugnado por eventuais... Ouço até mencionar que houve até 50 edições desse áudio, que tenta macular não só a reputação moral do presidente da República, mas tenta invalidar nosso país. Mas eu digo com toda segurança. O Brasil não sairá dos trilhos. Eu continuarei à frente do governo"

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