Politica

Randolfe Rodrigues: "Barbosa é um quadro de que a política precisa"

Senador do Amapá afirma: o ex-presidente do Supremo pode ocupar o 'papel que ele quiser' no quadro político do país

Paulo de Tarso Lyra
postado em 19/06/2017 07:00

Líder de si mesmo no Senado, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), uma das vozes mais marcantes do partido de Marina Silva no Congresso, escancara as portas da legenda para o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa. O jurista, que esteve ao lado de dirigentes partidários acompanhando o julgamento do pedido de cassação da chapa Dilma-Temer, é enaltecido pelo senador do Amapá como uma ;pessoa progressista, arrojada, com um radical compromisso com a ética e com a Justiça;.

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Se, por um lado, Barbosa faz charme, admitindo convites de filiação ; também tem mantido diálogo com o PSB ; por outro, a Rede garante que não vai pressionar o relator do processo do mensalão no Supremo.

[SAIBAMAIS]

Randolfe disse que, mais do que uma filiação, é fundamental a participação do ex-ministro no jogo político do ano que vem, especialmente em um cenário ;em que não temos alternativas, ou as que surgem são populistas e extremistas;, explicou o senador. Embora defenda o nome de Marina Silva como a candidata do partido ao Planalto, Randolfe afirma que isso pode ser conversado, uma vez que a ex-senadora também quer contribuir com o debate político, sem apego a cargos.


O senador do Amapá é enfático na defesa do ;Fora Temer; e acredita que não há como haver crescimento sustentável com a manutenção do peemedebista no cargo. ;Não passa segurança para os investidores;, afirma. Confira os principais trechos da entrevista ao Correio:

O ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, foi ao TSE na semana passada, acompanhado de políticos da Rede. Está surgindo um namoro mais firme entre vocês?
Nós namoramos o ministro Joaquim há muito tempo. Ele tem o perfil que nós defendemos e chamamos de nova política. É uma pessoa progressista, arrojada, com um radical compromisso com a ética e com a justiça. Teve uma atuação no STF irrepreensível e uma demonstração de desapego ao poder. Renunciou ao mandato do STF antes do limite de idade. É um perfil que nos inspira. Tudo faremos para tê-lo entre nossos filiados.

Para ser candidato a presidente ou a outro cargo?
Joaquim Barbosa é um quadro de que a política brasileira precisa muito. Eu defendo que a candidata da Rede à Presidência é a Marina Silva. Mas a vinda do Joaquim é para ocupar o papel que ele quiser no quadro político brasileiro.

E tem prazo para essa decisão?
Ninguém estabeleceu prazo. Queremos deixar o ministro Joaquim sem pressão, para que, no prazo dele, ele defina o que achar melhor. Mas adianto que estamos fazendo tudo, não só para o ministro Joaquim se filiar à Rede, mas para participar da política. Em um cenário para 2018, em que não temos alternativas, ou as que surgem são populistas e extremistas, ter o ministro Joaquim como alternativa é uma contribuição para o Brasil.

Barbosa era famoso na época do mensalão. Hoje esse espaço está tomado pelo juiz Sérgio Moro,
que não será candidato. Acha que Barbosa terá a mesma força que tinha há três anos?

Pessoas honestas, especialmente na política brasileira, tomada pela corrupção, sempre vão ter destaque. O impacto de nomes como Deltan (Dallagnol), Moro é o mesmo impacto de Barbosa. Levando-se em conta que os outros dois não serão candidatos, não tenho dúvida de que esse espaço será galvanizado por ele.

Marina poderia repetir o gesto de desprendimento de 2014 e candidatar-se a vice?
A Marina é uma das pessoas mais desprendidas que eu conheci na minha vida. Ela é candidata a contribuir, da melhor forma, com o país. Ela não tem vaidade, não tem pretensão de lugar ocupado. Eu vejo a Marina muito disposta a contribuir com o país na próxima conjuntura. Esse é um debate que vamos fazer.

A Rede recorreu ao Supremo contra a decisão do TSE de absolver a chapa Dilma-Temer. Acredita que há margem de reversão ou é apenas para marcar posição política?
A Rede nasceu não para marcar posição. O que fazemos é por convicção do que é possível ser feito. A nossa reclamação é porque não concordamos com o resultado do julgamento. E consideramos um absurdo não considerar provas que haviam sido pedidas pelo próprio tribunal.

O governo se segura em algun sinais tímidos de melhora na economia. A queda de Temer não impactaria nesses resultados?

Só haverá crescimento sustentável da economia brasileira sem a presença de Michel Temer na presidência da República. Imagine um cenário para os investidores, os agentes econômicos, de ver um país cujo presidente da República está denunciado como chefe de uma organização criminosa. Isso não traz credibilidade para a economia. E, para se manter, ele flexibiliza tudo que fez para chegar até aqui. Ele renegociou dívidas de estados, liberou emendas parlamentares fisiologicamente e joga por terra qualquer política de estabilidade para se manter no governo.

Diante da quase impossibilidade de eleições diretas, pela dificuldade de se aprovar uma emenda constitucional, caberia ao Congresso eleger um sucessor de Temer...
Eu prefiro eleições diretas. Mas esse cenário seria mais provável com a cassação da chapa no TSE. Como não foi, vejo com enormes dificuldades de aprovar a mudança no Congresso. Em um Congresso no qual 1/3 está envolvido em irregularidades, não serão eleitos nomes que imponham algum grau de credibilidade. Só que, a esta altura, nunca o ;primeiramente Fora Temer; foi tão atual. O capítulo do nome que virá na eleição é posterior. O momento é de tirar este governo por tudo que ele representa.

O governo garante que tem os votos necessários para barrar a denúncia de Rodrigo Janot. O Congresso vai comprar essa briga a um ano das eleições?
O governo tem base, recursos de emendas. Mas os parlamentares, daqui a pouco, vão ser chamados a responder se concordam em manter um chefe de uma organização criminosa à frente do principal cargo político do país. Quanto mais próximo da eleição, mais difícil será para aprovar.

O resultado do TSE também absolveu a ex-presidente Dilma, que manteve os direitos políticos. Tanto que o PT disse que o TSE reforçou o discurso do golpe. Vocês foram contrários ao impeachment. Mas recorreram da decisão do TSE. Não é uma contradição?
A Rede não sustenta a ideia de que houve golpe. Tivemos posições favoráveis e contrárias ao impeachment de Dilma. Eu fui contra por achar que não havia crime de responsabilidade. Mas o procedimento, por injusto que possa ser, foi dentro do previsto no texto constitucional. Não vejo como ter golpe cumprindo o que está na Constituição, apesar do discurso do PT. Passei a defender a cassação da chapa após os depoimentos da Odebrecht que foram incluídos pelo ministro Hermann Benjamin. Mostrou a abuso de poder econômico e a captação ilícita de sufrágio. A Rede tem mantido a coerência, os incoerentes são PT e PSDB.

Por quê?
O PT diz que foi golpe, defende o ;Fora Temer;, mas não sustentou a cassação da chapa, que era a hipótese concreta e imediata de fim do governo Temer. E o PSDB entrou com ação e fez corpo mole, por ser o principal partido de sustentação do governo.

E a sinuca de bico do PSDB?
Espero que eles tenham o senso de responsabilidade com o país. Não pode ser cooptado por interesses imediatistas de preservação de quem quer que seja para sustentar um governo moribundo. Apoiar as reformas não significa diretamente apoiar o governo. Esse governo só não caiu ainda porque o PSDB o mantém. E a imagem ética do partido está torrando com isso.

A primeira turma vai decidir sobre os dois recursos de Aécio Neves contra o pedido de prisão e o afastamento. Qual a expectativa de vocês para esse julgamento?
Falo isso com incômodo porque, no Senado, você também estabelece relações pessoais. Lamentavelmente, não tem como dizer que a conduta do senador Aécio não rompeu todos os códigos de conduta e ética parlamentar. O julgamento dele deve ser comparado ao julgamento do senador Delcídio. Não vejo como ter desfecho diferente.

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