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Bendine cobrava propina com a Lava-Jato em 'estágio avançado', diz MPF

O procurador Athayde Ribeiro Costa ressaltou a 'audácia' dos investigados em continuar com esquema de corrupção em meio às investigações da Lava-Jato. Preso hoje em Sorocaba, Aldemir Bendine pediu propina às vésperas de assumir a presidência da Petrobras

Jacqueline Saraiva
postado em 27/07/2017 09:53
Nesta manhã de quinta-feira (27/7), Aldemir Bendine foi preso temporariamente: corrupção e lavagem de dinheiro
Ao justificar a ação da 42; fase da Operação Lava-Jato, que prendeu o ex-presidente do Banco do Brasil e da Petrobras Aldemir Bendine, o procurador da República Athayde Ribeiro Costa disse ser "incrível" topar com evidências que, mesmo com a Lava-Jato já em "estágio avançado", criminosos tiveram a "audácia" de continuar com o esquema de corrupção. "São a prova viva de que a prisão é necessária para frear o ímpeto criminoso de um esquema que vem desviando bilhões há mais de décadas", disse o procurador em nota.

Nesta manhã de quinta-feira (27/7), Aldemir Bendine foi preso temporariamente na Operação Cobra, nome dado à nova fase da Lava-Jato, uma referência ao codinome usado por Bendine nas planilhas da Odebrecht. Ele estava em uma residência em Sorocaba, em São Paulo. Os irmãos André Gustavo Vieira da Silva e Antônio Carlos Vieira da Silva Júnior, sócios em uma agência de publicidade, a Arcos Propaganda, que estavam no Recife, também foram presos. Os três são suspeitos de operacionalizarem o recebimento de R$ 3 milhões de reais em propinas pagas pela Odebrecht em favor do ex-presidente da Petrobras.

[SAIBAMAIS]Além das três prisões, a Justiça expediu, a pedido da força-tarefa do Ministério Público Federal no Paraná (MPF/PR), 11 mandados de busca e apreensão. As ações da Polícia Federal (PF) ocorreram em Pernambuco, Rio de Janeiro, São Paulo e no Distrito Federal. Em Brasília foram duas ordens de busca e apreensão. Os presos deve ser trazidos para a Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde permanecerão à disposição da 13; Vara Federal de Curitiba (PR). A prisão de Bendine, que é temporária, tem prazo de cinco dias e pode ser prorrogada pelo mesmo tempo ou convertida para preventiva, que é quando o investigado não tem prazo para deixar a prisão.

Segundo a investigação do MPF, Bendine fez um pedido de R$ 17 milhões em propinas à época em que era presidente do Banco do Brasil. O motivo, segundo as delações do presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e do ex-executivo do grupo, Fernando Reis, seria viabilizar a rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial. O pedido, no entanto, foi negado pelos executivos "porque entenderam que Bendine não tinha capacidade de influenciar no contrato de financiamento do Banco do Brasil."

No entanto, na véspera de assumir a presidência da Petrobras, em 6 de fevereiro de 2015, Bendine e um de seus operadores financeiros teriam feito um segundo pedido de propina, no valor de R$ 3 milhões, para que o grupo empresarial Odebrecht não fosse prejudicado na Petrobras, inclusive em relação às consequências da Operação Lava-Jato. Desta vez, por receio de ser prejudicada na estatal petrolífera, a Odebrecht optou por pagar.

Empresa de fachada

Segundo a investigação, o valor foi repassado em três entregas com dinheiro em espécie, no valor de R$ 1 milhão cada, em São Paulo. "Esses pagamentos foram realizados no ano de 2015, nas datas de 17 de junho, 24 de junho e 1; de julho, pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht", afirma o MPF.

Neste ano, um dos operadores financeiros que atuavam junto a Bendine confirmou que recebeu R$ 3 milhões da Odebrecht, mas tentou atribuir o pagamento a uma suposta consultoria que teria prestado à empreiteira para facilitar o financiamento junto ao Banco do Brasil. A empresa, no entanto, era de fachada. A investigação aponta ainda que a falta de explicação sobre o destino dos valores, ausência de contratos escritos para o valor de uma consultoria milionária, dentre outros, confirmam o esquema criminoso.

Quando teve conhecimento das investigações da Lava-Jato, o operador tentou dar uma aparência de negócio lícito, segundo o MPF, recolhendo os tributos relacionados à suposta consultoria, cerca de dois anos após os pagamentos. "Há indícios que a documentação também foi produzida com intuito de ludibriar e obstruir as investigações", afirmaram os procuradores.

Prisão "desnecessária"

O advogado Pierpaolo Bottini, que defende Aldemir Bendine, disse ser "desnecessária" a prisão do ex-presidente do BB, já que ele, desde o início das investigações, se colocou à disposição da Justiça para esclarecer os fatos e juntou seus dados fiscais e bancários ao inquérito, demonstrando a licitude de suas atividades."

Missão contra corrupção

Aldemir Bendine era homem forte no governo de Dilma Rousseff. Foi presidente da Petrobras entre fevereiro de 2015 e maio de 2016 e substituiu Graça Foster no cargo da estatal. Já no Banco do Brasil, ele presidiu a entidade entre abril de 2009 e fevereiro de 2015. Ao deixar o cargo no Banco do Brasil, Bendine tinha como "missão" acabar com a corrupção na Petrobras. No entanto, segundo procuradores do Ministério Público Federal (MPF), nas delações constava que ele já cobrava propina no Banco do Brasil e continuou com o esquema criminoso na Petrobras. A abertura de inquérito contra ele foi autorizada pelo juiz Sérgio Moro, responsável pelos processos da Lava-Jato, em junho deste ano.

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