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Governo corre para conseguir quórum para barrar denúncia contra Temer

Denúncia será analisada nesta quarta-feira (2/8), no plenário da Câmara dos Deputados. Especialistas apostam que o presidente conseguirá barrar o pedido de investigação

Bernardo Bittar, Rosana Hessel
postado em 01/08/2017 06:00
Gráfico com os próximos passos do processo contra Michel Temer. Ao centro, um desenho do rosto de Temer

Dois dias antes da votação decisiva em que Michel Temer poderá se tornar o primeiro presidente em exercício réu na Justiça, o peemedebista buscou demonstrar tranquilidade aos interlocutores. Amanhã, o plenário da Câmara dos Deputados apreciará a denúncia de corrupção passiva feita contra Temer pela Procuradoria-Geral da República (PGR). Analistas e fontes próximas ao governo acreditam que haverá quórum para que a votação seja realizada e que o processo será barrado pelos parlamentares.
O deputado federal Danilo Forte (PSB-CE), após reunião no Planalto, contou que o presidente estava ;muito tranquilo;. Segundo o parlamentar, o governo tem pressa e quer virar logo essa página. ;Temer quer começar um novo momento do governo na quinta-feira e pretende deixar um legado com as medidas reformistas, e, assim que barrar a denúncia, vai encaminhar a proposta da modernização tributária;, disse.

Mas, para virar essa página, é preciso um quórum de 342 dos 513 parlamentares da Câmara para abrir a sessão para a votação amanhã. E essa é a grande barreira enfrentada pelo peemedebista. Fontes palacianas evitam falar oficialmente em números e não comentam sobre as divisões dentro do PMDB e do PSDB. Pelas estimativas de parlamentares governistas, Temer conseguiu reunir 250 votos favoráveis ao relatório do deputado Paulo Abi-Ackel (PSDB-MG), que é pela rejeição da denúncia da PGR e contra o afastamento do presidente. Esse número é suficiente para evitar que o processo seja enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), mas não garante a votação.

[SAIBAMAIS]A queda de braço pelo quórum foi motivo para marcar reunião emergencial no Palácio da Alvorada, no último fim de semana, para a contagem de aliados, opositores e indecisos. Já está certo que os ministros que têm mandato na Câmara deixarão seus postos temporariamente e voltarão ao plenário amanhã para a votação. Vale lembrar que, em maio, antes da crise política com a delação dos donos da JBS, Temer tentava convencer 50 parlamentares para aprovar a reforma da Previdência ; que precisa de 342 votos para passar na Câmara. ;O governo sabe que precisa mobilizar a base, mesmo que informalmente, para conseguir o quórum para abrir a sessão. Não é sua tarefa, mas será um sinal de força se ele conseguir iniciar a votação;, avaliou o cientista político Rafael Cortez, da Tendências Consultoria. Ele lembrou que Temer ainda precisará enfrentar as próximas denúncias da PGR que estão por vir. ;Vai ser um desgaste atrás do outro e, certamente, será difícil aprovar a reforma da Previdência, que disputará preferência com a reforma política, que deverá entrar na pauta devido ao calendário eleitoral;, alertou.


Análises


As previsões são de vitória de Temer. Para a Arko Advice, haverá quórum amanhã para a votação e o apoio ao presidente será de 257 a 270 deputados, podendo chegar a 285. As estimativas da consultoria Eurasia Group são de que 250 a 270 deputados votarão a favor de Temer, ;com potencial de esse número ser maior;. ;O importante será o resultado dessa votação. Se o governo conseguir mais de 257 votos, ele conseguiu manter certa unidade na base e terá menos dificuldade para aprovar as reformas. Mas, se barrar a denúncia com menos de 257, criará uma dinâmica desfavorável;, afirmou o cientista político Carlos Melo, professor do Insper.

O líder do PT na Câmara, Carlos Zarattini (SP), disse ontem que a oposição vai propor quórum acima de 400 parlamentares para que a votação da denúncia seja aberta. Em campanha para esvaziar o plenário, o deputado Silvio Costa (PTdoB-PE) enviou mensagens em aplicativos tentando convencer colegas a faltarem à votação.

Cerca de 200 dos 513 deputados devem votar contra o presidente, mas 63 ainda estão indecisos. Nos bastidores da República, comenta-se que Temer trabalha para convencer pelo menos 20 deputados para ter uma margem superior ao mínimo de 172 para barrar a denúncia. As moedas de trocas seriam as emendas parlamentares e a distribuição de cargos públicos, ambas denunciadas pela oposição ao Ministério Público. ;O governo precisa de apoio a qualquer custo, e isso vai causar um retrocesso de 100 anos no Brasil;, alfinetou o deputado Ivan Valente (PSol-SP). Como resposta, fontes do Planalto disseram que estão sendo liberadas emendas ;para todos os partidos;, inclusive, os da oposição.

O mercado ontem abriu a semana em clima de que Temer conseguirá barrar a denúncia da PGR. A Bolsa de Valores de São Paulo, a B3, subiu 0,65% e o dólar recuou 0,45%. ;Para boa parte do mercado, a votação de amanhã é um evento menos importante, porque a equipe econômica continuaria no governo, independentemente de Temer ficar ou ser afastado para Rodrigo Maia (presidente da Câmara) assumir com a abertura da investigação pelo STF. Alguma mudança nesse cenário só ocorrerá se houver uma nova surpresa;, explicou Alexandre Espirito Santo, economista da Órama. Ele criticou a falta de cautela dos agentes econômicos. ;Há um excesso de otimismo e vários riscos eventuais não estão sendo considerados, tanto internamente quanto no cenário externo;, alertou.

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