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Prisão e possível delação de Geddel deixam o Planalto em alerta

O temor dos auxiliares do presidente Michel Temer é que o ex-titular da secretaria de Governo faça uma delação premiada que comprometa o chefe do Executivo

Antonio Temóteo
postado em 09/09/2017 08:00
O ex-ministro foi preso por decisão do juiz Vallisney de Souza Oliveira, que criticou a decisão de outro magistrado de soltar o político sem monitoramento

A prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima realizada ontem pela Polícia Federal (PF) em Salvador deixou o Palácio do Planalto em alerta. O temor dos auxiliares do presidente Michel Temer é que o ex-titular da secretaria de Governo faça uma delação premiada que comprometa o chefe do Executivo. Na avaliação de investigadores, parte da propina recebida por Geddel enquanto era vice-presidente da Caixa Econômica Federal financiou campanhas de peemedebistas ou foi dividida entre os caciques do partido.

A prisão ocorreu no mesmo dia em que Temer gravou uma mensagem para exaltar os dados econômicos positivos e reforçar o compromisso com as reformas, essenciais para reequilibrar as contas públicas e para que o país volte a crescer. Mas há quem duvide que exista tranquilidade na cúpula do governo. ;Se engana quem acha que o clima está bom no Planalto. Todos estão preocupados porque sabem que Geddel é explosivo, tem um temperamento forte e pode reagir muito mal ao cárcere;, disse um parlamentar do PMDB.

O político baiano foi preso por ocultação de recursos e lavagem de dinheiro. A medida é resultado da Operação Tesouro Perdido, em que se encontraram R$ 42 milhões e mais US$ 2,6 milhões em um imóvel supostamente usado para guardar bens do pai dele, morto em 2016. É um desdobramento das investigações da Operação Cui Bono, na quarta fase, que investiga cobrança de propina para liberação de empréstimos da Caixa. No despacho que autorizou a ação da Polícia Federal (PF), o juiz Vallisney de Souza Oliveira, da 10; Vara Federal do Distrito Federal (DF), afirmou que o ex-vice-presidente do banco público persiste na prática de delitos de forma ;sorrateira;.

Casa da mãe

Além disso, o magistrado autorizou buscas e apreensão de documentos na casa da mãe de Geddel, que fica no mesmo prédio em que o político mora. Os investigadores temiam que provas fossem destruídas ou escondidas na residência da viúva, dada a proximidade. O peemebebista estava em prisão domiciliar, sem tornozeleira eletrônica, por decisão do desembargador Ney Belo, do Tribunal Regional Federal da 1; Região, desde o dia 13 de julho. Ele havia sido preso 10 dias antes sob suspeita de pressionar o doleiro Lúcio Funaro a desistir de firmar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF).

Oliveira classificou a decisão do outro magistrado como ;completamente ineficaz;, por não permitir o monitoramento do investigado. Ele ainda registrou que a falta de eficiência da medida fica clara diante da ;dinheirama; encontrada perto da casa de Geddel. O apartamento fica a 1,2km da residência do político baiano, no bairro da Graça, um dos mais nobres de Salvador. Aplicativos de georreferenciamento apontam que o trajeto poderia ser feito em apenas 16 minutos de caminhada.

O juiz federal destacou na decisão que, quando ouvido pela PF e por ele, Geddel não revelou que tinha esses recursos guardados, o que reitera o crime de lavagem de dinheiro. ;Mesmo na remota hipótese de que os vultosos valores encontrados não sejam produto direto dos crimes ocorridos na Caixa Econômica Federal, o certo é que ele estava em prisão domiciliar e tais fatos repercutem desfavoravelmente na situação do requerido, por incorrer em reiterada prática criminosa que dá ensejo à prisão preventiva para asseguramento da ordem pública, inclusive diante das provas que o apontam como dono ou possuidor dos valores;, destacou.

Fragmentos das impressões digitais de Geddel foram encontrados em duas sacolas plásticas diferentes. A PF e os procuradores que conduzem as investigações afirmaram que existem ;fortes indícios; de que o dinheiro encontrado em um apartamento em Salvador seja do cacique peemedebista. Os investigadores apontam ainda a ligação do imóvel onde foram encontradas as malas de dinheiro com o irmão dele, o deputado federal Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA).

Durante a operação a polícia encontrou uma fatura em nome de Marinalva Teixeira de Jesus, apontada pelos procuradores como empregada doméstica de Lúcio. Além disso, o proprietário do apartamento, Silvio Antônio Cabral da Silveira, confirmou que emprestou o imóvel ao deputado federal. Conforme o pedido de prisão enviado do MPF para a 10; Vara Federal do DF, Silveira detalhou que emprestou o apartamento para Lúcio Vieira Lima ;em nome da amizade que possuía com ele, embora não conhecesse Geddel;. O empréstimo do apartamento foi confirmado em depoimento da administradora do condomínio.

Na Operação Cui Bono, Geddel e o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ) são investigados por supostamente cobrar propinas de empresas, entre elas empresas dos irmãos Batista, para a liberação de empréstimos bilionários da Caixa Econômica Federal no período em que o peemedebista foi vice-presidente de Pessoa Jurídica do banco, entre 2011 e 2013, no governo Dilma Rousseff.

Em delação, o doleiro Lúcio Funaro alega ter repassado R$ 20 milhões em dinheiro vivo ao peemedebista. A versão dele é corroborada pelo empresário Joesley Batista, da JBS.

Geddel foi transferido ontem em avião da PF para Brasília, aonde chegou às 15h. Além disso, as malas com o dinheiro e outras provas recolhidas foram levadas para investigação. O político foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) para perícia e em seguida seria transferido para a Papuda.

A audiência de custódia com o juiz Vallisney Oliveira ainda não foi marcada e, por isso, havia a chance de que o político baiano permanecesse na sede da PF. O advogado de Geddel e de Lúcio, Gamil F;ppel, informou que se manifestará quando tiver acesso aos autos do processo, especialmente aos documentos que são mencionados no decreto de prisão. Conforme ele, as prerrogativas de advogado e do direito de defesa são reiteradamente desrespeitados, diante do impedimento do acesso às provas já documentadas nos autos processuais.

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