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Apesar de reconhecer a dificuldade, Alckmin diz que PSDB apoiará reforma

Candidato de consenso à presidência do partido, o governador de São Paulo sinaliza que tucanos serão favoráveis ao texto da PEC da Previdência que o governo pretende colocar em votação, mas reconhece a dificuldade em aprovar a proposta no Congresso

Paulo de Tarso Lyra
postado em 02/12/2017 08:00

Temer e Alckmin vão se encontrar hoje em São Paulo, durante cerimônia de entrega de imóveis do programa federal Minha Casa, Minha Vida e do estadual Casa Paulista


Na véspera do encontro com o presidente Michel Temer ; o primeiro desde que foi indicado como candidato de consenso para presidir o PSDB ;, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, afirmou que o partido vai apoiar a reforma da Previdência que será apresentada pelo governo federal. Não disse, contudo, quantos votos a bancada tucana, composta por 46 deputados, dará ao texto. Na última reunião da executiva da legenda, o comando partidário evitou o fechamento de questão em torno do assunto.

;A Previdência precisa ser reformada porque há dois sistemas e os dois têm deficit. Só que o do INSS (Instituto Nacional do Serviço Social), que tem deficit de R$ 160 bilhões a R$ 170 bilhões para 32 milhões de aposentados, tem distribuição de renda. Ninguém ganha mais de R$ 5 mil e a média é um salário mínimo e meio. Mas o setor público é preocupante. Tem deficit de mais de R$ 80 bilhões para menos de 1 milhão de aposentados e pensionistas, com salários muito elevados. É o Robin Hood às avessas e, por isso, tem que ser corrigido;, disse o governador, em entrevista à Rádio Capital.

Rombo

As palavras de Alckmin soaram como música aos ouvidos do Planalto, que espera contar com o PSDB na batalha para aprovação da Previdência. ;Ele sabe que, ao ser escolhido candidato de consenso para presidir o partido, teria dificuldades de convencer o mercado, caso o partido resistisse às bandeiras históricas que sempre defendeu;, afirmou um interlocutor do presidente Temer. ;As resistências do PSDB à reforma geraram reações fortes de nomes tradicionais do partido, como a economista Elena Landau e o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga;, lembrou um aliado com livre trânsito no gabinete presidencial.

Alckmin citou todos os valores médios pagos ano passado em aposentadorias: R$ 1.191 para o aposentado do INSS, R$ 8 mil para o servidor do Poder Executivo público, R$ 16 mil para representantes do Judiciário e R$ 24 mil para o Legislativo. ;Não pode ter um sistema desses. Sempre defendi um regime geral de Previdência e vou lutar por isso, como já foi feito em São Paulo. Aqui, tanto o Legislativo, o Judiciário e o Executivo recebem o teto do INSS e têm a opção de aderir à previdência complementar;, comparou ele.



O tucano, no entanto, reconheceu que reforma da Previdência não será facilmente aprovada pelo Congresso, já que, por ser emenda constitucional, precisa de 308 votos. ;Mas a proposta terá o apoio do PSDB. Nós vamos apoiá-la.; Na última quarta-feira, o governador já havia afirmado que o PSDB defenderia a reforma da Previdência sob qualquer circunstância, em referência a uma eventual saída da sigla da base governista.

Moradias

Na entrevista à rádio, Alckmin não quis falar como presidente do PSDB. ;Se assumirmos, será só no dia 9. Antes disso não tem conversa, como presidente do partido, com o presidente Temer;, completou. Hoje, os dois se encontrarão no interior paulista em dois eventos de entrega de moradias populares construídas com recursos dos programas Minha Casa, Minha Vida (federal) e Casa Paulista (estadual). Mas ele confirmou querer ser candidato à Presidência da República ano que vem por se considerar preparado para o cargo.

;A postura do Geraldo está correta, ele não pode e ainda não tem autoridade para falar em nome do PSDB, porque ainda não é presidente de fato do partido;, afirmou o secretário-geral do PSDB, Silvio Torres (SP), um dos nomes mais próximos ao governador e, na futura gestão, deverá ser o responsável pelas finanças tucanas. Silvio lembrou que Alckmin e Temer terão agendas administrativas bastante intensas, sem brechas para outros assuntos. ;O que não significa que, após o dia 9, ele se coloque como alguém disposto ao diálogo com o Planalto;, afirmou Torres.

Para o deputado Nilson Leitão (PSDB-MT), o partido, na verdade, está realinhando o discurso com as velhas bandeiras. ;O absurdo era uma ala tucana ser contra a reforma da Previdência. Sabemos que a votação ainda este ano é difícil. Mas este assunto precisa ser, pelo menos, colocado em discussão para amadurecer;, defendeu Leitão.

Interlocutores do governo ; que passaram a semana dizendo que não havia nenhum encontro específico previsto entre o presidente Temer e o governador paulista ; admitiram ontem que aliados de ambos os lados tentarão promover uma reunião entre os dois em algum momento ao longo do dia. Não se sabe a duração e se eles estarão a sós.

;Não pode ter um sistema desses. Sempre defendi um regime geral de Previdência e vou lutar por isso, como já foi feito em São Paulo. Aqui, tanto o Legislativo, o Judiciário e o Executivo recebem o teto do INSS e têm a opção de aderir à previdência complementar;
Geraldo Alckmin, governador de São Paulo

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