Politica

Em caso de derrota de Lula, petistas devem adotar discurso moderado

Caso o TRF-4 confirme a condenação ao analisar o recurso, petistas pretendem atenuar críticas, na tentativa de minizar novas derrotas no Judiciário

Paulo de Tarso Lyra, Renato Souza
postado em 23/01/2018 08:09
O ex-presidente, que participou de encontro ontem com lideranças sindicais em São Paulo, se apoia em pesquisas eleitorais
Advogados do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiram com ele que, a partir da sentença proferida amanhã pelo Tribunal Regional Federal da 4; Região, em Porto Alegre, os discursos do petista serão modelados para unir a questão política e a questão jurídica. Trabalhando com a possível condenação pelos desembargadores ; a esperança é que o placar contrário seja de 2 a 1, e não de 3 a 0, mais provável no momento ;, Lula e seus defensores sabem que precisarão tomar cuidado para não atacar diretamente o Judiciário, o que dificultaria a apreciação dos recursos que serão apresentados ao próprio TRF4 e às instâncias superiores.

A preocupação é evitar a criação de um espírito de corpo na magistratura que gere uma antipatia natural aos recursos do petista. O próprio Lula fez questão de puxar as orelhas da presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). Na semana passada, ela disse que, para prender Lula, seria necessário ;matar muita gente;. Tanto que, logo após, nas redes sociais, reconheceu que havia se excedido. Em seguida, o presidente do Instituto Lula, Paulo Okamotto, afirmou que a petista tinha usado uma ;força de expressão; e que ele próprio ;morreria se Lula fosse preso;.

[SAIBAMAIS]Por isso, a expectativa é de que hoje, no ato que acontecerá em Porto Alegre, Lula faça um discurso mais duro, político, de candidato. O ensaio foi feito ontem, durante encontro com sindicalistas em São Paulo. Fez críticas gerais ao processo ; ele e o PT seguem tendo como principal adversário o juiz Sérgio Moro ;, mas evitou nominar os desembargadores que vão julgá-lo. Reforça, assim, a tese de que pretende ser candidato.

;Eu ainda sou o principal candidato. Todas as pesquisas dizem que eu sou o preferido. Eles ainda não têm candidato. Estão querendo colocar o Huck (Luciano Huck). O único crime que fizemos foi o de fazer com que as pessoas andassem de cabeça erguida;, disse o ex-presidente. ;Nós estamos vivendo um pesadelo. O meu futuro é muito curto, pois não tenho mais 20 anos. Então tenho que correr atrás de garantir as conquistas que já alcançamos;. Lula pretende ser candidato, mas a margem de manobra política dele está cada vez mais curta.

À exceção do PC do B, cuja presidenciável, Manuela D;Ávila, é deputada estadual do Rio Grande do Sul, nenhum integrante das direções partidárias de legendas que apoiam o direito de Lula de concorrer encaminharão representantes a Porto Alegre. ;A manifestação do PDT foi expressa na nota oficial que colocamos no site do partido. Não há razões para estarmos lá;, confirmou o presidente nacional do partido, Carlos Lupi. É o mesmo caso do Psol. O provável candidato do partido ao Planalto, Guilherme Boulos, deve participar dos atos a favor de Lula em Porto Alegre e em São Paulo. Mas, neste caso, estará presente como líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST). ;Não faria sentido mandarmos representantes para um ato se a nossa Executiva Nacional não deliberou oficialmente isso;, disse ao Correio o presidente nacional do partido, Juliano Medeiros.

Pautas concretas e instantâneas

Ele reconhece que as conversas com Boulos estão avançando, mas ainda não há nada conclusivo. ;É desejo majoritário do partido marcharmos juntos ao Planalto. Mas ele precisa conversar também com os integrantes do MTST, já que a dinâmica de um movimento social é totalmente diferente da de um partido político. Eles têm pautas mais concretas e instantâneas;, declarou Juliano.

Para um integrante da direção petista, o posicionamento adotado pelas demais legendas de esquerda mostra o grau de isolamento vivido pelo PT. Segundo esse cacique partidário, com as chances concretas de o ex-presidente ser condenado e ficar proibido de concorrer nas eleições de outubro, todos estão procurando novos caminhos. ;O PDT, independentemente do que acontecer, terá candidato. O PC do B, que sempre esteve conosco, lançou Manuela D;Ávila. O PSol já se divorciou de nós há tempos. Podem até prestar solidariedade. Mas ninguém quer meter a mão no buraco em que nos enfiamos;, completou o petista.

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