Politica

Haddad e Bolsonaro põem em prática as estratégias para o segundo turno

Os planos para a parte final do pleito começaram a ser colocados em prática. Bolsonaro seguirá com os ataques à corrupção petista, enquanto Haddad deve evitar visitas a Lula. Ambos contrariam aliados e afirmaram respeito à Constituição

Leonardo Cavalcanti, Rodolfo Costa
postado em 09/10/2018 06:00

Bolsonaro e Haddad Depois da noite maldormida, os presidenciáveis Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) começaram a colocar em prática os planos para o segundo turno. Enquanto o capitão reformado, de casa, no Rio de Janeiro, concedeu entrevista a uma rádio, o ex-prefeito de São Paulo pousou em Curitiba para visitar o petista Luiz Inácio Lula da Silva, preso na carceragem da Polícia Federal ; depois deu coletiva em hotel na capital paranaense. Dos dois lados, há ainda arranjos a serem feitos até a sexta-feira, início oficial da campanha no rádio e na televisão. À noite, em entrevista ao Jornal Nacional, ambos prometeram respeitar a Constituição, contrariando declarações feitas por aliados.

Antes, na quinta-feira, está programado o primeiro debate. Com ele, a primeira dúvida da campanha de Bolsonaro. Ausente dos últimos encontros do primeiro turno por recomendação médica, o confronto de ideias com Haddad não é, pelo menos segundo a campanha, algo que o presidenciável pretende se abster. ;Debater com o PT não tem dificuldade. O que o PT fez ao longo de 13 anos, acredito que está vivo na memória de todo mundo. Não queremos isso de volta. Eu represento, com quem está do meu lado, uma oposição;, afirmou ontem, em entrevista à Rádio Jovem Pan.

As participações de Bolsonaro dependem de avaliação médica. Entre hoje e amanhã, o presidenciável será submetido a análises da equipe que o acompanha desde a realização da segunda cirurgia. No domingo, quando foi votar, ele se queixou de um desconforto com a bolsa de colostomia na saída da seção eleitoral. O primeiro debate está marcado para a próxima quinta-feira, na TV Bandeirantes.


No caso de Haddad, a maior dificuldade é encontrar um discurso para buscar a diferença de votos substancial verificada no primeiro turno. A ideia da campanha é evitar novas visitas ao ex-presidente Lula, na tentativa de se deslocar da imagem do petista. ;Toda a transferência de votos possível já foi conquistada. Haddad precisa assumir a própria campanha agora;, disse um senador petista. Uma das medidas tomadas foi transferir a entrevista da porta da carceragem para um hotel, alterando o cenário da Superintendência da Polícia Federal ao fundo.

Em 18 minutos de coletiva de imprensa, citou o nome de Lula só uma vez. O petista ditou a tônica do que deve ser uma das estratégias: o embate com Bolsonaro. Declarou que as medidas reformistas propostas pelo adversário vão agravar a crise. ;Já não deu certo na Argentina e não vai fortalecer o poder de compra do trabalhador;, declarou. Criticou também a flexibilização do porte de armas, uma das bandeiras do rival.

Antipetista


A campanha de Bolsonaro pretende reforçar o capitão como antipetista no programa eleitoral, agora com o mesmo tempo do rival. Em parte, a estratégia será focada em desconstruir a imagem que os adversários atribuem a ele, de fascista, racista e misógino. O objetivo, segundo Bolsonaro, é tornar o clima mais calmo na campanha. ;O discurso é de união. Queremos unir o Brasil e pacificar;, destacou.

As munições do candidato, no entanto, não devem ser somente flores e diálogo. Bolsonaro declarou que não vai se transformar em ;Jairzinho paz e amor; para tentar abocanhar mais votos. Para o cientista político Antônio Flávio Testa, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que colaborou no programa de Bolsonaro, é uma clara sinalização de que parte da tática de campanha será voltada para atacar o PT. ;Assessores deverão sugerir concentrar os ataques nos escândalos de corrupção em que o partido está envolvido e reforçar a crise econômica e aumento do desemprego no governo (da ex-presidente) Dilma;, ponderou.

Os planos para a parte final do pleito começaram a ser colocados em prática. Bolsonaro seguirá com os ataques à corrupção petista, enquanto Haddad deve evitar visitas a Lula. Ambos contrariam aliados e afirmaram respeito à Constituição

O tempo na televisão será importante, mas não fundamental. Para Testa, as redes sociais seguirão como a mais importante ferramenta de Bolsonaro. Será na internet que a campanha buscará os votos de eleitores que escolheram adversários no primeiro turno, como Geraldo Alckmin (PSDB), João Amoêdo (Novo), Cabo Daciolo (Patriota), Henrique Meirelles (MDB) e Alvaro Dias (Podemos). ;Ele deve emplacar nas mídias sociais vídeos reforçando a visão de conservador nos costumes e liberal na economia;, avaliou.

Para o cientista político Carlos Melo, professor do Insper, o petista pode crescer se fizer uma mudança radical, a começar por se apropriar dos rumos e das decisões. ;O potencial de transferência Lula já acabou. Agora, é com o próprio Haddad;, disse Melo. A visita ao ex-presidente em Curitiba ontem era necessária, na visão do professor, ;do contrário diriam que ele é igual ao Doria;, em referência ao candidato ao governador de São Paulo, que se afastou do mentor político, Geraldo Alckmin. Agora, porém, ele deverá evitar visitas.

Tags

Os comentários não representam a opinião do jornal e são de responsabilidade do autor. As mensagens estão sujeitas a moderação prévia antes da publicação